quarta-feira, 2 de abril de 2014

Estranho

Embora minoritária, a oposição vem impondo sucessivas derrotas ao governo da presidenta Dilma Roussef, no Congresso Nacional, com a ajuda da sua própria base aliada. Ainda recentemente, numa manobra habilmente articulada pela liderança do principal aliado do Planalto, o PMDB, a Câmara Federal aprovou a convocação de dez ministros para prestarem esclarecimentos sobre os mais diversos assuntos. Foi uma forma de mostrar à Presidenta do que são capazes os parceiros descontentes. A convocação, no entanto, acabou esvaziada porque de fato o interesse não era ouvir nenhum ministro, mas constranger o governo. E o objetivo foi alcançado. Agora os senadores oposicionistas conseguiram, também com a ajuda de aliados descontentes, reunir um número de assinaturas maior do que o exigido para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a Petrobrás, tendo como pretexto a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Foi mais uma derrota imposta ao Palácio do Planalto que, sob fogo cruzado da chamada Grande Imprensa, tenta minimizar o prejuízo político com ações destinadas a esvaziar a iniciativa da oposição, antecipando-se nas investigações. Na verdade, todos sabem que os oposicionistas não estão interessados em investigar coisa nenhuma, mas apenas em provocar estragos no projeto de reeleição de Dilma, o que parece que estão conseguindo. Embora demagogicamente alguns deles declarem sua preocupação com a Petrobrás e com o dinheiro público, na realidade nenhum dos signatários do requerimento pedindo a CPI pensou, quando colocou sua assinatura no documento, nos prejuízos que produzirão à imagem da maior empresa estatal brasileira. Também não estão preocupados com o povo, sempre citado mas nunca ouvido, porque o que importa mesmo são os seus interesses pessoais e de grupos, que devem ser alcançados a qualquer preço. O objetivo político-eleitoral da criação da CPI é mais do que evidente. Afinal, a questão da compra da refinaria de Pasadena já está sendo investigada pelo Ministério Público, pela Policia Federal, pelo Tribunal de Contas da União e por uma comissão da própria Petrobrás. Constata-se, diante dos últimos acontecimentos, que a oposição tem se revelado eficiente na tarefa de desgastar o governo, especialmente neste ano eleitoral, não apenas com a tomada de decisões no Legislativo, contrárias aos interesses do Palácio do Planalto mas, também, com ações isoladas na Justiça que, embora tolas e inócuas, incomodam. Exemplo disso foram as representações contra a foto de Dilma e Lula no Palácio da Alvorada, durante uma reunião política; contra a escala técnica do avião presidencial em Lisboa; contra gastos da Presidência, etc, etc. Liderados pelo PSDB, os oposicionistas estão sempre no ataque, inclusive com declarações diárias que ocupam grandes espaços na mídia, uma estratégia que, sem dúvida, vem produzindo frutos amargos para o governo, acusado até pelas enchentes no Amazonas e pela seca nos reservatórios de São Paulo. Neste ano eleitoral tudo, até um espirro da Presidenta, será motivo de críticas. Com essa estratégia, que vem se revelando positiva, a oposição colocou o Planalto na defensiva. O PT parece encolhido, acuado, amorfo, contrariando a sua velha tradição de luta. Não fora a senadora Gleise Hoffman, a única voz que ainda se levanta no Congresso para defender o governo, a presidenta Dilma Roussef estaria entregue às feras. Para quem foi presa e torturada pela ditadura tal situação certamente não a intimida, mas provavelmente deve estar decepcionada com seus aliados e, sobretudo, com os seus próprios companheiros de partido, que parecem aparvalhados diante do intenso bombardeio dos tucanos, contando com a valiosa cobertura da Grande Imprensa. Os petistas estranhamente adotaram um comportamento acovardado depois do julgamento do mensalão. Observa-se que todas as iniciativas de ataque vem sendo tomadas pela oposição, apesar das denúncias contra tucanos que estouraram sobretudo em São Paulo. A velha máxima de que “a melhor defesa é o ataque” parece ter sido adotada com sucesso pelo PSDB. E embora oferecendo vasto material para uma ação mais ofensiva do PT, como por exemplo o cartel de trens do metrô paulista, os tucanos estão deitando e rolando, com a providencial ajuda de peemedebistas que, por ingenuidade ou burrice – ou vingança – estão facilitando o avanço dos candidatos oposicionistas ao Planalto. E, consequentemente, também trabalhando contra si próprios, considerando que perderão a fatia de poder que desfrutam hoje numa eventual vitória da oposição. Conclui-se, diante desse panorama, que se o governo não reassumir urgentemente o controle da sua bancada no Congresso Nacional – a nomeação de Berzoini para o Ministério de Relações Institucionais pode ser o primeiro passo – e o PT não recuperar a sua velha disposição de luta, abandonando a surpreendente atitude frouxa de hoje, a presidenta Dilma Roussef terá muita dificuldade para conseguir a reeleição. Nesse caso, se quiser permanecer no poder o Partido dos Trabalhadores não terá outra alternativa senão chamar Lula de volta para evitar uma possível derrota em outubro. Na verdade, esse é o único cenário em que o ex-presidente aceitará o retorno ao embate eleitoral, pois até agora Dilma continua sendo a sua candidata ao Planalto.

Um comentário:

Anônimo disse...

O grande problema da Dilma é que seus "aliados" (ou aliados mesmo) têm um rabão preso e por isso mesmo não toleram que alguém risque um fósforo às proximidades.