sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Coisas estranhas

Muita coisa estranha está acontecendo no Brasil. Basta uma rápida vista d’olhos no panorama brasileiro para perceber-se, entre outras coisas, uma imprensa que virou partido político de oposição e faz campanha diária e sistemática contra o governo; um ex-presidente que fez o pior governo da história deste país e hoje se propala o melhor e faz críticas ferozes ao atual; um candidato derrotado que se diz vitorioso e prega o golpe num governo legalmente constituído; um juiz que conduz um inquérito em “segredo de Justiça” mas permite os vazamentos seletivos dos depoimentos; um ministro do Supremo de visível coloração política sempre “sorteado” para julgar processos de interesse do partido da sua preferência; inocentes úteis pedindo a volta do regime militar; e um deputado da base aliada que desafia o governo e a direção do seu próprio partido para eleger-se presidente da Câmara. Até um “manchetômetro” foi criado no Rio para caracterizar melhor a passionalidade dos jornalões que, por suas matérias tendenciosas, estão gradativamente perdendo credibilidade e, consequentemente, leitores, a exemplo da revista “Veja”, que hoje agoniza. Por sua vez, o ex-presidente Fernando Henrique, em seu mais recente artigo sob o título de “Vitória amarga”, depois de dizer que a presidenta Dilma Roussef não comemorou a sua reeleição devido ao seu sabor amargo, considerou o seu governo legal mas ilegítimo. Após afirmar mais uma vez que ela foi eleita não apenas pelos mais pobres mas, também, pelos dependentes, FHC disse que resta a ela “continuar fazendo mal feito o que nós faríamos de corpo e alma, portanto, melhor”. Realmente, ele fez melhor a compra de votos para aprovar a emenda da reeleição, o abafa das CPIs e engessamento da Policia Federal para que não investigassem a corrupção no seu governo e a dilapidação do patrimônio nacional, através das privatizações, entre outras coisas. E agora, sem condições de continuar mentindo, deixou de ser pai para proclamar-se “arauto” do Plano Real. O juiz Sergio Moro, que preside as investigações da Operação Lava-Jato, é o novo Joaquim Barbosa, todo poderoso que faz o que bem entende na condução do processo dito “sigiloso” mas cujos depoimentos estão, seletivamente, todos os dias nas páginas dos jornais. E não permite que os delatores citem nomes de políticos para não ser obrigado a transferir o processo para o Supremo Tribunal Federal. No entanto, permite a citação do PT e mantém presas pessoas apontadas pelos delatores mesmo sem sentença. O jurista Miguel Reale Junior, em artigo sob o título de “A prisão como pressão”, condenou o comportamento do juiz Moro, dizendo que “transformar a prisão, sem culpa reconhecida na sentença, em instrumento de constrangimento para forçar a delação é uma proposta que repugna ao Estado de Direito”. E o CNJ e o STF, surpreendentemente, assistem impassíveis a tudo isso. O senador Aécio Neves, ainda inconformado com a derrota nas urnas, convoca o povo para ir às ruas pedir o impeachment da presidenta Dilma Roussef. E apenas 2 mil pessoas, segundo estimativa da Policia Militar, participaram de uma manifestação sábado em São Paulo pedindo não apenas o impeachment mas, também, um golpe militar. Como não é bobo, o candidato derrotado não compareceu à manifestação que ele mesmo convocou, preferindo o Sol das praias de Santa Catarina. Além de otários, como o cantor Lobão, compareceram à manifestação inocentes úteis, que servem como massa da manobra pois não têm consciência do impeachment e suas conseqüências; aqueles que não viveram no período da ditadura e não tem a menor idéia do que ela representa; quem não tinha melhor programa para uma tarde de sábado e uns poucos aproveitadores, como o senador eleito José Serra. O povão mesmo preferiu a rua 25 de Março. Estranhamente o ministro Gilmar Mendes, que não mais esconde o bico tucano, foi “sorteado” para julgar as contas da campanha eleitoral de Dilma Roussef, prometendo uma devassa, e a ação movida pelo PT contra o senador Aécio Neves, que classificou o partido de “organização criminosa”. E ninguém se surpreenda se ele rejeitar as contas da Presidenta e arquivar a ação contra Aécio. Também não será surpresa se forem “sorteadas” para ele as ações de eleitores que se julgaram ofendidos pela declaração do candidato derrotado. Gilmar, que parece ter herdado o papel de Joaquim Barbosa no Supremo, mantém ainda engavetado, há mais de seis meses, o processo que acaba com as doações de empresas privadas para campanhas eleitorais. Já aprovado pela maioria dos ministros, ele pediu vistas e sentou em cima, ignorando os apelos para que o devolva. E parece não existir força capaz de obrigá-lo a devolver o processo, de fundamental importância para o esforço no combate à corrupção. Para completar o estranho panorama que se desenhou no país, o deputado Eduardo Cunha, do PMDB, se rebelou contra o seu partido e contra o governo e ameaça eleger-se presidente da Câmara Federal, contrariando a direção da agremiação partidária e o Palácio do Planalto. E a julgar pelas mais recentes notícias parece que o governo já estaria admitindo a derrota, buscando um acordo com o parlamentar que tem se revelado mais oposicionista que o pessoal da oposição. Se isso se confirmar será uma vergonha tanto para o governo como para a direção do PMDB, que se mostrarão sem forças e sem autoridade diante de um único deputado. E se ele efetivamente se eleger, obviamente com o apoio da oposição, a presidenta Dilma Roussef pode se preparar para enfrentar sérias dificuldades no Congresso Nacional. Cunha, que tem a mesma cara de corvo de Carlos Lacerda, embora não o mesmo talento, promete repetir a atuação oposicionista do histórico udenista. Diante desse estranho e perigoso panorama, que revela ainda um PT apático e sem a mesma disposição de luta de outros tempos, aos brasileiros sérios, que amam este país, só resta a indignação de ver a imprensa pautando a oposição e lideranças inconseqüentes tentando incendiar o país, acreditando criar as condições necessárias para a tomada do poder. Na verdade, nem os jornalões e muito menos os oposicionistas, a começar pelo candidato derrotado Aécio Neves, estão preocupados com os interesses do país e do seu povo. A falsa indignação com os problemas na Petrobrás tem apenas o objetivo de enganar os trouxas, já que a corrupção na empresa vem desde o governo de Fernando Henrique. E só agora começa efetivamente a ser investigado com a consequente punição dos responsáveis. O que Aécio e companhia querem mesmo é o poder, não importa o preço que o país tenha de pagar.

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