quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sem vencedores

No próximo domingo, dia 11, será realizado no Pará o plebiscito para decidir a criação ou não dos Estados do Tapajós e Carajás. Por decisão do Tribunal Superior Eleitoral todos os 4.839.384 eleitores paraenses deverão votar, ao contrário do que ocorreu quando da criação dos Estados do Tocantins e Mato Grosso do Sul, ocasião em que só votaram os eleitores das regiões a serem desmembradas. A decisão do TSE, portanto, por um êrro dos seus ministros ou por uma ação deliberada, matou no nascedouro  a proposta de criação dos dois Estados, pois a esmagadora maioria do eleitorado paraense se concentra em Belém e arredores, onde o voto seria naturalmente contra. Prova disso é que as pesquisas indicam uma rejeição de mais de 60% à divisão territorial do Estado. E após a divulgação do resultado os "contra" certamente comemorarão, com estardalhaço, a vitória.  Mas que vitória?? Quem vencerá quem? Na verdade, não haverá vencedores, porque todos perderão. Os "contra", cuja vida não sofreria qualquer alteração mesmo que a divisão fosse aprovada, perderão a oportunidade de ajudar os irmãos isolados nos confins do Estado, e estes, por sua vez, perderão a oportunidade de melhoria da qualidade de vida  com a proximidade do centro do poder, que lhes propiciaria infra-estrutura, saneameno básico, saude, educação, emprego, etc. Isso ficou evidente no depoimento do jovem Anderson, paraense de Itaituba, em comentário no "Jornal do Brasil" On Line: "Os contra - ele disse - não sabem as reais dificuldades que passamos em busca de recursos para a educação, saúde, segurança e desenvolvimento. Com a divisão seria  mais fácil estruturar as áreas públicas de que necessitamos". Ele revelou que viaja mil quilômetros em estrada de terra para estudar na Universidade Federal do Pará em Marabá, porque no seu municipio não tem curso superior. Para quem  mora na capital e arredores, portanto, que tem tudo isso à disposição, é fácil ser contra. E à falta de uma justificativa convincente usam sofismas como:  o problema "é uma questão de gestão pública". E, mais grave ainda, estimulam o ódio contra quem deixou a sua terra e se radicou no Pará, aprofundou raizes, trabalhou, constituiu familia e ama a terra tanto quanto qualquer nativo. Ainda assim são acusados de forasteiros, embora o Estado tenha se desenvolvido também a custa do suor de muitos deles, que deixaram muitos descendentes. A título de ilustração, cito alguns: o acreano Jarbas Passariknho, o maranhense Antonio Lemos, o cearense Hélio Gueiros, o riograndense do norte Rodrigues Pinagé, também conhecido como "o príncipe dos poetas paraenses". Na verdade, a maioria do povo paraenses descende de brasileiros de outras plagas. E até de estrangeiros. Desse modo, soa no mínimo estranha, por exemplo, para não dizer imbecil, a atitude do deputado Zenaldo Coutinho ao dizer, no debate promovido pela Rádio Liberal/CBN, que "a maioria de vocês veio de fora". O mesmo êrro comete o governador Simão Jatene ao afirmar que os defensores da criação dos dois Estados "são vendedores de ilusão sem identidade com o Pará". Será possível que quem deixa a sua terra para  radicar-se no Pará, onde emprega seus recursos e a força do seu trabalho, gera filhos e netos, enterra seus mortos, não tem identidade com a terra?  E os nativos, que também querem a divisão? Ao rotulá-los como "separatistas" acabam criando uma perigosa divisão.  Rogo a Deus para que não haja nenhum incidente mais grave como consequência do ressentimento   entre irmãos,  estimulado por quem tem o dever de promover a paz e a fraternidade. Declarações irresponsáveis podem produzir efeitos dolorosos.

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