sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Intolerância

As sementes da intolerância, lançadas pela grande mídia ao longo do mandato da presidenta Dilma Roussef, encontraram terreno fértil nas redes sociais, onde germinaram e cresceram e estão produzindo o seu pior fruto – o ódio. Contaminada por ele, muita gente – inclusive pessoas de nível de instrução superior, como jornalistas e médicos – perdeu o equilíbrio e, em seus comentários, não se limita a criticar o que não concordam, preferindo descambar para o insulto e a ofensa, empregando inclusive palavrões. Deixaram de ser os “aloprados”, segundo definição do jornalista Ricardo Kotscho, para se transformarem em doentes raivosos, que babam e destilam veneno. Estimulados por conhecidos colunistas dessa grande mídia, como Arnaldo Jaborto, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi e Rodrigo Constantino, entre outros, verdadeiros arautos da intolerância, os intolerantes internautas disseminaram de tal modo o ódio que acabaram transformando as redes sociais num esgoto virtual, onde despejam seus dejetos verbais, sendo compartilhados por anencéfalos que se assemelham àquele besouro popularmente conhecido como rola-bosta. E o mais absurdo: dirigiram o seu ódio contra os nordestinos, simplesmente porque foram estes brasileiros que garantiram a reeleição da presidenta Dilma Roussef. Com feições apopléticas de raiva, destilando ódio por todos os poros, o maluco beleza Arnaldo Jaborto dá o exemplo de intolerância, descarregando a sua bílis nos eleitores de Dilma, em especial os nordestinos, que ele classifica de “burros” e “analfabetos” simplesmente porque não pensam como ele e derrotaram o seu candidato Aécio Neves. O médico Walter Abreu, de Poços de Caldas, segue o seu exemplo e, no facebook, chama os nordestinos de “antas” e os mineiros de “burros”. Ou seja, para eles “burros” e “antas” são todos os brasileiros que não rezam por sua cartilha ou, mais precisamente, pela cartilha dos ricos e poderosos, que não se conformam com a ascensão dos pobres e humildes promovida pelos governos do PT. Em Manaus, segundo revelou o jornalista Eduardo Guimarães no “Blog da Cidadania”, a médica Patricia Sicchar, da Secretaria Municipal de Saúde, e o seu colega Lano Macedo, do Hospital Beneficente Portugues do Amazonas, decidiram utilizar as redes sociais para lançar campanhas contra os que ajudaram a reeleição da Presidenta. Patrícia propôs que os nordestinos sejam castrados quimicamente para que não se reproduzam (é surpreendente o tamanho do ódio dessa médica), e Macedo exorta os seus colegas médicos a boicotarem os laboratórios que contribuíram com recursos para a campanha de Dilma. Constata-se hoje que o oponente político deixou de ser adversário para transformar-se em inimigo, contra quem vale tudo, até a castração. Esse comportamento primitivo, até então impensável entre pessoas instruídas, é fruto da disseminação do ódio por parte da imprensa oposicionista. A pesquisadora Ivana Bentes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, classificou esse jornalismo de “ódiojornalismo”, apontando a revista “Veja” como uma das principais responsáveis por essa prática, junto com alguns conhecidos colunistas. Na sua opinião, esses colunistas formam uma “tropa de choque” ulraconservadora que “alimenta uma fábrica de memes de ultra direita que se instalou e trabalha para minar projetos, propostas, seja de programas sociais, seja de ampliação dos processos de participação da sociedade nas políticas públicas, seja de processos de democratização da mídia e todo o imaginário dos movimentos sociais”. A professora Ivana destaca ainda que se constata hoje, na leitura dos jornais, “um altíssimo grau de discursos demonizantes, raivosos e de intolerância, à direita e agora também à esquerda”. Esses discursos, que caracterizam o comportamento principalmente de perdedores nas eleições de outubro último – entre eles os senadores Aécio Neves e Aluizio Nunes, também arautos da intolerância – encontraram ressonância nas redes sociais, onde muitos internautas se escondem no anonimato para dar vazão ao seu ódio e frustrações, enquanto outros já nem se preocupam em esconder a cara, como é o caso, por exemplo, da atriz e jornalista Déborah Albuquerque, que chamou os eleitores de Dilma de “imbecis e miseráveis” e, dizendo-se rica e bem sucedida, se prepara para mudar-se para Orlando. Já vai tarde. Por conta dessa intolerância, evidenciada em declarações racistas e discriminatórias contra o povo nordestino, é que o jornalista Diogo Mainardi, da “Veja”, está sendo processado pela OAB de Pernambuco e por vários deputados federais, que representaram contra ele na Procuradoria Geral da República. Afinal, por que tanto ódio contra os nordestinos? Só porque exerceram o seu direito de voto? Se todas as pessoas adotassem o mesmo comportamento, odiando os que não apóiam os mesmos candidatos, as eleições se transformariam numa verdadeira guerra, inclusive com mortes, uma estupidez sem limites. A grande virtude da democracia é justamente permitir que as diferenças convivam pacificamente. Mas para isso as pessoas precisam ser civilizadas.

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