segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
Todo cuidado é pouco
O movimento golpista, que havia se recolhido momentâneamente às sombras depois que os comandantes militares confirmaram a democracia no país, voltou a assanhar-se com a nova perspectiva de impeachment aberta pela atuação do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, que, na apreciação das contas da campanha eleitoral do PT, busca encontrar algo que possa ligar a presidenta Dilma Roussef à corrupção na Petrobrás, investigada pela Policia Federal na Operação Lava-Jato. Seu esforço é compartilhado pela imprensa tendenciosa, que vê na delação premiada e no julgamento das contas eleitorais petistas o trunfo que procurava para executar o seu projeto destinado a defenestrar a Presidenta do Planalto.
Ainda nesta quarta-feira os jornalões do Rio e São Paulo circularam com a mesma manchete: “Propina virou doação oficial ao PT, diz delator”. A noticia referia-se ao depoimento do executivo Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, da Toyo Setal, segundo o qual parte da propina paga ao ex-diretor Renato Duque, da Petrobrás, eram “doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores”. Dentro do seu procedimento faccioso rotineiro, os jornalões destacaram apenas o que interessava ao seu projeto golpista, escondendo informações do mesmo delator de que o PT não sabia da origem do dinheiro e que onze partidos receberam doações do mesmo tipo – onze partidos e não apenas o PT.
A imprensa comprometida com interesses que não os do país ampliou, neste final de ano, o fogo contra o Palácio do Planalto, contando para isso justamente com a munição fornecida pelos vazamentos seletivos da Operação Lava-Jato, que viraram rotina e passaram a ser encarados com naturalidade, embora debochadamente afirmem que o inquérito corre em “segredo de Justiça”. E, por mais incrível que possa parecer, até hoje não surgiu nenhuma iniciativa, por quem de direito, para coibir essa prática abusiva e punir os responsáveis, que prosseguem tranqüilos em sua contribuição para a execução do golpe contra um governo legalmente constituído. O Palácio do Planalto, ao que parece, subestima a capacidade golpista dessa gente.
Pautada por essa imprensa passional, que há tempos abandonou o seu papel de informar para transformar-se em partido político, a oposição vai fazendo a sua parte no Congresso Nacional, criando dificuldades para a votação das matérias de interesse do governo, inclusive levando baderneiros para as galerias. E o candidato derrotado nas eleições presidenciais, o senador Aécio Neves, depois da vergonhosa choradeira de menino mimado, resolveu mostrar-se durão e passou a agredir o governo com mais virulência, revelando-se completamente transtornado quando ocupa raivosamente a tribuna do Senado. O candidato que quis parecer bonzinho na campanha eleitoral mostra agora a sua verdadeira cara de mau, ainda inconformado com a derrota.
O fato é que só um cego não vê a armação que vem sendo montada, desde a divulgação do resultado das urnas, para impedir a presidenta Dilma Roussef de cumprir o seu segundo mandato. Mesmo sem nada que pudesse justificar semelhante iniciativa, o impeachment começou a ser falado no dia seguinte à eleição e passou a ser repetido como um mantra, na imprensa, nas ruas e no Congresso, de modo a que o povo se habituasse com a idéia. Faltava um motivo, o que agora pretendem forçar com o depoimento do executivo da Toyo e a atuação do ministro Gilmar Mendes no julgamento das contas do PT. Daí o assanhamento da mídia oposicionista e dos tucanos, que provavelmente imaginam atingir seus objetivos antes do inicio do novo mandato de Dilma.
Já está passando da hora, porém, do governo reagir no mesmo diapasão, usando os mecanismos legais de que dispõe e botando o seu bloco na rua para estancar esse movimento golpista que, orquestrado pelas forças da direita, revela tentáculos em todos os setores de atividades. Depois de tanto tempo o lacerdismo revela seguidores nas hostes oposicionistas atuais, onde Aécio tenta firmar-se como líder, com espaço assegurado na mídia que o apóia, na esperança de continuar candidato à Presidência da República. Ao contrário do que imagina, no entanto, com essa postura agressiva, destilando ódio pelos poros, vem perdendo eleitores para Geraldo Alkmin e José Serra. O povo não gosta desse tipo de política e, por isso, o governador paulista e o senador eleito, mais maduros e equilibrados, já começam a ocupar espaço com vistas ao pleito de 2018. A Aécio restará aprender a lição. De qualquer modo, o governo não deve perder de vista os descontentes, pois todo cuidado é pouco.
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