sexta-feira, 23 de maio de 2014
Transportes em Belém
Do jornalista Francisco Sidou, sobre o sistema de transportes de Belém, transcrevo o artigo a seguir: "Parece jogada ensaiada. E é. Os sindicalistas rodoviários pleiteiam justamente, claro, reajustes salariais. Afinal, a inflação corrói lenta, mas progressivamente, o poder aquisitivo dos assalariados.Os patrões, compreensivos, aceitam dar o reajuste, mas desde que os rodoviários façam primeiro uma greve barulhenta para chamar a atenção da imprensa e causar mais incômodos à população. De preferência, que façam uma "pedida" de reajuste bem acima daquilo que vai ser dado. Tudo combinado. Então os notáveis do Conselho Municipal de Transportes se reúnem para analisar a planilha de custos e definir o índice de reajuste das passagens. Chega-se então a essa brilhante proposta de se elevar o custo da passagem de R$ 2,20 para R$ 2,43.
Parece até que esses 0,3 centavos embutidos nesse "estudo técnico", no qual se embasa a tal planilha, são fruto de uma mente perversa, com o propósito de proporcionar mais atropelos aos passageiros e mais lucros para os insaciáveis donos do negócio. Alguém, por acaso, ainda porta centavos em suas carteiras? Logo, a passagem acaba sendo arredondada para R$ 2,45. O transporte coletivo em Belém é precário e os ônibus verdadeiras carroças. Mas em nenhum momento das negociações com os empresários desse negócio se coloca na mesa a renovação da frota ou uma repaginada no planejamento do tráfego com a redefinição de algumas linhas que demandam quase sempre o Ver-o-Peso e a avenida Presidente Vargas, causando verdadeiro caos em horas de picos.
Na bagunça do trânsito sem ordem todo mundo buzina e ninguém tem razão. Agressões e ameaças são apenas o pano de fundo de um trânsito caótico/neurótico de uma cidade congestionada e travada. Em meio a esse cenário nada saudável para a qualidade de vida da população, vem aí novos capítulos de uma novela já conhecida, mas nada edificante. Novas licitações para novas linhas de ônibus. Fala-se tanto em novas linhas e os ônibus que circulam em Belém estão em petição de miséria, sucateados, sujos e fedorentos.. Quando são mandados do Rio para Belém já circularam na Cidade Maravilhosa pelo menos por 10 anos.
O cartel do Rio tem muitos tentáculos, um deles sufoca a população de Belém que usa transporte coletivo... Por que não se exige dos empresários de ônibus (tão sacrificados, coitadinhos...) a renovação de pelo menos 50% da frota que circula na cidade, alguns coletivos caindo aos pedaços, outros com goteiras, que se transformam em sucursal do inferno em dias de chuva ?
As pessoas espremidas e estressadas parecem ser conduzidas como gado. Por que não se cria uma linha alternativa, com ônibus climatizados, mesmo com preço diferenciado? Seu público-alvo seriam os donos de veículos que também estão estressados por que não mais encontram lugar para estacionamento na cidade estrangulada, sem falar no assédio agressivo dos flanelinhas que se dão ao desplante de "guardar" (com cones) os lugares nas ruas para usufruto de seus "clientes especiais".
São muitos os veículos que deixariam de circular, diariamente, melhorando assim o fluxo do tráfego na cidade travada. Linhas circulares nos bairros com ônibus menores também seria uma opção para desafogar os principais e congestionados corredores de tráfego. Não se pode apostar apenas em uma solução do tipo BRT, que já chega com um atraso colossal em relação a outras alternativas de tráfego mais adequadas para metrópoles com mais de 1,5 milhão de habitantes, como os Veículos Leves sobre Trilhos (VLT) e o Monotrilho, também conhecido como Aerotrem.
No caso de Belém, caberia uma integração entre os dois sistemas , o BRT - obra já em andamento, mesmo aos trancos e barrancos - viria até São Brás, onde precisaria ser construída uma estação de integração, com o deslocamento da atual Rodoviária para a Nova Avenida Independência, outro importante corredor de entrada e saída da cidade, que o governo do Estado pretende inaugurar até julho. De Icoaraci até o Entroncamento e de São Brás até o Ver-o-Peso não vislumbro outra solução melhor que o sistema monotrilho aéreo.
Vamos ousar, senhor prefeito Zenaldo ?
Do contrário, não teremos muita coisa para comemorar nos 400 anos de Belém. Nem a sua Comissão de Notáveis, que elabora a programação, vai ter algo a fazer, mesmo com o brilhante currículo e as melhores intenções de seus ilustres membros."
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Pelos custos de qualquer modalidade proposta pelo Sidou, Belém ainda vai esperar muitos anos, décadas, para ter resolvidos esses problemas. Metrô, nem pensar: redes de água/esgoto existentes e precárias, terreno pouco recomendado para escavções gigantescas e as famosas mangueiras, cujas retiradas seriam defendidas com unhas e dentes pelos seus defensores radicais e imediatistas (que não acreditam que Belém possa substituí-las por novas ou por outras espécies)são grandes obstáculos. Trens urbanos são muito caros e exigem também cuidados do mesmo tipo dos citados para metrô.
Quanto à integração é pelo menos agora a única possibilidade viável. Resta-nos algum apoio do Governo Federal, se viesse à frnte de prioridades maiores do Sul/Sudeste.
Os governos pouco se importam com obras de dinheiro vivo e votos enterrados...
É necessário lembrar que a fiação elétrica que carrega energia para toda a cidade é 100% aérea. Quem arcaria com as despesas da substituição?
Nossa cidade é pobre, muito pobre, vamos convir. Basta uma chegadinha a cidades até nem muito desenvolvidas para se perceber a pobreza de Belém.
Comércio fraco, indústria quase inexistente (Caxias do Sul, com 1/3 da nossa população tem mais indústrias que quase todo o Pará).
Quem achar que eu exagero, visite algumas cidades com população semelhante ou menor, como Florianópolis (500 mil habitantes), Porto Alegre (1,5 milhão)e constate a grande disparidade econômica que nos empurra cada vez mais para baixo, daí se dizer que Belém é a terra do Já Teve ("já teve" até dois clubes de futebol...)
Infelizmente, nosso querido Estado parece que parou de vez !
Postar um comentário