sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Vergonha

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que recentemente se disse envergonhado com as denúncias de corrupção na Petrobrás, parece não ter sentido a mesma vergonha com as denúncias de corrupção no seu governo. Suas bochechas sequer coraram quando, usando a sua maioria no Congresso Nacional, sufocou as CPIs destinadas a apurar as denúncias, inclusive sobre a compra de votos para aprovação da emenda da reeleição. A manchete da “Folha de São Paulo”, de 20 de maio de 1997, diz tudo:”Governo faz blitz para barrar CPI”. Consultando-se o registro na imprensa dos oito anos do governo FHC constata-se um estarrecedor volume de corrupção que a mídia, por mais se esforçasse, não conseguiu esconder. Entre outros um rombo de R$ 2 bilhões na Sudam; desvio de R$ 1 bilhão e 400 milhões da Sudene; escândalos Marka-FonteCindam, Sivam e Proer; desvio de R$ 4 milhões e 500 mil do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador); denúncias de caixa dois nas campanhas presidenciais de 1994 e 1998, etc. Provocado a comparar os governos FHC e Lula, o senador Roberto Requião disse: “A gente nem precisa de um roubômetro para avaliar isso. O Fernando Henrique com a privataria roubou 10 mil vezes mais do que qualquer possibilidade de desvio do governo Lula”. A fúria privatizacionista do governo FHC, que incluiu a Vale do Rio Doce, uma das maiores mineradoras do mundo, pretendia alcançar a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, o que não aconteceu porque Lula foi eleito e impediu que o Brasil fosse inteiramente leiloado. Antes de deixar o Planalto, no entanto, FHC deu partida ao processo de privatização da Petrobrás, quebrando o monopólio de exploração e refino do petróleo através da lei 9.478, que revogou a lei 2.004 sancionada por Getulio Vargas, que criou a empresa; demitindo cerca de 40% dos seus funcionários e tentando mudar o seu nome para Petrobrax, que soava melhor aos ouvidos dos investidores estrangeiros e possíveis compradores. Além disso, no período de 1999 a 2001, sob a gestão de Reichstul, houve uma série de acidentes graves – 62 no total, incluindo o naufrágio da Plataforma P-36 e vazamentos de óleo no Rio de Janeiro e no Paraná– provocando suspeitas de sabotagem. Na época, o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás, Fernando Leite Siqueira, disse que na sua opinião esses acidentes “tinham a função de jogar a empresa contra a opinião pública para justificar a sua desnacionalização”. Comparando o tratamento dado à empresa pela ditadura e pelo governo FHC, o presidente da Aepet afirmou que os militares foram melhores: “O governo militar teve erros crassos na área de direitos humanos, mas eram nacionalistas. O Geisel foi presidente da Petrobrás e deu todo apoio à empresa”. Na verdade, eles ainda não desistiram de entregar a Petrobrás ao capital estrangeiro, seguindo o pensamento de Fernando Henrique exposto na época no livro “Dependência e Desenvolvimento da América Latina”, onde defendeu a tese de que países em desenvolvimento ou atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de países ricos, como os Estados Unidos. A campanha criminosa que se desencadeou contra a Petrobrás, usando como pretexto as denúncias de corrupção investigadas pela Policia Federal – como se a empresa tivesse culpa disso – tem o objetivo de desvalorizá-la, facilitando a sua desnacionalização, pois os grandes grupos econômicos internacionais há tempos estão de olho nela. Prova disso é que as ações da maior empresa estatal brasileira, com mais de 80 mil funcionários e dando lucros com a continuidade de suas operações normais, vem caindo nas bolsas de valores, especialmente no Brasil e Nova York. Segundo o Ministério Público, o esquema de corrupção na Petrobrás não é de agora, mas funciona há mais de 15 anos, ou seja, desde o governo de Fernando Henrique.“Muito embora não seja possível dimensionar o valor total do dano – disse o MP – é possível afirmar que o esquema criminoso atuava há pelo menos 15 anos na Petrobrás”. Essa notícia foi publicada terça-feira última, meio escondida, pelo jornal “O Estado de São Paulo”. Agora, no entanto, esse velho esquema está sendo investigado, graças ao governo da presidenta Dilma Roussef, que está dando todo apoio ao trabalho da Policia Federal. Na verdade, todo o povo brasileiro está apoiando as investigações, considerando a necessidade de por tudo em pratos limpos e punir os responsáveis. Ao ser eleito em 1994 o sociólogo Fernando Henrique chegou a proclamar que a sua missão era “por fim à era Vargas”, justamente a era em que foram criadas as maiores empresas estatais brasileiras. Vale a pena transcrever, a propósito, um trecho da carta-testamento de Vargas, deixada no seu leito de morte:”A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente”. O candidato tucano Aécio Neves pretendia dar continuidade à política entreguista de Fernando Henrique, seu guru, e o mais claro sinal disso foi a escolha de Arminio Fraga para seu Ministro da Fazenda, caso eleito. Fraga, que tem dupla cidadania (brasileira e americana) e antes de ser presidente do Banco Central no Governo FHC foi diretor-gerente do Soros Fund, do mega especulador George Soros, em Wall Street, falando na época a banqueiros e empresários em Nova York, além de criticar severamente o então governador mineiro Itamar Franco, por ter se rebelado contra as medidas entreguistas de FHC, aconselhou os investidores a não investirem em Minas Gerais. Foi justamente esse homem, que trabalhou contra os interesses de Minas, que o mineiro Aécio queria no seu Ministério da Fazenda. Ainda bem, para o Brasil e, em especial, para Minas, que ele não foi eleito. Todas essas informações estão no livro “O príncipe da privataria”, do jornalista Palmério Dória, que, por motivos óbvios, não tem lugar na livraria da “Folha”. O editor Luiz Fernando Emediato, na apresentação do livro, diz que quando terminou a sua leitura, “em certo momento estupidificados, seremos obrigados a nos perguntar: onde estava, no reinado dos tucanos, o Ministério Público, o Procurador Geral da República, os Joaquim Barbosa daquele tempo? O chamado “mensalão” – tenha existido ou não – parece coisa de amadores diante do profissionalismo de empresários, burocratas e políticos daquele tempo. Nenhuma CPI. Nenhuma investigação que chegasse ao fim. Nenhuma denúncia capaz de levar a um processo e a uma condenação!”

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