quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Coisas estrranhas
Tem muita coisa estranha – e perigosa – acontecendo no Brasil após a reeleição da presidenta Dilma Roussef. O pesado clima de conspiração criado pelos perdedores apenas uma semana após o pleito, visível principalmente no Sudeste e em Brasilia, deve merecer redobradas atenções da sociedade verdadeiramente democrata, de modo a estancar qualquer tentativa de golpe. O governo e o PT precisam reagir urgentemente contra o movimento golpista que se alastra nas redes sociais e cujos agentes já se fazem visíveis até mesmo na mais alta Corte de Justiça do país.
A declaração despropositada do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, questionando o direito constitucional da Presidenta de nomear os substitutos dos ministros que se aposentarão nos próximos quatro anos – ao mesmo tempo insultando seus colegas nomeados pelos governos do PT ao levantar suspeição sobre a isenção de suas decisões – parece parte de um grande esquema, orquestrado pelas forças da direita, para arrancar Dilma do Palácio do Planalto. Descobriu-se agora que aquela boca de desdém de Mendes, que lhe empresta um ar de superioridade e arrogância, na verdade escondia o seu enorme bico de tucano.
Indiferente aos prejuízos causados à sua suposta imparcialidade na condição de magistrado, comprometida agora pela posição política assumida publicamente, o ministro tucano estaria articulando com as lideranças oposicionistas no Congresso Nacional a aprovação da chamada “PEC das Bengala”, que amplia de 70 para 75 anos a idade limite para a aposentadoria compulsória dos ministros. O objetivo é impedir que Dilma nomeie mais cinco ministros durante o seu segundo mandato, o que, na opinião de Mendes transformaria o STF num “tribunal bolivariano”.
Cabem aqui algumas perguntas diante da estranha declaração de Mendes: qual o gancho que a “Folha” usou como motivo para entrevistá-lo? Se a motivação foi a “PEC da Bengala”, por que, ao invés dele, o jornalão paulista não entrevistou o presidente da Corte, ministro Ricardo Lewandowski, o mais indicado como autoridade maior do Supremo? Não parece difícil concluir que o ministro tucano foi escolhido para falar, como parte do processo destinado a inviabilizar o segundo governo de Dilma, justamente porque já se sabia o que ele diria. E por que justo ele faz articulações junto aos oposicionistas para a aprovação da PEC?
Existem mais coisas estranhas acontecendo. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Dias Tófolli, por exemplo, nomeado pela presidenta Dilma, talvez pressionado pela insinuação do seu colega Gilmar Mendes quanto à possível influência partidária em suas decisões, despachou o pedido de recontagem de votos do PSDB para a Secretaria de Tecnologia do tribunal, buscando respaldar-se em parecer técnico para decidir sobre o destino da ação tucana. Ocorre que o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, já havia se manifestado pelo seu indeferimento diante da “ausência de indícios mínimos de irregularidades”. Janot, aliás, em seu parecer, foi mais além quando diz que o pedido “é de uma imprudência a toda prova, dada a real possibilidade de criar uma situação de instabilidade social e institucional”.
Por sua vez o vice-presidente da República, Michel Temer, presidente do PMDB, ao ser indagado sobre o comportamento oposicionista do deputado Eduardo Cunha, do seu partido, que articula a sua eleição para a presidência da Câmara Federal, disse estar tranqüilo quanto à solidez da base aliada no Parlamento, mesmo que Cunha assuma o comando da Câmara. A declaração soa estranha, primeiro porque se a base aliada fosse coesa e sólida Cunha não teria a menor chance de impor a sua candidatura e, segundo, porque todo mundo sabe que um presidente da Câmara desafinado com o Presidente da República pode tornar o país ingovernável, criando todo tipo de obstáculos ao governo, porque é ele quem controla a pauta.
Ao mesmo tempo a estranha manifestação que saiu às ruas de São Paulo para pedir o impeachment de Dilma e a volta da ditadura militar, que reuniu pouco mais de mil pessoas portando faixas e cartazes, obviamente não foi um movimento espontâneo, mas parte desse esquemão conspiratório, que tem nos “aloprados das redes sociais”, conforme definição do jornalista Ricardo Kotscho, seus maiores divulgadores. Esses aloprados – coitados! – não sabem o que é uma ditadura. Só falta agora uma “Marcha com Deus pela liberdade” para completar o estranho quadro golpista que muitos fingem que não vêem.
Mais estranho de tudo, porém, é a aparente apatia do PT, que ainda não reagiu ao acelerado avanço dos descontentes com a reeleição da presidenta Dilma que, embora com a máquina governamental nas mãos e a maioria dos parlamentares no Congresso Nacional, vem sendo acuada pela minoritária oposição, que não a deixa respirar. O próprio candidato derrotado, Aécio Neves, aliás, já disse que não lhe dará um minuto de trégua. E até agora a revista “Veja” continua impune pelo crime eleitoral praticado às vésperas do pleito e, também, ninguém foi punido pelo vazamento seletivo dos depoimentos “secretos” da operação Lava-Jato. É tudo muito estranho.
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