quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
Os desafios de Dilma
O ano de 2015 começa sob enorme expectativa quanto ao segundo mandato da presidenta Dilma Roussef. As perspectivas, porém, são positivas, considerando, entre outras coisas, a sua maturidade e experiência, sobretudo a serenidade e o equilíbrio com que enfrentou a ameaça de impeachment, além de conseguir imunizar-se de respingos da Operação Lava-Jato que, ao contrário do que esperavam a oposição e a mídia comprometida, em nada afetou a sua popularidade e a confiança do brasileiro em sua administração, conforme atestaram recentes pesquisas. Dilma, na verdade, até cresceu na avaliação da população, que pode não aprovar todos os seus atos mas não tem nenhuma dúvida quanto a sua honestidade.
A Presidenta reeleita, no entanto, terá pela frente pelo menos três grandes desafios em seu novo mandato: os projetos de reforma política, de regulação da comunicação e da mudança na Lei da Anistia. Ela precisará enfrentar não apenas a fúria da oposição, em especial do PSDB, que não se conforma com a derrota nas eleições de outubro último como, também, a campanha sistemática da chamada Grande Imprensa, que não tem lhe dado trégua desde o início do seu primeiro mandato e promete fogo mais intenso diante do temor de, com a nova lei, ter de responder pelos seus excessos. Agora um pouco mais distante da influência do ex-presidente Lula, segundo avaliação de observadores estribados no perfil do seu novo ministério, Dilma terá que exercitar toda a sua habilidade política e consolidar sua maioria no Congresso Nacional para garantir a aprovação das suas propostas.
O primeiro desafio a ser enfrentado, logo no inicio do seu segundo governo, será a eleição do novo presidente da Câmara Federal. O candidato do Planalto, deputado Arlindo Chinaglia, do PT, que já foi presidente da Casa, terá pela frente o deputado Eduardo Cunha, do PMDB, que adotou um comportamento oposicionista, mesmo integrando a base aliada, lançou-se candidato à revelia do governo e da direção do seu próprio partido e conseguiu o apoio da oposição. Aparentemente, a julgar por suas últimas declarações condenando qualquer tentativa de impeachment da Presidente, ele está buscando eliminar as restrições do governo à sua candidatura e atrair as suas simpatias, mas é difícil prever as suas atitudes depois de eleito, considerando a sua afinidade e proximidade com os oposicionistas. E se não quiser ter dificuldades na Câmara Dilma precisa de um presidente da sua confiança.
Ao mesmo tempo ela necessita, também, administrar o bombardeio da imprensa que, municiada pelos vazamentos seletivos da Operação Lava-Jato, faz pressão para a demissão de Graça Foster da presidência da Petrobrás. Com mais munição fornecida pela ex-gerente Venina da Fonseca, transformada em heroína em meio a grande exposição na televisão e nas páginas dos jornalões familiares, a mídia oposicionista insiste em desvalorizar e fragilizar a Petrobrás com a clara intenção de criar as condições indispensáveis à sua privatização, um velho sonho acalentado pelos tucanos desde o governo de Fernando Henrique Cardoso. O jornal “O Globo”, por exemplo, já escancarou a sua posição, defendendo em editorial a entrega do pré-sal, justamente o filé de nossas reservas petrolíferas, para empresas estrangeiras de exploração de petróleo. Acredita-se,no entanto, que enquanto o PT estiver no Planalto isso não acontecerá, mas já há quem tenha dúvidas diante do projeto de abrir a Caixa Econômica para o capital privado.
Os escândalos na Petrobrás, que oposição e mídia imaginavam ser o trunfo que faltava para apear Dilma do Planalto, não provocarão a queda da Presidenta mas serão de fundamental importância para produzir mudanças na legislação, de modo a permitir, mediante novos mecanismos, um combate mais eficaz à corrupção. E Dilma, que assegurou maior autonomia à Policia Federal para investigar e prender corruptos e corruptores, deverá ter um papel relevante na construção do novo Brasil que surgirá após a Operação Lava-Jato. Além disso, deverá ter mais cautela na indicação dos novos ministros do Supremo Tribunal Federal, para que não surjam outros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, que marcaram sua atuação mais como políticos do que como magistrados. Ninguém quer – e muito menos a Presidenta – ministros que, em suas sentenças, revelem gratidão mas apenas que sejam, efetivamente, justos e ajam realmente como magistrados.
A Presidenta, por outro lado, terá que mostrar firmeza em sua disposição de aprovar o projeto de regulação da mídia, de modo a que a liberdade de imprensa seja exercida com responsabilidade. Ninguém aprova qualquer tipo de censura – a própria Dilma, que sofreu na pele os efeitos danosos da suspensão da liberdade de expressão durante a ditadura, sempre defendeu uma imprensa livre – mas não se pode mais aceitar que reputações sejam destruídas impunemente em nome dessa liberdade, que não tem limites na manipulação de informações para atingir determinados objetivos políticos. A grande maioria do povo, aliás, já deu mostras de que não aceita esse tipo de imprensa e a prova mais evidente disso é a situação da revista “Veja” que, habituada a distorcer os fatos, vem perdendo credibilidade e leitores, o que a deixou agonizante. Os jornalões estão trilhando o mesmo caminho, razão porque os blogs cresceram de importância como alternativa de informação e a internet ganhou força.
A reforma política, uma exigência da própria população, vai obrigar a Presidenta a verdadeiras acrobacias para garantir a sua aprovação, já que o seu projeto de realizá-la através de plebiscito encontra resistência no Congresso, inclusive entre aliados como o senador Renan Calheiros, que defendem as mudanças mas com a participação direta do Parlamento. Existem ainda os que defendem uma Constituinte exclusiva para a reforma, o que dificulta o processo. Dilma terá de agir com muita habilidade para conseguir realizar, neste segundo mandato, as mudanças tão reivindicadas mas até hoje arrastando-se por diversos governos. Como essa reforma envolve diretamente os interesses dos parlamentares, ela precisará ter um bom relacionamento com o novo Congresso e superlativa capacidade de convencimento para assegurar o apoio da maioria nas duas casas legislativas.
A questão da mudança na Lei de Anistia, no entanto, deverá ser o maior desafio de Dilma em seu segundo mandato. Isto porque o trabalho da Comissão da Verdade tem desagradado a uma parcela dos militares, em especial a generais que participaram das ações repressivas da ditadura e que, citados nos depoimentos, correm o risco de sentar no banco dos réus, como aconteceu na Argentina. Embora os atuais comandantes militares tenham assegurado fidelidade à Presidenta, ninguém sabe até onde vai a influência na tropa dos generais de pijama. De qualquer modo, a questão deverá ser conduzida com habilidade para evitar novos problemas, até porque a imprensa que hoje não dá tréguas à Presidenta, chegando a estimular o seu impeachment, é a mesma que apoiou o golpe militar de 1964 e não se sabe como ela orientará o noticiário a respeito. Portanto, não custa lembrar: cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a alguém.
quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
Natal
Há pouco mais de dois mil anos nascia em Belém, na Judéia, o homem que mudaria os rumos da Humanidade: Jesus. Filho de um carpinteiro da Galiléia, ele viveu apenas 33 anos, mas foi o suficiente para plantar a sua doutrina de amor, o Evangelho, cujas primeiras sementes foram lançadas entre humildes pescadores às margens do lago Tiberíades. Com o seu Evangelho, Jesus pregou o amor ao próximo como o principal fundamento para a vida na Terra, ao mesmo tempo em que ensinou o perdão, a humildade, a indulgência, a paciência e a caridade como virtudes imprescindíveis para que os homens sejam verdadeiramente irmãos. Por tudo isso, o Natal, neste mês de dezembro, produz uma atmosfera de paz que envolve o planeta, torna as pessoas mais fraternas e inspira tréguas até nos conflitos entre os povos mais belicosos.
Infelizmente, porém, nem todos os homens se deixam invadir por esse sentimento de fraternidade que torna as pessoas mais sensíveis e predispostas a uma convivência mais amistosa. Muita gente, que encara a data do nascimento de Jesus como um dia igual aos outros, lamentavelmente não sente os eflúvios natalinos e permanece entrincheirado em sentimentos egoísticos, indiferente ao sofrimento dos irmãos menos favorecidos e mais preocupados com os seus próprios interesses. Nem mesmo a explosão de cores nas ruas, as reuniões de confraternização e as mensagens de paz conseguem sensibilizar os corações endurecidos, cujas vistas estão voltadas para o próprio umbigo. E alguns, consumidos pelo ódio, não se importam com as consequências danosas para o país de suas atitudes deletérias, convencidos, talvez, de que a vida se limita a este mundo. Recorde-se Jesus: “A cada um segundo as suas obras”.
O Brasil, um país jovem reconhecidamente pacífico e religioso, onde o cristianismo floresceu de maneira vertiginosa, abriga um povo forte, solidário e feliz – conforme atestam as pesquisas – que, após um breve período de dificuldades, amadureceu nas últimas décadas dentro de um regime democrático solidificado pela eleição de um torneiro mecânico para governá-lo. E cresceu no concerto das nações não apenas por suas políticas sociais que arrancaram muita gente da miséria mas, também, pelos programas educacionais que permitiram maior acesso do povo pobre às universidades e, ainda, por sua política externa de independência, impondo-se como potência emergente. Constata-se, no entanto, que ainda tem muita gente descontente, sobretudo entre aqueles que detém algum tipo de poder e, usando-o, atua no sentido contrário às aspirações da esmagadora maioria do povo brasileiro.
A corrupção, essa praga que ataca o mundo inteiro, tornou-se estandarte dos que tem seus interesses contrariados e almejam o poder, tentando alcançá-lo a qualquer preço, mesmo com o sacrifício da democracia tão duramente conquistada. Nunca se combateu tanto a corrupção como hoje, graças ao atual governo, que oferece as condições necessárias às investigações e prisão dos culpados. E, também, graças à garantia da liberdade de imprensa, nunca se divulgou tanto as denúncias e as ações destinadas a investigá-las. Infelizmente nem sempre a liberdade de expressão tem sido usada honesta e éticamente, com determinados veículos de comunicação esquecendo a missão de informar para assumir posições políticas, em prejuízo da imparcialidade da informação. E ampliam os escândalos para criar um clima de instabilidade no governo. Vale a pena lembrar a advertência de Jesus: “Os escândalos são necessários, mas ai de quem por onde venham os escândalos”.
Os oposicionistas retroagem no tempo e imaginam que fazer oposição é ser contra tudo o que procede do governo, pouco importando se as iniciativas governamentais atendem aos anseios do povo. Os eternos insatisfeitos, descontentes com tudo o que contraria as suas convicções ideológicas e seus interesses, reclamam até da cor do vestido da Presidenta. E investem contra a maior empresa estatal brasileira, a Petrobrás, por conta dos escândalos de corrupção, mesmo com os responsáveis sendo identificados e punidos. Se esforçam para desvalorizá-la, provocando a queda das suas ações, de modo a criar um ambiente favorável à sua entrega para o capital estrangeiro. São maus brasileiros que fingem indignação para justificar sua posição entreguista. Na verdade, se dependesse deles, o Brasil não seria um pais independente mas uma colônia, por exemplo, dos Estados Unidos.
Praza aos céus que os eflúvios do Natal, data maior da cristandade, possam penetrar nos corações endurecidos e o sentimento de fraternidade promova a paz tão desejada pelos brasileiros de boa vontade. É preciso ensarilhar as armas e, pelo menos neste período, esforçar-se para observar os ensinamentos do mestre Jesus, buscando a conciliação em favor do nosso país e do seu povo. Afinal, todos são responsáveis pelos destinos do Brasil e pelo bem-estar da população. Um pouco de amor no coração certamente fará um bem enorme, sobretudo àqueles que, sempre mau-humorados, imaginam que o Natal é tempo apenas de comer peru na ceia e receber presentes de Papai Noel. Lembrem-se, o Natal assinala o aniversário de nascimento de Jesus, aquele que pregou o amor até aos inimigos.
sábado, 20 de dezembro de 2014
Virou piada
O deputado Carlos Sampaio, do PSDB, perdeu o senso do ridículo e parece que não tem o que fazer na Câmara Federal: ele gasta o tempo bolando maneiras de atingir a presidenta Dilma Roussef, usando e abusando do direito de recorrer à Justiça. Desta vez, porém, ele se superou e se transformou em piada nas redes sociais: no momento da diplomação da Presidenta, no Tribunal Superior Eleitoral, Sampaio ingressou com uma nova ação pedindo que, ao invés de Dilma, o TSE diplomasse o candidato derrotado Aécio Neves como Presidente da República. Será que a derrota nas urnas em outubro passado afetou o miolo do principal escudeiro do candidato tucano?
Já se perdeu a conta de quantas ações ele moveu contra a Presidenta, sobretudo no período da campanha eleitoral, acreditando talvez que os magistrados estejam à sua disposição para apreciar seus arrazoados. Além de pedir à Justiça Eleitoral a diplomação de Aécio, o deputado Sampaio também entrou com outra ação pedindo a cassação do mandato de Dilma, desta vez alegando abuso do poder econômico. Alguém precisa dizer a esse moço que a Presidenta foi reeleita e, portanto, vai governar o país nos próximos quatro anos, porque essa é a vontade de mais de 54 milhões de brasileiros. E mais: se não se convencer disso ele vai acabar adoecendo. De raiva.
O mesmo parlamentar, que está se tornando uma figura folclórica no Congresso, também apresentou um relatório paralelo sobre os trabalhos da CPMI da Petrobrás, inconformado com o relatório oficial do relator Marco Maia. No seu relatório extra-oficial, que tem o principal objetivo de atingir a presidenta Dilma, Sampaio pede o indiciamento, entre outros, do ex-presidente do PSDB, Sergio Guerra. O parlamentar tucano, ao incluir o nome do ex-presidente do seu partido, tenta sugerir isenção mas, na verdade, acabou fazendo outra piada de muito mau gosto, pois todo mundo sabe que Guerra está morto. E morto não pode ser investigado ou indiciado. Sampaio, pelo visto, quer brincar com coisa séria.
O que o deputado tucano pretende, na verdade, com as ações e o relatório, é manter-se em evidência na mídia, com possível aspiração a vôos mais altos nas próximas eleições, porque ele sabe que suas investidas não terão as conseqüências que deseja. O negócio dele é fazer ruído, com a inestimável ajuda da imprensa oposicionista, que deu mais destaque ao seu relatório paralelo do que ao relatório oficial da CPMI. E enquanto ele tiver essa cobertura vai entulhando a Justiça de ações, sempre contra o governo, o que lhe garante um espaço cativo na mídia. Aécio que se cuide, pois hoje Sampaio tem mais evidência do que ele.
Enquanto isso Dilma amplia a sua aprovação pelo povo. Pesquisa Ibope/CNI, realizada neste inicio de dezembro – em pleno massacre midiático por conta da Operação Lava-Jato – revelou que ela subiu mais alguns pontos na aprovação popular, apesar de todo o bombardeio de que vem sendo alvo. A nova pesquisa demonstra que apesar do esforço, sobretudo na televisão, para enlamear a Presidenta e fragilizar o governo, a grande imprensa não consegue mais fazer a cabeça da maioria da população. As pessoas que pensam e não perderam a capacidade de raciocinar não se deixam mais influenciar pela grande mídia que, a cada dia que passa, vai perdendo credibilidade à medida em que os fatos a desmentem.
O exemplo mais recente foi o reconhecimento de que a construção do porto de Mariel, em Cuba, pelo governo brasileiro, com financiamento do BNDES, foi um golaço da presidenta Dilma. Com o reatamento das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba, anunciado pelos presidentes Barack Obama e Raul Castro, respectivamente, o porto de Mariel ganhou grande importância estratégica para o Brasil. Recorde-se que a construção desse porto foi um dos motes preferidos do então candidato Aécio Neves, com a ressonância da mídia, para criticar a candidata do PT durante a campanha, acusando-a de gastar lá fora um dinheiro que poderia ser investido aqui. Ocorre que o porto foi construído por uma empresa brasileira com a maior parte do material empregado fabricado em território nacional. E ele será de fundamental importância para as exportações brasileiras.
Considerando que o reatamento das relações entre Cuba e os Estados Unidos acabou confirmando o acerto da decisão da presidenta Dilma em construir o porto de Mariel, o que deixou mal os tucanos que a criticaram por isso, não será surpresa se o deputado Carlos Sampaio ingressar com uma ação na ONU para anular a decisão dos dois presidentes. Afinal, ele não consegue suportar nada que possa produzir efeito positivo para a Presidenta. E corre o risco de pirar.
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
Petrobras ameaçada
Com suas ações pautadas pela grande imprensa, que lhe dá cobertura, a oposição, depois de frustradas as expectativas quanto à rejeição das contas da campanha eleitoral da presidenta Dilma Roussef, voltou a assanhar-se com as denúncias da ex-gerente da Petrobrás, Venina da Fonseca, de que em 2009 alertara a presidente da empresa, Graça Foster, sobre irregularidades nas obras da refinaria Abreu Lima, em Pernambuco. E, contando com o indispensável eco na mídia, estriba-se agora nessas denúncias para clamar em coro pelo afastamento de Graça da Petrobrás, mesmo sem qualquer acusação contra ela.
Até o fim de semana ninguém sabia como e por que surgiram semelhantes denúncias, já que Venina não havia sido sequer citada nas investigações da Operação Lava-Jato. Soube-se que ela decidiu abrir o bico agora para vingar-se da diretoria da empresa, por ter sido demitida do cargo que ocupava em Cingapura, acusada como uma das responsáveis pelos problemas na refinaria de Pernambuco quando no cargo de gerente. Está explicado porque ela passou cinco anos de bico fechado, conivente com as ações de Paulo Roberto. Ao contrário do que ela afirma, no entanto, a diretoria da empresa abriu inquérito interno para investigar suas denuncias e acabou descobrindo suas falhas, que resultaram no aumento dos gastos com a obra.
O fato é que a imprensa e a oposição, que vivem procurando algurás ameaçadama coisa para atacar a presidenta e provocar a instabilidade do governo – o principal objetivo na verdade é a conquista do poder – encontraram nas denúncias de Venina mais um mote para manter aceso o fogo contra o Palácio do Planalto, de modo a não dar trégua a Dilma em seu segundo mandato, conforme, aliás, prometeu o tucano-chefe Aécio Neves. Ao mesmo tempo, busca-se de qualquer jeito atingir o ex-presidente Lula, tarefa que será intensificada à medida em que se aproximar o pleito presidencial de 2018, porque a meta deles é impedir que o torneiro mecânico volte a concorrer, desgastando-o de tal modo que a sua possível candidatura seja inviabilizada.
Não parece difícil perceber o plano habilmente arquitetado pelas chamadas forças ocultas para a tomada do poder. Na verdade, tudo indica a existência de dois planos: o Plano A e o Plano B. O Plano A consiste em explorar à exaustão, contando com a cumplicidade de alguns setores, todos os fatos negativos ao governo, sobretudo o filão da corrupção, de maneira a criar as condições ideais para o pedido de impeachment da Presidenta, contando com o indispensável apoio do Congresso para apeá-la do Planalto. Por isso os tucanos já estão negociando o apoio à candidatura do deputado Eduardo Cunha à presidência da Câmara, condicionando-o justamente à aceitação do encaminhamento do impeachment. O Plano B, executado simultaneamente, visa tirar Lula do páreo das eleições de 2018, de modo a facilitar a vitória do tucano, seja ele quem for, caso fracasse o Plano A. A reportagem do “Globo” sobre a suposta compra, pelo ex-presidente, de um triplex no Guarujá é apenas uma pequena amostra do que pretendem fazer até 2018. Paralelamente, imprensa e oposição trabalham de mãos dadas para desacreditar e desvalorizar a Petrobrás – ela já perdeu mais de R$ 100 bilhões em apenas três meses – tornando-a presa fácil para o capital estrangeiro, que há tempos está de olho nela e, consequentemente, em nossas riquezas do fundo do mar. Quando quebrou o monopólio do petróleo o ex-presidente FHC já preparava o caminho para a privatização da empresa, o que, felizmente, não conseguiu. Mas ainda não desistiram. O jornal “O Globo”, em editorial no domingo, deixou cair a máscara, confirmando as suspeitas de que o ataque diário à empresa tem por objetivo enfraquecê-la para permitir o avanço dos grupos estrangeiros em nossas reservas de petróleo, em especial no pré-sal, o que fazia parte do programa de governo de Aécio Neves, do PSDB. Diz o editorial:”Com ações e títulos desvalorizados a Petrobrás não conseguirá recursos facilmente nos mercados a fim de cumprir compromissos impostos pelo governo”.
Defendendo a abertura do pré-sal para as empresas estrangeiras, diz o “Globo” mais adiante: “O governo Lula instituiu o modelo de partilha de produção no pré-sal, tornando a Petrobrás operadora única desses blocos, e com uma participação de no mínimo 30% no consórcio investidor. Na Prática, ressuscitou o monopólio para essas áreas. Ambas as condições são inexequíveis para a realidade financeira e gerencial da Petrobrás”. E acrescenta: “Ainda que mantenha o modelo de partilha para o pré-sal, o governo terá então de rever a obrigação de a Petrobrás ser a operadora única dos futuros blocos e ter um limite mínimno de participação nos consórcios”. E conclui o editorial com uma acusação: “A conjuntura potencializa o estrago em curso provocado pelo esquema de corrupção montado pelo lulopetismo na estatal”. Incrível, mas os Marinho fingem não saber que são eles mesmos que estão potencializando os estragos na empresa.
Não se pode penalizar a Petrobrás, como instituição, pelo esquema de corrupção montado dentro dela desde o governo de Fernando Henrique Cardoso. Como ninguém tem letreiro na testa, o governo não poderia adivinhar que nomeava corruptos para sua diretoria. Os culpados, no entanto, graças ao governo Dilma, que deu autonomia à Policia Federal para investigar todas as denúncias de corrupção, estão sendo identificados e punidos. Para os grupos interessados no poder, porém, pouco importa a identificação ou o destino dos culpados, desde que atinjam os seus objetivos. Para eles vale tudo para a conquista do poder, até mesmo a entrega do nosso petróleo para grupos estrangeiros e a destruição, desvalorização ou venda da nossa mais importante empresa estatal.
Percebe-se, também, o esforço da mídia e da oposição em colar no PT e, por via de conseqüência, no governo de Dilma o selo da corrupção, como se antes dos governos petistas o país fosse um modelo de honestidade. Prova disso é que tentam, inclusive, manchar o nome da Força Aérea Brasileira com a nódoa de corrupta, conforme se constata do título das notícias sobre a denúncia de uma empresa americana, onde se diz que “a FAB foi subornada”. Na verdade, os subornados teriam sido alguns militares e funcionários civis da Aeronáutica e não a instituição. A FAB, como instituição, jamais será subornada. Para o pessoal interessado em arrancar Dilma do Planalto, no entanto, vale tudo para fragilizar o seu governo, até mesmo tentar atingir uma de nossas forças armadas.
O fato é que a presidenta Dilma e o PT não podem, após as recentes vitórias, baixar a guarda, pois os golpistas não dormem e todos os dias estão criando algum factóide novo para alimentar o fogo contra o Planalto. E contam com os pobres anencéfalos, inteiramente dominados pelo noticiário tendencioso, para fazer coro em manifestações de rua. Ainda bem que a maioria dos brasileiros não se deixa conduzir pela grande mídia, do contrário, considerando a campanha desmoralizadora realizada no período que antecedeu ao pleito, a presidenta Dilma não teria sido reeleita. O que significa que a imprensa oposicionista está se desacreditando por suas matérias tendenciosas, perdendo o poder de influência que desfrutava até antes de abandonar a sua missão de informar para transformar-se em partido político.
domingo, 14 de dezembro de 2014
Dois pesos e...
A Justiça Federal determinou o bloqueio de cerca de R$ 600 milhões de empresas acusadas de formação de cartel para fraudar licitações de trens em São Paulo, nos governos tucanos de Mario Covas, José Serra e Geraldo Alkmin. A Policia Federal, que investiga o cartel, tem o nome de todos os envolvidos, incluindo figuras de destaque do PSDB, mas a grande imprensa oposicionista, além de noticiar o fato com discrição, não cita o nome de ninguém. A televisão se limita a dizer que o esquema de propinas se desenvolveu de 1998 a 2008, nos governos controlados pelo PSDB, mas também não cita o nome de nenhum dos governadores. Quanta diferença com o noticiário sobre a Petrobrás!
Enquanto divulga discretamente a corrupção no metrô paulista, porque envolve tucanos de alta plumagem, a mesma imprensa escandaliza o noticiário sobre a Operação Lava-Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobrás. E com a denúncia da ex-gerente Venina Fonsêca, de que havia alertado a presidente da empresa, Graça Foster, sobre as irregularidades, a Petrobrás voltou a ocupar grandes espaços na mídia comprometida. A oposição, que havia se aquietado depois da aprovação das contas da campanha da presidenta Dilma Roussef, voltou a se assanhar, com as suas lideranças pedindo a demissão de Graça Foster. E até o senador tucano Álvaro Dias, que estava meio escondido após o surgimento do seu nome na Lava-Jato, deitou falação.
Mesmo se sentindo protegidos pela facciosidade da grande mídia, que divulga com parcimônia o escândalo da corrupção no metrô paulista sem citar o nome dos envolvidos, não deixa de ser surpreendente o comportamento dos tucanos quando se mostram indignados com os escândalos na Petrobrás a abrem fogo contra o governo. Fazendo-se de cegos, surdos e mudos quanto à corrupção nos trens de São Paulo, eles fingem que o seu partido não tem nada com isso e, cinicamente, se revezam em críticas ao governo e à empresa de petróleo. Resta saber se manterão essa postura quando forem divulgados os nomes dos políticos envolvidos com a corrupção na Petrobrás e, também, com o esquema de propinas no metrô paulista, porque o que se diz extra-oficialmente é que tem gente de todos os partidos mergulhado no problema até o pescoço.
Pisou na bola
Quem procura, acha. O deputado Jair Bolsonaro tanto aprontou, com sua arrogância e discursos virulentos e chulos, que acabou extrapolando e agora deverá ter seu mandato cassado. A covarde agressão verbal à deputada Maria do Rosário foi a gota dágua que faltava para transbordar a paciência dos seus colegas parlamentares, dos partidos políticos (com algumas exceções), das organizações de defesa dos direitos humanos e da sociedade brasileira. Representante dos mais radicais extremistas de direita, Bolsonaro que, no exercício do mandato de deputado federal, não contribuiu em nada na tarefa do Legislativo, deverá voltar para o lugar de onde nunca deveria ter saído: as sombras.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Coisas estranhas
Muita coisa estranha está acontecendo no Brasil. Basta uma rápida vista d’olhos no panorama brasileiro para perceber-se, entre outras coisas, uma imprensa que virou partido político de oposição e faz campanha diária e sistemática contra o governo; um ex-presidente que fez o pior governo da história deste país e hoje se propala o melhor e faz críticas ferozes ao atual; um candidato derrotado que se diz vitorioso e prega o golpe num governo legalmente constituído; um juiz que conduz um inquérito em “segredo de Justiça” mas permite os vazamentos seletivos dos depoimentos; um ministro do Supremo de visível coloração política sempre “sorteado” para julgar processos de interesse do partido da sua preferência; inocentes úteis pedindo a volta do regime militar; e um deputado da base aliada que desafia o governo e a direção do seu próprio partido para eleger-se presidente da Câmara.
Até um “manchetômetro” foi criado no Rio para caracterizar melhor a passionalidade dos jornalões que, por suas matérias tendenciosas, estão gradativamente perdendo credibilidade e, consequentemente, leitores, a exemplo da revista “Veja”, que hoje agoniza. Por sua vez, o ex-presidente Fernando Henrique, em seu mais recente artigo sob o título de “Vitória amarga”, depois de dizer que a presidenta Dilma Roussef não comemorou a sua reeleição devido ao seu sabor amargo, considerou o seu governo legal mas ilegítimo. Após afirmar mais uma vez que ela foi eleita não apenas pelos mais pobres mas, também, pelos dependentes, FHC disse que resta a ela “continuar fazendo mal feito o que nós faríamos de corpo e alma, portanto, melhor”. Realmente, ele fez melhor a compra de votos para aprovar a emenda da reeleição, o abafa das CPIs e engessamento da Policia Federal para que não investigassem a corrupção no seu governo e a dilapidação do patrimônio nacional, através das privatizações, entre outras coisas. E agora, sem condições de continuar mentindo, deixou de ser pai para proclamar-se “arauto” do Plano Real.
O juiz Sergio Moro, que preside as investigações da Operação Lava-Jato, é o novo Joaquim Barbosa, todo poderoso que faz o que bem entende na condução do processo dito “sigiloso” mas cujos depoimentos estão, seletivamente, todos os dias nas páginas dos jornais. E não permite que os delatores citem nomes de políticos para não ser obrigado a transferir o processo para o Supremo Tribunal Federal. No entanto, permite a citação do PT e mantém presas pessoas apontadas pelos delatores mesmo sem sentença. O jurista Miguel Reale Junior, em artigo sob o título de “A prisão como pressão”, condenou o comportamento do juiz Moro, dizendo que “transformar a prisão, sem culpa reconhecida na sentença, em instrumento de constrangimento para forçar a delação é uma proposta que repugna ao Estado de Direito”. E o CNJ e o STF, surpreendentemente, assistem impassíveis a tudo isso.
O senador Aécio Neves, ainda inconformado com a derrota nas urnas, convoca o povo para ir às ruas pedir o impeachment da presidenta Dilma Roussef. E apenas 2 mil pessoas, segundo estimativa da Policia Militar, participaram de uma manifestação sábado em São Paulo pedindo não apenas o impeachment mas, também, um golpe militar. Como não é bobo, o candidato derrotado não compareceu à manifestação que ele mesmo convocou, preferindo o Sol das praias de Santa Catarina. Além de otários, como o cantor Lobão, compareceram à manifestação inocentes úteis, que servem como massa da manobra pois não têm consciência do impeachment e suas conseqüências; aqueles que não viveram no período da ditadura e não tem a menor idéia do que ela representa; quem não tinha melhor programa para uma tarde de sábado e uns poucos aproveitadores, como o senador eleito José Serra. O povão mesmo preferiu a rua 25 de Março.
Estranhamente o ministro Gilmar Mendes, que não mais esconde o bico tucano, foi “sorteado” para julgar as contas da campanha eleitoral de Dilma Roussef, prometendo uma devassa, e a ação movida pelo PT contra o senador Aécio Neves, que classificou o partido de “organização criminosa”. E ninguém se surpreenda se ele rejeitar as contas da Presidenta e arquivar a ação contra Aécio. Também não será surpresa se forem “sorteadas” para ele as ações de eleitores que se julgaram ofendidos pela declaração do candidato derrotado. Gilmar, que parece ter herdado o papel de Joaquim Barbosa no Supremo, mantém ainda engavetado, há mais de seis meses, o processo que acaba com as doações de empresas privadas para campanhas eleitorais. Já aprovado pela maioria dos ministros, ele pediu vistas e sentou em cima, ignorando os apelos para que o devolva. E parece não existir força capaz de obrigá-lo a devolver o processo, de fundamental importância para o esforço no combate à corrupção.
Para completar o estranho panorama que se desenhou no país, o deputado Eduardo Cunha, do PMDB, se rebelou contra o seu partido e contra o governo e ameaça eleger-se presidente da Câmara Federal, contrariando a direção da agremiação partidária e o Palácio do Planalto. E a julgar pelas mais recentes notícias parece que o governo já estaria admitindo a derrota, buscando um acordo com o parlamentar que tem se revelado mais oposicionista que o pessoal da oposição. Se isso se confirmar será uma vergonha tanto para o governo como para a direção do PMDB, que se mostrarão sem forças e sem autoridade diante de um único deputado. E se ele efetivamente se eleger, obviamente com o apoio da oposição, a presidenta Dilma Roussef pode se preparar para enfrentar sérias dificuldades no Congresso Nacional. Cunha, que tem a mesma cara de corvo de Carlos Lacerda, embora não o mesmo talento, promete repetir a atuação oposicionista do histórico udenista.
Diante desse estranho e perigoso panorama, que revela ainda um PT apático e sem a mesma disposição de luta de outros tempos, aos brasileiros sérios, que amam este país, só resta a indignação de ver a imprensa pautando a oposição e lideranças inconseqüentes tentando incendiar o país, acreditando criar as condições necessárias para a tomada do poder. Na verdade, nem os jornalões e muito menos os oposicionistas, a começar pelo candidato derrotado Aécio Neves, estão preocupados com os interesses do país e do seu povo. A falsa indignação com os problemas na Petrobrás tem apenas o objetivo de enganar os trouxas, já que a corrupção na empresa vem desde o governo de Fernando Henrique. E só agora começa efetivamente a ser investigado com a consequente punição dos responsáveis. O que Aécio e companhia querem mesmo é o poder, não importa o preço que o país tenha de pagar.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
Roseana renuncía
O Maranhão tem novo governador desde quarta-feira última, dia 10: o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Arnaldo Melo, assumiu o governo para um mandato-tampão de 22 dias porque a governadora Roseana Sarney renunciou ao restinho do seu mandato. Não houve uma justificativa para a atitude de Roseana que, desse modo, não passará a faixa, no dia 1º de janeiro, ao governador eleito Flavio Dino. Há rumores, no entanto, de que ela pretenderia fixar residência em Miami, nos Estados Unidos, após praticamente 16 anos à frente do governo do Maranhão. O novo governador já nomeou os novos secretários.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
Todo cuidado é pouco
O movimento golpista, que havia se recolhido momentâneamente às sombras depois que os comandantes militares confirmaram a democracia no país, voltou a assanhar-se com a nova perspectiva de impeachment aberta pela atuação do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, que, na apreciação das contas da campanha eleitoral do PT, busca encontrar algo que possa ligar a presidenta Dilma Roussef à corrupção na Petrobrás, investigada pela Policia Federal na Operação Lava-Jato. Seu esforço é compartilhado pela imprensa tendenciosa, que vê na delação premiada e no julgamento das contas eleitorais petistas o trunfo que procurava para executar o seu projeto destinado a defenestrar a Presidenta do Planalto.
Ainda nesta quarta-feira os jornalões do Rio e São Paulo circularam com a mesma manchete: “Propina virou doação oficial ao PT, diz delator”. A noticia referia-se ao depoimento do executivo Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, da Toyo Setal, segundo o qual parte da propina paga ao ex-diretor Renato Duque, da Petrobrás, eram “doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores”. Dentro do seu procedimento faccioso rotineiro, os jornalões destacaram apenas o que interessava ao seu projeto golpista, escondendo informações do mesmo delator de que o PT não sabia da origem do dinheiro e que onze partidos receberam doações do mesmo tipo – onze partidos e não apenas o PT.
A imprensa comprometida com interesses que não os do país ampliou, neste final de ano, o fogo contra o Palácio do Planalto, contando para isso justamente com a munição fornecida pelos vazamentos seletivos da Operação Lava-Jato, que viraram rotina e passaram a ser encarados com naturalidade, embora debochadamente afirmem que o inquérito corre em “segredo de Justiça”. E, por mais incrível que possa parecer, até hoje não surgiu nenhuma iniciativa, por quem de direito, para coibir essa prática abusiva e punir os responsáveis, que prosseguem tranqüilos em sua contribuição para a execução do golpe contra um governo legalmente constituído. O Palácio do Planalto, ao que parece, subestima a capacidade golpista dessa gente.
Pautada por essa imprensa passional, que há tempos abandonou o seu papel de informar para transformar-se em partido político, a oposição vai fazendo a sua parte no Congresso Nacional, criando dificuldades para a votação das matérias de interesse do governo, inclusive levando baderneiros para as galerias. E o candidato derrotado nas eleições presidenciais, o senador Aécio Neves, depois da vergonhosa choradeira de menino mimado, resolveu mostrar-se durão e passou a agredir o governo com mais virulência, revelando-se completamente transtornado quando ocupa raivosamente a tribuna do Senado. O candidato que quis parecer bonzinho na campanha eleitoral mostra agora a sua verdadeira cara de mau, ainda inconformado com a derrota.
O fato é que só um cego não vê a armação que vem sendo montada, desde a divulgação do resultado das urnas, para impedir a presidenta Dilma Roussef de cumprir o seu segundo mandato. Mesmo sem nada que pudesse justificar semelhante iniciativa, o impeachment começou a ser falado no dia seguinte à eleição e passou a ser repetido como um mantra, na imprensa, nas ruas e no Congresso, de modo a que o povo se habituasse com a idéia. Faltava um motivo, o que agora pretendem forçar com o depoimento do executivo da Toyo e a atuação do ministro Gilmar Mendes no julgamento das contas do PT. Daí o assanhamento da mídia oposicionista e dos tucanos, que provavelmente imaginam atingir seus objetivos antes do inicio do novo mandato de Dilma.
Já está passando da hora, porém, do governo reagir no mesmo diapasão, usando os mecanismos legais de que dispõe e botando o seu bloco na rua para estancar esse movimento golpista que, orquestrado pelas forças da direita, revela tentáculos em todos os setores de atividades. Depois de tanto tempo o lacerdismo revela seguidores nas hostes oposicionistas atuais, onde Aécio tenta firmar-se como líder, com espaço assegurado na mídia que o apóia, na esperança de continuar candidato à Presidência da República. Ao contrário do que imagina, no entanto, com essa postura agressiva, destilando ódio pelos poros, vem perdendo eleitores para Geraldo Alkmin e José Serra. O povo não gosta desse tipo de política e, por isso, o governador paulista e o senador eleito, mais maduros e equilibrados, já começam a ocupar espaço com vistas ao pleito de 2018. A Aécio restará aprender a lição. De qualquer modo, o governo não deve perder de vista os descontentes, pois todo cuidado é pouco.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
Menino mimado
Decorridos mais de um mês das eleições de outubro, o senador Aécio Neves continua no palanque, inconformado com as derrotas para a Presidência da República e para o governo de Minas. E não perde uma oportunidade para agredir os vencedores e eleitores, comportando-se como um menino mimado que não aceita ser contrariado. Em recente entrevista ao jornalista Roberto D’Ávila, da Globonews, ele atribuiu sua derrota a uma “campanha sórdida”, afirmando que perdeu as eleições não para um partido político, mas para uma “organização criminosa”. Desta vez ele extrapolou, atingindo não apenas o PT mas, também, os seus eleitores.
Como conseqüência essa declaração infeliz, que reafirmou no dia seguinte garantindo que não retira uma única palavra, Aécio vai responder a uma enxurrada de processos na Justiça. Além do próprio PT, eleitores de todo o país, que se sentiram ofendidos, já manifestaram, nas redes sociais, a disposição de processá-lo criminalmente por difamação, calúnia e injúria, cobrando-lhe inclusive indenização por danos morais. Por conta desse excesso ele também mereceu críticas severas do jornalista Jânio de Freitas, sobretudo por continuar alimentando o clima de ódio que criou durante a campanha eleitoral. “É difícil admitir que Aécio Neves esteja consciente do papel que está exercendo”, disse o colunista da “Folha”.
A frustração do senador tucano com a derrota é tão grande que, além de comportar-se como se ainda estivesse no palanque, ele não mede as consequências das suas palavras no acirramento desse ódio inexplicável, que chegou a ser apontado na época pela colunista Laura Capriglione como causa do seu fracasso nas urnas. Ela advertiu que suas agressões a Dilma estavam “matando” a sua candidatura. E acentuou: “Os marqueteiros de Aécio já deviam saber que o ódio é um aliado mortal em eleições democráticas. É sórdido”. Aécio, no entanto, com o apoio da grande mídia, passou a atribuir ao PT as suas próprias atitudes.
Riquinho habituado a ter tudo o que desejou, desde a divulgação do resultado das urnas ele não consegue aceitar a derrota e, por isso, além da sistemática agressão aos vitoriosos, tenta convencer a si mesmo – e aos seus acólitos – de que, pelo fato de ter sido relativamente pequena a diferença de votos, foi o grande vencedor do pleito. Chegou, inclusive, a proclamar a teoria maluca de que “perdeu vencendo”, enquanto Dilma “venceu perdendo”. Difícil dizer se é caso de tratamento psicológico ou psiquiátrico.
Parecendo o garoto do buchão, que vive choramingando porque lhe tomaram o pirulito, o senador tucano revela, com esse comportamento, total falta de maturidade, incapaz de aceitar as regras do jogo democrático quando o resultado lhe é desfavorável. É a primeira vez, na história da democracia no Brasil, que um candidato derrotado nas urnas se recusa a aceitar o seu veredito, entregando-se a permanente choradeira. Já pensaram se todos os candidatos derrotados aos governos estaduais adotassem o mesmo comportamento? O país não conseguiria dormir com tanto chororô.
Com esse comportamento infantil o senador presidente do PSDB, além de estar perdendo o equilíbrio com seus inoportunos e virulentos ataques, está se isolando dentro do seu próprio partido, pois, afora o seu pequeno grupo de acólitos chorões, ele não tem recebido o apoio de outras lideranças tucanas, como dos governadores Geraldo Alkmin e Marconi Perillo e do senador eleito José Serra. Mais maduros e convencidos da legitimidade da vitória da candidata petista e da importância de um relacionamento formal e respeitoso com o poder central, os três preferem ficar distantes de Aécio, para não serem respingados pelo seu ódio inconcebível.
Talvez a maior dor de Aécio, no entanto, esteja relacionada com o futuro, porque ele provavelmente concluiu que a eleição deste ano pode ter sido a sua primeira e última oportunidade de chegar à Presidência da República. Isto porque em 2018 ele deverá enfrentar, dentro do seu próprio partido, dois fortes candidatos ao Palácio do Planalto – o governador Geraldo Alkmin e o senador José Serra – os quais, mesmo a contragosto, abriram mão da vaga este ano. E, também, caso consiga vencer a disputa interna no ninho tucano, deverá ter pela frente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja candidatura à sucessão da presidenta Dilma Roussef é considerada fava contada.
Na verdade, não apenas o candidato derrotado à Presidência se mostra revoltado com a vitória de Dilma. A mídia oposicionista também ainda não digeriu a reeleição da Presidenta. O jornal “O Globo”, por exemplo, em editorial logo após o pleito, sob o título de “A mensagem das urnas”, disse que a eleição presidencial deixou o país dividido entre “o que produz e paga impostos, que deseja o PT longe do Planalto, e o Brasil cuja população se beneficia dos lautos programas sociais, que não quer mudanças em Brasília por razões óbvias”. O jornalão carioca, que surpreende com semelhante interpretação preconceituosa do resultado das urnas, ainda debocha dos pobres ao classificar de “lautos”os programas sociais.
O fato, porém, é que a maioria do povo brasileiro decidiu manter a presidenta Dilma Roussef no Palácio do Planalto pelos próximos quatro anos. Afinal, o voto do pobre não é diferente do voto do rico, assim como a pequena diferença não tira a legitimidade da vitória. Diante disso, resta ao senador Aécio Neves deixar de ser infantil – até porque não fica bem semelhante atitude a um aspirante à Presidência da República – parar com a choradeira e as crises de revolta e aceitar democraticamente o resultado das urnas, preparando-se para tentar ser mais convincente – e menos agressivo – no pleito de 2018, caso até lá consiga manter-se candidato. Afinal, Alkmin e Serra estão aí mesmo...
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
Silenciados
A manifestação pedindo o impeachment da presidenta Dilma Roussef, realizada em São Paulo por um punhado de rola-bostas (aqueles que compartilham dejetos postados nas redes sociais), não teve nenhuma ressonância no seio da sociedade, caracterizando-se como um movimento isolado de alienados desligados da realidade democrática brasileira. O clima de golpismo, criado pelos derrotados nas últimas eleições presidenciais e estimulado por conhecidos colunistas da ultra-direita, desvaneceu-se diante da manifestação dos comandantes militares que, conscientes do papel das Forças Armadas na defesa da legalidade, confirmaram a democracia vigente no país e afirmaram que não existe nenhuma possibilidade de golpe.
Também contribuiu para o arrefecimento dos ânimos golpistas o desenvolvimento da Operação Lava-Jato, que revelou ter a corrupção na Petrobrás se iniciado no governo de Fernando Henrique e, inclusive, beneficiado políticos do ninho tucano. Tal revelação provocou o silêncio do “indignado” Aécio Neves e seus acólitos e, também, do próprio FHC, que se declarou contra a CPI. Para completar, por conta das preferências partidárias de delegados encarregados das investigações, dos vazamentos seletivos e do esforço do juiz Sérgio Moro em impedir a citação de políticos para não entregar ao STF o controle do inquérito, a operação perdeu, passado o impacto inicial, a credibilidade e a confiabilidade do povo brasileiro, que esperava um trabalho mais sério para por tudo em pratos limpos.
Por outro lado, a presidenta Dilma Roussef calou a oposição ao escolher a sua nova equipe econômica, incluindo nomes antes vistos como ligados ao candidato derrotado. O ex-governador tucano Alberto Goldman, um dos mais ferozes críticos do governo, revelando uma visão vesga do ato da Presidenta enxergou na escolha dos novos ministros uma vitória do senador mineiro, afirmando em artigo que Dilma presidirá a República “mas quem venceu a parada sobre a política que deve dirigir o país nos próximos anos foi Aécio Neves”. Dá pena ver-se semelhante interpretação, sobretudo partindo de um homem que, por seu histórico político, tinha a obrigação de ter equilíbrio e senso do ridículo. Primeiro porque o “ministro da Fazenda” de Aécio era o Armínio Fraga – e não o Levy – e segundo, porque Dilma, na verdade, revelou isenção política e grandeza de atitude ao mostrar-se mais preocupada com os interesses do país do que com os interesses partidários.
Outro fato que contribuiu bastante para o silêncio dos “indignados” tucanos, que agora se tornaram mais introspectivos, foi o artigo do empresário Ricardo Semler, publicado na “Folha de São Paulo”, no qual demonstrou que a corrupção hoje é bem menor do que a verificada antes dos governos petistas. Com o titulo de “Nunca se roubou tão pouco”, o empresário filiado ao PSDB revelou que desde 1970 a sua empresa, a Semco, deixou de vender equipamentos navais para a Petrobrás porque era impossível fazer negócios com a empresa sem pagar propinas. E acrescentou: “O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras".
Ricardo Semler, em seu artigo, revela ainda que
em anos anteriores a corrupção roubava 5% do Produto Interno Bruto do Brasil; esse índice caiu para 3,1% e agora é calculado em 0,8% do PIB. E pergunta: "Onde estavam os envergonhados (que fazem passeatas) nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão – cem vezes mais do que o caso Petrobras – pelos empresários?" O artigo teve grande repercussão, não apenas nos meios empresariais, mas, sobretudo, entre os tucanos, que tiveram de engolir em seco e sufocar aquela falsa indignação sobre as investigações da Operação Lava-Jato. O próprio Aécio Neves, que bradava sobre “o maior escândalo da história do país”, e o ex-presidente FHC, que se dizia “envergonhado”, tiveram de enfiar a viola no saco porque não tinham como contestar o empresário tucano.
Depois disso tudo, os oposicionistas mais radicais se limitam agora apenas a fazer barulho, como siris na lata, porque ficaram sem discurso. Até o senador Aloysio Nunes, vice de Aécio, ficou estranhamente mais cauteloso, evitando inclusive nova participação na última manifestação pela derrubada da Presidenta porque, apesar do pavio curto, percebeu que não há mais clima para isso. A esperança deles agora, pelo visto, é o ministro Gilmar Mendes, o tucano enrustido que examina as contas da campanha eleitoral do PT e que recentemente salvou a pele de outro tucano enrustido, o procurador Di Grandis, que estava sendo processado pelo Ministério Público por procrastinar, criminosamente, a apuração, solicitada pela Justiça suíça, das denúncias sobre propinas e cartel nos trens do metrô paulista.
Como o Congresso está entrando em recesso, silenciando por breve tempo as bocas de caçapa, e o país está entrando em clima de Natal tudo leva a crer que os brasileiros viverão um pequeno período de tranqüilidade até o início do próximo ano, quando os ânimos voltarão a se acirrar, dessa vez pelo comando das duas casas do Parlamento Nacional. Tomara que até lá o espírito natalino incorpore nos maus brasileiros que, da tribuna do Congresso ou das colunas dos jornais, se esforçam para incendiar o país, de modo a contribuir para que a paz possa reinar, mesmo que por pouco tempo, no coração de todos. Afinal, o Brasil é muito grande para ficar à mercê de pessoas que, encasteladas em mandatos, em posições de relêvo ou à frente de poderosos veículos de comunicação, estão mais preocupadas em defender os seus próprios interesses do que os interesses maiores do povo brasileiro.
Baderneiros
Um punhado de desocupados, arrebanhados pela oposição, ocupou as galerias do Congresso Nacional para tumultuar a votação da lei do superávit. O presidente do Parlamento, senador Renan Calheiros, agiu corretamente ao mandar expulsá-los, pois é inadmissível que baderneiros interfiram nos trabalhos do Legislativo. Será que esse pessoal não tem o que fazer? Na verdade, só vagabundos estão livres num dia de semana para sair de suas casas e fazer baderna no Congresso, inclusive agredindo parlamentares. Qualquer pessoa tem todo o direito de protestar contra o que considera errado, mas deve fazê-lo de modo pacífico, pois toda ação gera reação. Se o protesto fosse pacífico é evidente que o senador Renan Calheiros não teria solicitado a interferência da polícia.
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
Ducha fria
A manifestação dos comandantes militares, afirmando que o Brasil é uma democracia e, portanto, sem possibilidade de golpe, caiu como uma ducha de água fria no entusiasmo de colunistas como Arnaldo Jabor, Merval Melo e Rodrigo Constantino, além de alguns políticos da oposição, que vinham pregando a derrubada da presidenta Dilma Roussef. “Os militares estão totalmente inseridos na democracia e não vão voltar. Isso eu garanto”, disse o almirante Julio Soares de Moura Neto, comandante da Marinha, à jornalista Mônica Bérgamo, da “Folha de São Paulo”. Sua posição foi endossada pelo comandante do Exército, general Enzo Peri, e pelo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Junito Saito.
Com essa manifestação os golpistas ficaram frustrados e os ânimos, ampliados antes pela grande mídia – o “Estadão” chegou, em editorial, a pedir o impeachment da Presidenta – arrefeceram, inclusive no Congresso Nacional, onde alguns oposicionistas, liderados pelo candidato derrotado Aécio Neves, já consideravam como favas contadas a saída de Dilma do Palácio do Planalto. De repente, como num passe de mágica, vozes antes inflamadas silenciaram. Também contribuiu para essa calmaria os novos depoimentos da deleção premiada do Lava-Jato, que começaram a incluir entre os beneficiários das propinas políticos com mandato também do PSDB. E alguns parlamentares que apontavam o dedo sujo para os outros os recolheram de imediato.
Os vazamentos do inquérito, dito sigiloso, viraram mesmo rotina e os veículos de comunicação divulgam documentos, gravações e imagens, como se esse procedimento fosse normal, selecionando os trechos que atendem a seus interesses políticos e econômicos. E ninguém faz nada, encarando esses vazamentos como naturais. Até quando?
Complexo
Todas as vezes que perde no voto, a oposição no Congresso Nacional recorre ao Supremo Tribunal Federal, como se este fosse o poder maior do país. Primeiro foi o PSDB, através do deputado Carlos Sampaio, que entrou com ação no STF contra a aprovação, pela Comissão Mista do Orçamento, do projeto do governo que altera a LDO para aumentar o abatimento da meta de superávit para este ano. Agora foi a vez dos demais partidos que formam a oposição. A iniciativa dos oposicionistas confirma a suspeita de que os próprios parlamentares se sentem inferiorizados diante do Judiciário, embora a Constituição Federal estabeleça que os poderes “são independentes e harmônicos entre si”. Certamente por isso, volta e meia um único ministro do Supremo, com apenas uma canetada, derruba decisões do Congresso Nacional. Diante disso, talvez fosse mais prático – e mais econômico para os cofres da nação – que se extinguisse o Legislativo e se deixasse ao Judiciário a tarefa de legislar. Se evitaria todo esse barulho dos parlamentares em torno de qualquer coisa que contraríe os seus interesses, porque, na verdade, eles estão mais preocupados consigo mesmos do que com os interesses da nação.
domingo, 23 de novembro de 2014
Último quintal
O confrade Francisco Sidou mandou-me, com pedido de publicação, a seguinte crônica:
"Li, certa feita, em alguma biblioteca pública, quando estudante, um livrinho delicioso intitulado "A cultura dos quintais". Já procurei na internet e não consegui localizar nem o título do livro, nem seu autor. O Alfredo Garcia, poeta e escritor paraense (dos bons), tem uma obra nesse gênero, salvo engano. Talvez ele possa ajudar os leitores do Espaço Aberto dando uma "canja", pois não ?
Pois bem. A leitura daquele livrinho me foi de grande valia na juventude. Aprendi, por exemplo, que as crianças que brincam (brincavam...) no quintal são mais alegres e saudáveis. O contato com a natureza lhes faz tão bem que elas se tornam adultos mais cordiais, inteligentes e sensíveis. Tive essa valiosa experiência na infância. Nossa casa no interior (Eirunepé-AM) tinha um quintal que era um verdadeiro pomar e ainda dava para o belo Rio Juruá , onde havia um porto de pequeno porte com um trampolim, no estilo "toboagua" de hoje, onde a garotada se divertia a valer, pulando e saltando naquela imensa piscina natural. Era uma festa no interior.
Meu pai (Luiz Sidou) era um ecologista nato, numa época em que ainda não se falava em ecologia. Não tinha instrução acadêmica, mas possuía grande sensibilidade e respeito no trato com a natureza, pois havia tirado o sustento da família trabalhando, como seringueiro, nas brenhas do Rio Tarauacá, durante os verdes anos de sua juventude. Ele costumava dizer que o homem insensato é aquele que destrói a fonte de seu próprio sustento. Alguém tem alguma dúvida disso nos "tempos modernos", em que o desmatamento feroz ameaça transformar a Amazônia em imenso deserto?
Essas recordações me veem à mente depois de ler na coluna "Tutti Qui", em O LIBERAL, que o último quintal de Belém brevemente vai virar mais uma "torre de marfim", aliás, desculpem, de tijolo, cimento, ferro, vidro e aço... O Palacete Faciola, na Almirante Barroso, é o "último dos moicanos". O imóvel ocupava imensa área verde, incluindo o enorme quintal, um verdadeiro sítio dentro da cidade. Foi desapropriado pela Prefeitura de Belém, na gestão do Edmilson, que ali pretendia construir um asilo para doentes mentais... Quem sabe não seria o caso de "internar" ali os autores dessa insana transação imobiliária!
Derrubaram toda a imensa área verde para erguerem mais três torres tórridas. De torre em torre, a cidade vai crescendo verticalmente, em ritmo frenético, com a construção desvairada de novas muralhas de cimento e aço, que estão "matando" os pulmões da cidade.
Até quando iremos assistir, impassíveis, à destruição da vida na cidade, que vai se transformando em imensa ilha de calor? Um dos últimos "sítios" de Belém, também destruído sem dó nem piedade, foi o da casa que pertenceu à professora Anunciada Chaves, que se orgulhava de receber os amigos e alunos em seu belo quintal, na Rui Barbosa com Boaventura, em memoráveis tertúlias literárias, onde se respirava oxigênio, inteligência e cultura. Sabem o que surgiu em seu lugar ? Um prédio de seis andares que abriga hoje a sede da Associação dos Defensores Públicos Federais. Pasmem, os defensores federais não conseguiram evitar aquele crime ambiental e até desfrutam hoje de uma sede construída sobre os destroços daquele que foi um dos mais belos quintais de Belém... Pobre Belém !
Outro "sítio" dentro da cidade, também destruído pelas picaretas da insensibilidade, foi o antigo Palacete Chermont, na Governador José Malcher com Almirante Wandenkok.
Também tinha um belo quintal, cheio de árvores frutíferas. Lembro que escrevi, na época, um artigo inflamado em O LIBERAL, clamando ao Ministério Público do Meio Ambiente (?) que fizesse "alguma coisa" para evitar mais esse crime ambiental contra Belém. Não houve retorno. Também pudera... Era julho em Belém. A cidade estava vazia. Clima favorável à prática de delitos com a tranquilidade dos que têm certeza de que ficarão impunes. Os "fiscais da Lei" também vão à praia, em merecidas e dobradas férias...
No caso do Palacete Chermont, o crime foi anunciado. Nas caladas da noite, alguns "agentes", empunhando picaretas, derrubavam as paredes do velho prédio para evitar que ele fosse "tombado". Na verdade, acabou tombando, levando não só mais um pedaço do verde, mas também as esperanças daqueles que ainda acreditavam em alguma providência das "autoridades ditas competentes"...
E assim a cidade vai "crescendo". De torre em torre, Belém vai ficando totalmente "asfixiada", porque o vento que vem da natureza exuberante que a rodeia vai sendo aos poucos impedido de entrar na cidade pelas "muralhas" erguidas pela ambição desvairada e pela insensibilidade abissal dos empreiteiros, incorporadores e vendedores de sonhos consumistas, que acabam destruindo as "pontes" com a natureza e a vida.
Parodiando o livro famoso "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway, diria que os sinos também dobram pelos insensatos filhos de Belém que, em nome de um falso progresso, estão destruindo, junto com as áreas verdes, a bela cidade em que vivemos e amamos.
Ai de ti, Belém, se não reagires a tempo de evitar o pior, ou seja, que todos os teus filhos acabem sendo devorados pelo calor insuportável e pela omissão dos que podem fazer alguma coisa para evitar essa tragédia anunciada e se refugiam em suas ilusórias "ilhas de conforto"... Até quando ?"
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
Vergonha
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que recentemente se disse envergonhado com as denúncias de corrupção na Petrobrás, parece não ter sentido a mesma vergonha com as denúncias de corrupção no seu governo. Suas bochechas sequer coraram quando, usando a sua maioria no Congresso Nacional, sufocou as CPIs destinadas a apurar as denúncias, inclusive sobre a compra de votos para aprovação da emenda da reeleição. A manchete da “Folha de São Paulo”, de 20 de maio de 1997, diz tudo:”Governo faz blitz para barrar CPI”.
Consultando-se o registro na imprensa dos oito anos do governo FHC constata-se um estarrecedor volume de corrupção que a mídia, por mais se esforçasse, não conseguiu esconder. Entre outros um rombo de R$ 2 bilhões na Sudam; desvio de R$ 1 bilhão e 400 milhões da Sudene; escândalos Marka-FonteCindam, Sivam e Proer; desvio de R$ 4 milhões e 500 mil do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador); denúncias de caixa dois nas campanhas presidenciais de 1994 e 1998, etc. Provocado a comparar os governos FHC e Lula, o senador Roberto Requião disse: “A gente nem precisa de um roubômetro para avaliar isso. O Fernando Henrique com a privataria roubou 10 mil vezes mais do que qualquer possibilidade de desvio do governo Lula”.
A fúria privatizacionista do governo FHC, que incluiu a Vale do Rio Doce, uma das maiores mineradoras do mundo, pretendia alcançar a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, o que não aconteceu porque Lula foi eleito e impediu que o Brasil fosse inteiramente leiloado. Antes de deixar o Planalto, no entanto, FHC deu partida ao processo de privatização da Petrobrás, quebrando o monopólio de exploração e refino do petróleo através da lei 9.478, que revogou a lei 2.004 sancionada por Getulio Vargas, que criou a empresa; demitindo cerca de 40% dos seus funcionários e tentando mudar o seu nome para Petrobrax, que soava melhor aos ouvidos dos investidores estrangeiros e possíveis compradores.
Além disso, no período de 1999 a 2001, sob a gestão de Reichstul, houve uma série de acidentes graves – 62 no total, incluindo o naufrágio da Plataforma P-36 e vazamentos de óleo no Rio de Janeiro e no Paraná– provocando suspeitas de sabotagem. Na época, o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás, Fernando Leite Siqueira, disse que na sua opinião esses acidentes “tinham a função de jogar a empresa contra a opinião pública para justificar a sua desnacionalização”. Comparando o tratamento dado à empresa pela ditadura e pelo governo FHC, o presidente da Aepet afirmou que os militares foram melhores: “O governo militar teve erros crassos na área de direitos humanos, mas eram nacionalistas. O Geisel foi presidente da Petrobrás e deu todo apoio à empresa”.
Na verdade, eles ainda não desistiram de entregar a Petrobrás ao capital estrangeiro, seguindo o pensamento de Fernando Henrique exposto na época no livro “Dependência e Desenvolvimento da América Latina”, onde defendeu a tese de que países em desenvolvimento ou atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de países ricos, como os Estados Unidos. A campanha criminosa que se desencadeou contra a Petrobrás, usando como pretexto as denúncias de corrupção investigadas pela Policia Federal – como se a empresa tivesse culpa disso – tem o objetivo de desvalorizá-la, facilitando a sua desnacionalização, pois os grandes grupos econômicos internacionais há tempos estão de olho nela. Prova disso é que as ações da maior empresa estatal brasileira, com mais de 80 mil funcionários e dando lucros com a continuidade de suas operações normais, vem caindo nas bolsas de valores, especialmente no Brasil e Nova York.
Segundo o Ministério Público, o esquema de corrupção na Petrobrás não é de agora, mas funciona há mais de 15 anos, ou seja, desde o governo de Fernando Henrique.“Muito embora não seja possível dimensionar o valor total do dano – disse o MP – é possível afirmar que o esquema criminoso atuava há pelo menos 15 anos na Petrobrás”. Essa notícia foi publicada terça-feira última, meio escondida, pelo jornal “O Estado de São Paulo”. Agora, no entanto, esse velho esquema está sendo investigado, graças ao governo da presidenta Dilma Roussef, que está dando todo apoio ao trabalho da Policia Federal. Na verdade, todo o povo brasileiro está apoiando as investigações, considerando a necessidade de por tudo em pratos limpos e punir os responsáveis.
Ao ser eleito em 1994 o sociólogo Fernando Henrique chegou a proclamar que a sua missão era “por fim à era Vargas”, justamente a era em que foram criadas as maiores empresas estatais brasileiras. Vale a pena transcrever, a propósito, um trecho da carta-testamento de Vargas, deixada no seu leito de morte:”A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente”.
O candidato tucano Aécio Neves pretendia dar continuidade à política entreguista de Fernando Henrique, seu guru, e o mais claro sinal disso foi a escolha de Arminio Fraga para seu Ministro da Fazenda, caso eleito. Fraga, que tem dupla cidadania (brasileira e americana) e antes de ser presidente do Banco Central no Governo FHC foi diretor-gerente do Soros Fund, do mega especulador George Soros, em Wall Street, falando na época a banqueiros e empresários em Nova York, além de criticar severamente o então governador mineiro Itamar Franco, por ter se rebelado contra as medidas entreguistas de FHC, aconselhou os investidores a não investirem em Minas Gerais. Foi justamente esse homem, que trabalhou contra os interesses de Minas, que o mineiro Aécio queria no seu Ministério da Fazenda. Ainda bem, para o Brasil e, em especial, para Minas, que ele não foi eleito.
Todas essas informações estão no livro “O príncipe da privataria”, do jornalista Palmério Dória, que, por motivos óbvios, não tem lugar na livraria da “Folha”. O editor Luiz Fernando Emediato, na apresentação do livro, diz que quando terminou a sua leitura, “em certo momento estupidificados, seremos obrigados a nos perguntar: onde estava, no reinado dos tucanos, o Ministério Público, o Procurador Geral da República, os Joaquim Barbosa daquele tempo? O chamado “mensalão” – tenha existido ou não – parece coisa de amadores diante do profissionalismo de empresários, burocratas e políticos daquele tempo. Nenhuma CPI. Nenhuma investigação que chegasse ao fim. Nenhuma denúncia capaz de levar a um processo e a uma condenação!”
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
Cheiro de golpe
É surpreendente a capacidade de distorção dos fatos, pela grande mídia, para tentar desqualificar as ações do governo. A ordem do ministro da Justiça para investigar os delegados da Operação Lava-Jato não teve como causa a crítica que eles fizeram à presidenta Dilma Roussef e ao ex-presidente Lula ou à sua preferência pela candidatura de Aécio Neves, mas à suspeita de que foram eles os responsáveis pelo vazamento seletivo dos depoimentos sigilosos da delação premiada, com o objetivo de beneficiar o seu candidato à Presidência da República. Como servidores públicos, eles não podiam usar informações privilegiadas para atender suas preferências político-partidárias.
Tenta-se agora, criminosamente, atribuir a decisão do ministro a uma tentativa do governo de abafar a Operação Lava-Jato, impedindo o prosseguimento das investigações sobre as denúncias de propinas na Petrobrás. E muita gente nas redes sociais, por falta do uso do cérebro, acreditou nessa versão. Ora, basta um mínimo de raciocínio para saber que a Policia Federal é um órgão do governo, subordinado ao Ministério da Justiça, e, portanto, só está realizando seu trabalho sem qualquer restrição porque o governo lhe deu autonomia e quer tudo apurado para punir os responsáveis. Se o governo pretendesse impedir as investigações já o teria feito no início do inquérito, a exemplo do ex-presidente Fernando Henrique, que nunca deixou que as denúncias de corrupção no seu governo fossem investigadas.
O candidato derrotado à Presidência, Aécio Neves, no entanto, na mesma linha da mídia, divulgou nota no sábado, na qualidade de presidente do PSDB, reiterando “a posição de defesa intransigente da rigorosa apuração do maior escândalo de corrupção da história do país, através da Operação Lava-Jato”. Confirmando a sua esperteza, ele tenta convencer os desavisados de que é o seu partido que quer a apuração dos fatos. Ora, todo mundo sabe que todo o povo brasileiro – e não apenas os tucanos – quer que as denúncias sejam apuradas e os responsáveis punidos. E o governo federal também. A presidenta Dilma Roussef declarou de Brisbane, na Austrália, onde foi participar da reunião do G-20, que “não ficará pedra sobre pedra” nessas investigações. E lembrou: “É o primeiro escândalo de nossa história que é investigado”.
O esperto Aécio continuou em sua nota, com seus conhecidos sofismas, dizendo que ”o PSDB lamenta que neste momento o Governo Federal, através de suas autoridades, insista em tentar dar um tratamento político a um caso que é, eminentemente, de polícia”. É muita desfaçatez. Foi justamente ele que desde o início politizou as investigações, com a decisiva ajuda da mídia, usando os vazamentos seletivos como arma eleitoral para tentar mudar o voto dos eleitores. E agora tenta usar as mesmas investigações como justificativa para um impeachment da Presidenta, ao afirmar que “tão importante quanto responsabilizar os diretores da Petrobrás (...) é identificar e punir os agentes públicos que permitiram o irresponsável aparelhamento da companhia e criaram as condições necessárias para a expropriação de recursos públicos, para dele se beneficiarem direta ou indiretamente”.
Depois do editorial de domingo do jornal “O Estado de São Paulo”, sob o título de “Crime de responsabilidade”, na mesma linha de argumentação usada pelo senador tucano, ninguém mais tem dúvidas de que o golpe está em andamento, numa ação articulada que envolve figuras de vários setores. Após afirmar que Lula sabia e que Dilma participou dos fatos sob investigação, o “Estadão” propõe que “devem todos os envolvidos no escândalo pagar pelo que fizeram – ou não fizeram”. É preciso ser mais claro? O poeta Ferreira Gullar também embarcou nessa, por ingenuidade ou senilidade, igualmente propondo o impeachment de Dilma ao dizer que “não se trata de buscar soluções antidemocráticas mas, sim, mudar para preservar a democracia”. Será que existe alguém tão imbecil – ou ingênuo – para acreditar que derrubando um governo legítimo, sem nenhum respaldo constitucional, estará exercitando a democracia?
O fato é que já se percebe claramente um clima de golpe no país, com a orquestração de manifestações de rua, declarações de políticos e editoriais da imprensa comprometida sinalizando o próximo passo para tentar arrancar Dilma do Palácio do Planalto. Cinicamente invoca-se a democracia para afrontar a vontade dos 54 milhões de brasileiros que a reelegeram. E a Presidenta, talvez sem atentar ainda para a dimensão perigosa da conspiração, disse da Austrália que “o Brasil tem uma situação democrática consolidada e, por isso, faz parte da nossa história tolerar as manifestações, mesmo as mais extremas”. Ela está subestimando o poder da extrema direita, que tem hoje como principal expoente no Brasil o candidato derrotado Aécio Neves. E se não mobilizar urgentemente as suas forças, botando o povo nas ruas para defender o seu mandato, vai correr o sério risco de não emplacar o segundo governo.
Aécio Neves não se conforma com o resultado das eleições e sonha conquistar o poder, de qualquer maneira, para leiloar o resto do Brasil, tarefa iniciada por FHC durante o seu governo. A privatização da Petrobrás, que o ex-presidente tucano não conseguiu porque estava em final de mandato, é a principal meta a ser alcançada. Não foi por acaso que ele quebrou o monopólio do petróleo e dividiu a Petrobrás em subsidiárias. E não é por acaso que se procura hoje desvalorizar a maior empresa estatal brasileira, usando-se as denúncias de corrupção como pretexto para justificar a sua desestatização. Vale a pena lembrar o que disse o jornalista Mauro Santayana no livro “O Príncipe da Privataria”, do jornalista Palmério Dória: “O que temos de ficar atentos é que FHC não é só FHC. Ele é todo um grupo, um conjunto de interesses contra a nação brasileira”. Não é por acaso, portanto, que Aécio o tirou do sarcófago para transformá-lo em seu guru.
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Discriminação
Do aposentado Cândido Leal Messias, do Banco da Amazônia, recebo a seguinte nota, que subscrevo integralmente:
"Quando os bancos promovem seu marketing em cima de produtos e serviços para clientes não costumam separá-los por classes. Até porque, como diz um brocardo popular - "dinheiro não tem pátria nem cor". E os bancos lucram cada vez mais emprestando dinheiro para os seus clientes, em "suaves" prestações mensais. Há casos em que o cliente também sai satisfeito porque pode dispor de um S.O.S básico para despesas emergenciais, pagar dívidas, etc.
Mas no Banco da Amazônia está ocorrendo uma situação inusitada: eles anunciam no painel dos caixas eletrônicas a antecipação do 13º salário para clientes, mas não especificam se há alguma exceção. Quando, porém, o aposentado do Basa/Capaf vai solicitar esse produto ouve uma resposta curta e grossa do gerente: "infelizmente o sistema não liberou essa opção de crédito para aposentados."
Não adianta argumentar que os clientes de um banco, em princípio, deveriam ter os mesmos direitos desde que cumpram com suas obrigações. Não adianta também invocar o Estatuto do Idoso, que prescreve com todas as letras "que o idoso não deve ser submetido a maus tratos ou tratamento discriminatório". O sistema não costuma se sensibilizar com essas filigranas de ordem legal. A diretoria do Banco da Amazônia, em tese composta de representantes do Partido dos Trabalhadores (PT) continua tratando os aposentados da CAPAF com sucessivas retaliações devido a não terem aderido em peso aos Planos Saldados da CAPAF, que suprimia direitos e atropelava sonhos de uma vida mais digna na velhice. A antecipação da primeira parcela do 13º, consagrada pelos usos e costumes por mais de 40 anos, também foi suspensa para aposentados desde a intervenção na CAPAF, decretada em 2011. Diferenças do reajuste salarial de setembro também não são pagos aos aposentados na data paga aos funcionários da ativa, numa escandalosa discriminação.
Enquanto isso, a Ação impetrada pela AABA para garantir os direitos de aposentados e pensionistas já foi vitoriosa em todas as instâncias da Justiça Trabalhista, até no TST, mas a PREVIC (órgão do governo federal que supervisiona os Fundos e Pensão) já anunciou a disposição do governo em remetê-la "aos costumes" , ou seja, insistir em recursos meramente protelatórios ao STF para ver se lá ela possa ser esquecida nos porões com milhões de outros processos até que todos os aposentados e pensionistas possam morrer e com eles sua esperança e seus sonhos.
Será que o senador Paulo Rocha, que honrando suas origens como trabalhador gráfico, sempre defendeu o lado dos trabalhadores, inclusive como atuante dirigente sindical e fundador da CUT - não pode se interessar pela causa dos aposentados do Banco da Amazônia, que estão sendo massacrados pela diretoria indicada pelo Partido dos Trabalhadores, através de mesquinhas
atitudes de retaliação e vingança ?
Posso garantir que foram muitos os aposentados do Basa que votaram em Paulo Rocha. Bem que ele agora poderia dar uma "forcinha" aos velhinhos do Basa, rechaçando essa postura autocrática da atual diretoria do Banco da Amazônia e conseguindo , através de negociações em Brasília, que a PREVIC desista dessa postura arrogante e boçal de recorrer de causas perdidas, apenas aumentando o passivo trabalhista a ser um dia liquidado de qualquer maneira , com maiores prejuízos para o governo federal e para o Basa".
domingo, 16 de novembro de 2014
Conspiração
Será que somente o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não suspeitava de onde saíam os vazamentos seletivos da Operação Lava-Jato, que alimentaram a imprensa durante a campanha eleitoral com o objetivo de influenciar o resultado do pleito? Qualquer pessoa de inteligência mediana concluiria que as informações só poderiam sair de alguém presente nos depoimentos dos premiados pela delação, tidos como sigilosos, mas nunca houve qualquer providência dos chefes das investigações, incluindo o juiz, para identificar e punir o responsável ou, pelo menos, impedir os rotineiros vazamentos. Era o óbvio ululante. E a complacência assumiu contornos de conivência.
Foi preciso que o jornal “O Estado de São Paulo”, na última quinta-feira, denunciasse o comportamento político dos delegados federais responsáveis pela operação, xingando a presidenta Dilma Roussef e o ex-presidente Lula e fazendo a propaganda de Aécio Neves nas redes sociais, para que o ministro determinasse uma investigação à Corregedoria Geral da Policia Federal. “Não podemos admitir a partidarização de nenhuma investigação”, ele disse, acrescentando: “A manifestação é livre, mas um delegado não pode conduzir uma investigação parcialmente, pelas suas convicções íntimas, nem divulgar informações sigilosas”.
Essa providência, na verdade, deveria ter sido tomada desde o primeiro vazamento, que, sob os olhares atônitos dos brasileiros, virou rotina durante a campanha eleitoral, abastecendo de pólvora a mídia oposicionista para continuar atirando contra a candidatura da presidenta Dilma. Surpreendentemente, o governo assistiu apático a essa prática visivelmente destinada a influenciar a decisão dos eleitores, que culminou com a escandalosa reportagem de capa da revista “Veja”às vésperas do pleito, a última cartada para impedir a reeleição de Dilma, que liderava as pesquisas de intenção de votos.
Não deixa de ser sintomático, por outro lado, a presteza com que procuradores da República divulgaram nota de “confiança e apoio” aos delegados que trabalham na Operação Lava-Jato, afirmando que “em nosso país, expressar opinião privada, mesmo que em forma de gracejos, sobre assuntos políticos é constitucionalmente permitida”. Não há dúvida de que qualquer brasileiro tem todo o direito de expressar suas simpatias ou antipatias a qualquer candidato a um mandato eletivo, mas o servidor público, especialmente aquele que ocupa um cargo onde o profissionalismo e a isenção são fundamentais para o seu exercício, como magistrados e policiais federais, por exemplo, não podem manifestar publicamente suas preferências políticas, pois isso compromete a confiabilidade do seu trabalho. Sem esquecer os estatutos e regimentos que balizam seu comportamento.
Ao comentar a matéria do “Estadão”, em artigo publicado no portal “Observartório da Imprensa”, o jornalista e escritor Luciano Martins Costa disse que a reportagem mostra que "os delegados federais responsáveis pela Operação Lava-Jato compunham uma espécie de comitê informal do candidato Aécio Neves à Presidência da República enquanto vazavam seletivamente para a imprensa dados do inquérito". Ele acrescenta que a revelação expõe "a perigosa contaminação de toda uma superintendência regional da Polícia Federal por interesses externos ao da atividade policial, o que coloca em dúvida a qualificação de seus agentes para conduzir essa investigação, e, por consequência, de todo o noticiário que se seguiu".
Vale recordar que no seu governo o presidente Fernando Henrique Cardoso agia com rigor nessas situações, só que ao invés de mandar apurar os fatos denunciados determinava fosse o denunciante investigado. E quando as investigações se aproximavam do Palácio do Planalto trocava o diretor geral da Policia Federal. Ao contrário de FHC, a presidenta Dilma Roussef tem assistido aos vazamentos, criadores de factóides que causam enormes prejuízos ao seu governo, sem uma reação mais vigorosa, capaz de inibir a ação deletéria dos seus adversários que, hoje, autotransformados em inimigos, estão disseminados por toda parte.
Percebe-se, sem muita dificuldade, que a conspiração vem ganhando corpo e cercando o Palácio do Planalto. E enquanto os conspiradores agem nas sombras, infiltrados até no Judiciário, os seus líderes intensificam suas ações no Congresso Nacional, onde o principal acólito do candidato derrotado Aécio Neves, o deputado Carlos Sampaio, afirmou que vão infernizar a vida da presidenta Dilma, que não terá paz durante o seu segundo mandato. ”O povo quer de nós vigilância e fiscalização implacáveis sobre esse governo. Não daremos espaço”, ele disse. Constata-se que está em marcha uma udenização do PSDB, com o conseqüente ressurgimento do lacerdismo, onde o que está em jogo não é o interesse do país, mas o poder. Pretende-se conquistar o poder a qualquer preço, mesmo com o sacrifício da própria democracia. Será que Aécio e sua turma imaginam que um golpe lhes daria, na bandeja, o poder que não conquistaram nas urnas?
As manifestações de rua que pediram a volta dos militares ao poder, como parte do processo conspiratório, ainda ecoam em ouvidos aparentemente moucos. O silencio dos quartéis pode ter várias interpretações, mas nunca é demais lembrar que os trabalhos da Comissão da Verdade provocaram irritação em altas patentes militares. O fantasma do comunismo, que hoje não assombra mais ninguém, foi substituído pelo bolivarianismo, uma tolice de quem não sabe o que Simon Bolívar representou para a América do Sul. Mas não se deve subestimar o poder das chamadas forças ocultas, internas e externas, que estão atuando intensamente com o decisivo apoio da grande mídia. A reportagem do “Estadão” , portanto, deve servir de alerta ao Palácio do Planalto para o panorama que se desenha no país. Afinal, cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
Intolerância
As sementes da intolerância, lançadas pela grande mídia ao longo do mandato da presidenta Dilma Roussef, encontraram terreno fértil nas redes sociais, onde germinaram e cresceram e estão produzindo o seu pior fruto – o ódio. Contaminada por ele, muita gente – inclusive pessoas de nível de instrução superior, como jornalistas e médicos – perdeu o equilíbrio e, em seus comentários, não se limita a criticar o que não concordam, preferindo descambar para o insulto e a ofensa, empregando inclusive palavrões. Deixaram de ser os “aloprados”, segundo definição do jornalista Ricardo Kotscho, para se transformarem em doentes raivosos, que babam e destilam veneno.
Estimulados por conhecidos colunistas dessa grande mídia, como Arnaldo Jaborto, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi e Rodrigo Constantino, entre outros, verdadeiros arautos da intolerância, os intolerantes internautas disseminaram de tal modo o ódio que acabaram transformando as redes sociais num esgoto virtual, onde despejam seus dejetos verbais, sendo compartilhados por anencéfalos que se assemelham àquele besouro popularmente conhecido como rola-bosta. E o mais absurdo: dirigiram o seu ódio contra os nordestinos, simplesmente porque foram estes brasileiros que garantiram a reeleição da presidenta Dilma Roussef.
Com feições apopléticas de raiva, destilando ódio por todos os poros, o maluco beleza Arnaldo Jaborto dá o exemplo de intolerância, descarregando a sua bílis nos eleitores de Dilma, em especial os nordestinos, que ele classifica de “burros” e “analfabetos” simplesmente porque não pensam como ele e derrotaram o seu candidato Aécio Neves. O médico Walter Abreu, de Poços de Caldas, segue o seu exemplo e, no facebook, chama os nordestinos de “antas” e os mineiros de “burros”. Ou seja, para eles “burros” e “antas” são todos os brasileiros que não rezam por sua cartilha ou, mais precisamente, pela cartilha dos ricos e poderosos, que não se conformam com a ascensão dos pobres e humildes promovida pelos governos do PT.
Em Manaus, segundo revelou o jornalista Eduardo Guimarães no “Blog da Cidadania”, a médica Patricia Sicchar, da Secretaria Municipal de Saúde, e o seu colega Lano Macedo, do Hospital Beneficente Portugues do Amazonas, decidiram utilizar as redes sociais para lançar campanhas contra os que ajudaram a reeleição da Presidenta. Patrícia propôs que os nordestinos sejam castrados quimicamente para que não se reproduzam (é surpreendente o tamanho do ódio dessa médica), e Macedo exorta os seus colegas médicos a boicotarem os laboratórios que contribuíram com recursos para a campanha de Dilma. Constata-se hoje que o oponente político deixou de ser adversário para transformar-se em inimigo, contra quem vale tudo, até a castração.
Esse comportamento primitivo, até então impensável entre pessoas instruídas, é fruto da disseminação do ódio por parte da imprensa oposicionista. A pesquisadora Ivana Bentes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, classificou esse jornalismo de “ódiojornalismo”, apontando a revista “Veja” como uma das principais responsáveis por essa prática, junto com alguns conhecidos colunistas. Na sua opinião, esses colunistas formam uma “tropa de choque” ulraconservadora que “alimenta uma fábrica de memes de ultra direita que se instalou e trabalha para minar projetos, propostas, seja de programas sociais, seja de ampliação dos processos de participação da sociedade nas políticas públicas, seja de processos de democratização da mídia e todo o imaginário dos movimentos sociais”.
A professora Ivana destaca ainda que se constata hoje, na leitura dos jornais, “um altíssimo grau de discursos demonizantes, raivosos e de intolerância, à direita e agora também à esquerda”. Esses discursos, que caracterizam o comportamento principalmente de perdedores nas eleições de outubro último – entre eles os senadores Aécio Neves e Aluizio Nunes, também arautos da intolerância – encontraram ressonância nas redes sociais, onde muitos internautas se escondem no anonimato para dar vazão ao seu ódio e frustrações, enquanto outros já nem se preocupam em esconder a cara, como é o caso, por exemplo, da atriz e jornalista Déborah Albuquerque, que chamou os eleitores de Dilma de “imbecis e miseráveis” e, dizendo-se rica e bem sucedida, se prepara para mudar-se para Orlando. Já vai tarde.
Por conta dessa intolerância, evidenciada em declarações racistas e discriminatórias contra o povo nordestino, é que o jornalista Diogo Mainardi, da “Veja”, está sendo processado pela OAB de Pernambuco e por vários deputados federais, que representaram contra ele na Procuradoria Geral da República. Afinal, por que tanto ódio contra os nordestinos? Só porque exerceram o seu direito de voto? Se todas as pessoas adotassem o mesmo comportamento, odiando os que não apóiam os mesmos candidatos, as eleições se transformariam numa verdadeira guerra, inclusive com mortes, uma estupidez sem limites. A grande virtude da democracia é justamente permitir que as diferenças convivam pacificamente. Mas para isso as pessoas precisam ser civilizadas.
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Mudança na Justiça
Recentemente a televisão noticiou que a agente de trânsito Luciana Tamburini, do Rio, foi condenada pelo Tribunal de Justiça a pagar multa de R$ 5 mil por ter autuado o juiz João Carlos de Souza Correia, que dirigia sem documentos um carro sem placa. O magistrado deu-lhe voz de prisão quando ela lembrou-o que ele “era juiz e não Deus”. Por conta disso Luciana foi acusada, pela Justiça carioca, de “abuso de autoridade”. O Tribunal , pelo visto, interpretou a observação da agente como uma ofensa ao juiz, quando, na verdade, o ofendido foi Deus, que é justo e bom.
Ninguém precisa ser versado em leis – basta ter bom senso – para concluir que quem abusou da autoridade foi o juiz, que tem o dever legal e moral de cumprir e fazer cumprir a legislação. Vergonhosamente, porém, foi ele o infrator. E mais vergonhoso ainda, além de surpreendente: a sua atitude ganhou o aval da Corte de Justiça do Rio. Em editorial sob o título de “Autoridade abusada”, a “Folha de São Paulo” disse que “do episódio ressalta o contraste entre dois modelos de organização social: um arcaico, em que a aplicação das leis varia segundo o status de quem nelas se vê enredado, e outro em que todo cidadão é tratado igualmente, em seus direitos e deveres, pelo Estado”.
Além desse aspecto negativo, que revela corporativismo, lamentavelmente tem-se observado, nos últimos tempos, uma mudança de comportamento entre membros do Judiciário, que se tornaram mais políticos do que magistrados. O mais recente exemplo disso foi a declaração do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, que desceu das suas tamancas para questionar o direito constitucional da presidenta Dilma Roussef de nomear os membros daquela Corte e , também, para defender o candidato derrotado Aécio Neves das críticas do ex-presidente Lula.
Antes dele, o ministro Joaquim Barbosa já havia transformado o STF num palco político para influenciar o processo eleitoral. O julgamento do chamado “mensalão”, montado para atingir figurões do Partido dos Trabalhadores e contribuir para a derrota dos seus candidatos com a mais ampla cobertura da grande imprensa oposicionista, foi condenado pelos mais importantes juristas brasileiros, por conter vícios gritantes. Barbosa, transformado em celebridade por fazer justamente o que a mídia comprometida queria, estribou-se, por falta de provas, na teoria do domínio do fato, de origem alemã, para condenar os réus. A partir daí alterou-se a máxima jurídica de que “todos são inocentes até prova em contrário” e o ônus da prova passou a ser não mais de quem acusa, mas do acusado.
Como no momento fala-se muito em reforma política, com cobrança diária à Presidenta, seria saudável que se providenciasse, também, uma reforma no Judiciário, de modo não apenas a conter o ímpeto político de magistrados (quem pretende ingressar na política deve deixar a toga e filiar-se a um partido, como fez a ministra Eliana Calmon e o governador eleito do Maranhão, Flavio Dino, que era juiz federal) e, também, tornar mais cristalina a posição do poder judiciário em relação aos outros poderes. Tem-se a impressão, hoje, de que o Judiciário está acima dos demais poderes da República, porque com uma canetada um único ministro consegue anular ou mudar decisões, por exemplo, do Congresso Nacional, que é o poder representativo do povo, de onde, segundo a Constituição, emana todo o poder.
A Constituição Federal estabelece que os poderes são independentes e harmônicos entre si mas na prática não é o que tem sido observado. O ministro Gilmar Mendes, por exemplo, tem usado frequentemente seu superpoder para mudar decisões do Parlamento Nacional, que tem um colegiado de mais de 500 membros eleitos pelo povo. E mesmo sem indicar o dispositivo legal que lhe concede esses poderes, ele já decidiu, solitariamente, anular até decisão adotada por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral, que é presidido e integrado por seus colegas do STF. E há vários meses está sentado sobre o processo que trata do financiamento de campanhas eleitorais, do qual pediu vistas.
O Poder Legislativo, o Congresso Nacional, que faz as leis, deveria também aproveitar a oportunidade para um ajuste na lei 8072, de 1990, que estabeleceu a delação premiada e que, segundo o jurista Dalmo Dallari, “promoveu o delinqüente a agente público informal”. Em artigo publicado no “Jornal do Brasil” o jurista destaca que “criminosos confessos se utilizam espertamente da delação premiada para atenuar a punição merecida e legalmente prevista”, causando graves prejuízos de várias espécies “às vítimas de uma delação que não corresponda à verdade e que tenha sido inventada por alguma conveniência do delator”.
Depois de lembrar que “nos últimos tempos, por motivação político-eleitoral mais do que óbvia, vários setores da imprensa deram grande destaque a criminosos confessos que acusaram personalidades públicas, explorando os termos de uma delação premiada”, Dallari adverte para as graves distorções dessa prática de duvidosa conveniência, defendendo ao mesmo tempo uma “urgente reavaliação” da sua aplicação “para excluí-la das práticas legais ou, pelo menos, para disciplinar com mais rigor sua utilização, em beneficio da sociedade”. Pressupondo-se que o desejo de todos, incluindo a oposição, é melhorar o Brasil, esse é o momento do Congresso deixar de lado as picuinhas políticas e dedicar-se, efetivamente, ao aperfeiçoamento das leis que permitam o avanço do nosso país nos mais diferentes setores da vida nacional. A hora é esta.
domingo, 9 de novembro de 2014
Já vão tarde
Desgostosos com a reeleição da presidenta Dilma Roussef muita gente da classe alta, especialmente do Rio e São Paulo, está deixando o Brasil para morar nos Estados Unidos. Entre os que “desistiram do Brasil” está a atriz e jornalista Deborah Albuquerque, que chamou os eleitores de Dilma de “imbecis e miseráveis” e declarou-se “rica e bem sucedida”. Ela está de mudança para Orlando. Muitos estão se transferindo para Miami. Já vão tarde. Deveriam levar junto o cantor Lobão, que ameaçou também deixar o País e lamentavelmente depois decidiu ficar, e todos os que não se conformam com a vitória da Presidenta e insultam os nordestinos nas redes sociais, acusando-os como responsáveis pela derrota de Aécio Neves. Uma médica de Manaus chegou a sugerir a “castração química dos nordestinos”, o que pode significar que, além da frustração pela derrota do seu candidato, ela também tenha algum trauma sexual com um filho do Nordeste. Alguém, no entanto, precisa dizer a ela que a gente vota é com os dedos, apertando as teclas da urna eletrônica.
Desconfiança
O deputado Eduardo Cunha, do PMDB, que articula a sua eleição para a presidência da Câmara Federal desafiando o Palácio do Planalto, declarou recentemente que se for eleito para o comando da Casa vai engavetar a proposta de regulação da mídia, que deverá ser encaminhada pelo Executivo no início do próximo ano. Ocorre que nem o Planalto ou a mídia confiam nele. O governo não confia porque ele adotou um comportamento oposicionista antes mesmo das eleições presidenciais, embora integrando o partido da base aliada, e apoiou a candidatura de Aécio Neves. E a mídia também não confia nele porque ele tem 51 ações na Justiça contra jornais do Rio, São Paulo e Brasilia. Dessas ações ele já perdeu 28 e ganhou três, enquanto as outras continuam tramitando. A informação é da “Folha de São Paulo”.
sábado, 8 de novembro de 2014
Malabarismo
Deve-se reconhecer que o senador Aécio Neves é um exímio manejador de palavras, qualidade que revelou ao país durante a campanha eleitoral. Essa habilidade, que lhe permitiu durante os debates fugir das perguntas – e transferir para os petistas a pecha de mentirosos e infames – transformou-o num grande sofista, capaz de torcer a seu favor os fatos mais desfavoráveis. Nesta última terça-feira, no entanto, ele se superou ao afirmar que “perdeu vencendo”, enquanto Dilma “venceu perdendo”. Essa acrobacia verbal, por mais incrível que possa parecer, acabou convencendo um magote de cabeças de vento de que ele foi, efetivamente, o grande vencedor das eleições de 26 de outubro último.
O candidato derrotado à Presidência da República reapresentou –se ao Senado em grande estilo, como se fosse realmente o vitorioso, assediado por militantes tucanos e afirmando que “chego hoje ao Congresso para exercer o papel que me foi delegado pela grande maioria do povo brasileiro – 51 milhões de votos”. E acrescentou: “Vou ser oposição sem adjetivos”. Com seu malabarismo verbal ele continua sofismando: os 51 milhões de votos que recebeu não representam a maioria dos eleitores, pois se assim fosse teria sido eleito. A maioria dos votos foi dada à presidenta Dilma, que foi reeleita com mais de 54 milhões de sufrágios, ela, sim, a grande vencedora.
O senador tucano parece ter se convencido de que, por conta da sua votação, passou a ser o grande líder da oposição. Esqueceu que esses votos não foram dados realmente a ele por causa dos seus belos olhos ou dos seus sofismas, mas pelo fato de ter sido o único oponente no segundo turno. Como no Brasil não é o povo que escolhe os candidatos, mas os partidos, os eleitores que não queriam votar em Dilma só tinham ele como opção no segundo turno. Por isso, os que não queriam nem ele ou Dilma, num total de mais de 37 milhões, preferiram votar em branco, anular o voto ou simplesmente não comparecer às urnas. A abstenção foi de 21,10%.
Os votos de Aécio foram os que ele recebeu no primeiro turno, ou seja, 34 milhões, menos três milhões do que o número de eleitores que decidiu não votar em ninguém no segundo turno. Isso significa que os 17 milhões de votos que recebeu a mais no segundo turno, portanto metade da sua votação no primeiro, foram de eleitores de Marina Silva em sua grande maioria. A outra parte do eleitorado da ex-senadora acreana preferiu migrar para Dilma, que teve 43 milhões de votos no primeiro turno. O senador mineiro, como é fácil perceber diante desses números, está se arvorando numa liderança que, na verdade, está muito dividida.
Percebe-se, ainda, que a diferença de comportamento entre ele e o senador José Serra, também tucano, é bem evidente. Nas eleições presidenciais de 2010 Serra obteve 43 milhões de votos, contra 55 milhões dados a Dilma, mas nem por isso se pavoneou da votação ou se arvorou como líder da oposição. Como único candidato oponente no segundo turno daquele pleito, o senador paulista obviamente, tal como aconteceu este ano com Aécio, recebeu os votos dos que não queriam votar em Dilma. Isso não significa, portanto, que aqueles 43 milhões de votos foram dele, mas do opositor da candidata petista. Na verdade, os votos deles mesmo foram os que receberam para senador: Aécio obteve 7 milhões em 2010, em Minas, e Serra 11 milhões este ano, em São Paulo.
Tem-se a impressão, por outro lado, que Aécio, diante dos salamaleques que estão fazendo para ele, acredita ter se credenciado como candidato de novo á Presidência da República em 2018. Não parece difícil prever que ele não conseguirá manter essa posição durante os próximos quatro anos, até porque dentro do seu próprio partido existem outros candidatos em potencial, como o governador Geraldo Alkmin e o senador José Serra que, a exemplo dele, Aécio, também foram derrotados pelo PT. Além deles, a ex-senadora Marina Silva igualmente pretende disputar o Palácio do Planalto naquele ano, montada na votação de 22 milhões que obteve este ano, enquanto o PMDB, rebelado contra a aliança com o PT, já acena com candidatura própria também em 2018. Sem falar em Lula. O cenário para a eleição presidencial naquele ano, portanto, será bem diferente do atual.
É preciso levar em conta, ainda, a performance da presidenta Dilma Roussef neste segundo mandato. Se ela fizer um governo ruim estará adubando o terreno para a oposição, que certamente virá muito forte dentro dos próximos quatro anos, mas se, ao contrário do que esperam os profetas do pessimismo, fizer um bom governo, promovendo as reformas reclamadas, mantendo a inflação em baixos níveis, estimulando o crescimento e ampliando os programas sociais terá pavimentado a estrada para Lula. Conclui-se, assim, que Aécio terá de sofismar bastante para, pelo menos, ser ungido novamente pelo seu partido como candidato em 2018. Afinal, o caminho até lá é longo e acidentado.
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Coisas estrranhas
Tem muita coisa estranha – e perigosa – acontecendo no Brasil após a reeleição da presidenta Dilma Roussef. O pesado clima de conspiração criado pelos perdedores apenas uma semana após o pleito, visível principalmente no Sudeste e em Brasilia, deve merecer redobradas atenções da sociedade verdadeiramente democrata, de modo a estancar qualquer tentativa de golpe. O governo e o PT precisam reagir urgentemente contra o movimento golpista que se alastra nas redes sociais e cujos agentes já se fazem visíveis até mesmo na mais alta Corte de Justiça do país.
A declaração despropositada do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, questionando o direito constitucional da Presidenta de nomear os substitutos dos ministros que se aposentarão nos próximos quatro anos – ao mesmo tempo insultando seus colegas nomeados pelos governos do PT ao levantar suspeição sobre a isenção de suas decisões – parece parte de um grande esquema, orquestrado pelas forças da direita, para arrancar Dilma do Palácio do Planalto. Descobriu-se agora que aquela boca de desdém de Mendes, que lhe empresta um ar de superioridade e arrogância, na verdade escondia o seu enorme bico de tucano.
Indiferente aos prejuízos causados à sua suposta imparcialidade na condição de magistrado, comprometida agora pela posição política assumida publicamente, o ministro tucano estaria articulando com as lideranças oposicionistas no Congresso Nacional a aprovação da chamada “PEC das Bengala”, que amplia de 70 para 75 anos a idade limite para a aposentadoria compulsória dos ministros. O objetivo é impedir que Dilma nomeie mais cinco ministros durante o seu segundo mandato, o que, na opinião de Mendes transformaria o STF num “tribunal bolivariano”.
Cabem aqui algumas perguntas diante da estranha declaração de Mendes: qual o gancho que a “Folha” usou como motivo para entrevistá-lo? Se a motivação foi a “PEC da Bengala”, por que, ao invés dele, o jornalão paulista não entrevistou o presidente da Corte, ministro Ricardo Lewandowski, o mais indicado como autoridade maior do Supremo? Não parece difícil concluir que o ministro tucano foi escolhido para falar, como parte do processo destinado a inviabilizar o segundo governo de Dilma, justamente porque já se sabia o que ele diria. E por que justo ele faz articulações junto aos oposicionistas para a aprovação da PEC?
Existem mais coisas estranhas acontecendo. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Dias Tófolli, por exemplo, nomeado pela presidenta Dilma, talvez pressionado pela insinuação do seu colega Gilmar Mendes quanto à possível influência partidária em suas decisões, despachou o pedido de recontagem de votos do PSDB para a Secretaria de Tecnologia do tribunal, buscando respaldar-se em parecer técnico para decidir sobre o destino da ação tucana. Ocorre que o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, já havia se manifestado pelo seu indeferimento diante da “ausência de indícios mínimos de irregularidades”. Janot, aliás, em seu parecer, foi mais além quando diz que o pedido “é de uma imprudência a toda prova, dada a real possibilidade de criar uma situação de instabilidade social e institucional”.
Por sua vez o vice-presidente da República, Michel Temer, presidente do PMDB, ao ser indagado sobre o comportamento oposicionista do deputado Eduardo Cunha, do seu partido, que articula a sua eleição para a presidência da Câmara Federal, disse estar tranqüilo quanto à solidez da base aliada no Parlamento, mesmo que Cunha assuma o comando da Câmara. A declaração soa estranha, primeiro porque se a base aliada fosse coesa e sólida Cunha não teria a menor chance de impor a sua candidatura e, segundo, porque todo mundo sabe que um presidente da Câmara desafinado com o Presidente da República pode tornar o país ingovernável, criando todo tipo de obstáculos ao governo, porque é ele quem controla a pauta.
Ao mesmo tempo a estranha manifestação que saiu às ruas de São Paulo para pedir o impeachment de Dilma e a volta da ditadura militar, que reuniu pouco mais de mil pessoas portando faixas e cartazes, obviamente não foi um movimento espontâneo, mas parte desse esquemão conspiratório, que tem nos “aloprados das redes sociais”, conforme definição do jornalista Ricardo Kotscho, seus maiores divulgadores. Esses aloprados – coitados! – não sabem o que é uma ditadura. Só falta agora uma “Marcha com Deus pela liberdade” para completar o estranho quadro golpista que muitos fingem que não vêem.
Mais estranho de tudo, porém, é a aparente apatia do PT, que ainda não reagiu ao acelerado avanço dos descontentes com a reeleição da presidenta Dilma que, embora com a máquina governamental nas mãos e a maioria dos parlamentares no Congresso Nacional, vem sendo acuada pela minoritária oposição, que não a deixa respirar. O próprio candidato derrotado, Aécio Neves, aliás, já disse que não lhe dará um minuto de trégua. E até agora a revista “Veja” continua impune pelo crime eleitoral praticado às vésperas do pleito e, também, ninguém foi punido pelo vazamento seletivo dos depoimentos “secretos” da operação Lava-Jato. É tudo muito estranho.
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