quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Disputa dificil

O segundo turno das eleições presidenciais será uma disputa muito difícil, especialmente para a presidenta Dilma Roussef, que terá de enfrentar não apenas os tucanos e seus aliados mas, principalmente, a grande imprensa oposicionista que, tendo comemorado abertamente a presença de Aécio Neves na segunda fase do pleito, já começa a intensificar o bombardeio na candidata petista com matérias nitidamente tendenciosas. Basta uma espiada nos títulos da edição desta quarta-feira para se prever o que virá por aí até o próximo dia 26, data do pleito. Exemplo disso foi a notícia sobre a apreensão em Brasilia, pela Policia Federal, de R$ 116 mil conduzidos pelos ocupantes de um jatinho. A “Folha de São Paulo” publicou nesta quarta-feira a seguinte manchete: “Empresário e colaborador do PT em MG são detidos com dinheiro suspeito”. O que o jornalão paulista chama de “colaborador” do PT é um ex-assessor do Ministério das Cidades, demitido há mais de três meses. Pergunta-se: o que tem o PT a ver com o ex-assessor? O título, obviamente, tem o objetivo de ligar o “dinheiro suspeito” ao partido da Presidenta, mesmo sem nenhuma acusação de ilegalidade, criando desse modo um factóide que possa de algum modo prejudicar a sua candidatura. O “Globo”, por sua vez, foi mais jornalístico ao noticiar o fato com o título: “PF apreende R$ 116 mil com trio em jatinho”. No texto o jornalão carioca destaca que o consultor de segurança da TV Globo, Daniel Lorenz, ex-delegado da Policia Federal, disse que não é crime transportar dinheiro dentro do país, mas é preciso explicar a sua origem. Esse detalhe, porém, provavelmente uma distração do redator do texto, talvez possa acender, para o leitor mais atento, uma luzinha para desvendar o mistério do acesso do jornal a depoimentos em inquéritos sigilosos da PF. O fato é que em prosseguimento à execução do projeto destinado a defenestrar o PT do poder, com notícias que influenciem o leitor contra a candidata petista, a “Folha”, na edição desta quarta-feira, publicou outros títulos visivelmente negativos para a Presidenta, como estes: “Dilma esteve apenas cinco vezes no Planalto nos últimos dois meses”; “Inflação oficial supera teto da meta em 12 meses e é o maior em três anos”; e “Após derrota Suplicy espera por telefonema de Lula e da Presidenta”. O manchetômetro do Rio, pelo visto, vai ter muito mais registro nestas duas semanas que nos separam das eleições no segundo turno. Aliás esse comportamento da grande mídia não surpreende mais ninguém, sobretudo após o editorial de “O Estado de São Paulo”, edição de terça-feira, sob o título de “Alivio e esperança”, sobre o resultado das eleições no primeiro turno, que colocou o candidato tucano na disputa. O editorial começa dizendo que a exclamação de um dos seus leitores – “Ufa!” – “resume o sentimento de alívio com que a maioria dos brasileiros conheceu o resultado da votação de domingo”. Além de revelar o seu próprio sentimento, o jornal paulista mente ao afirmar ter “a maioria dos brasileiros” recebido o resultado com alivio, pois se fosse efetivamente a maioria que tivesse tal sentimento Aécio teria chegado ao segundo turno em primeiro lugar. Mas isso é apenas uma parte da luta que Dilma vai ter de travar para conseguir a reeleição. Ela tem, também, a oposição feroz da maioria da classe dos médicos, por conta do programa “Mais Médicos”, que teria sido um dos grandes adversários de Alexandre Padilha em São Paulo. Através das redes sociais, não apenas médicos, mas pacientes e amigos, têm sido bombardeados diariamente com mensagens com críticas acerbas a Dilma e pedido de votos para Aécio. A página “Dignidade Médica”, no Facebook, por exemplo, contém postagens inclusive com proposta para “castração química” de nordestinos. Houve até quem sugerisse que os médicos promovessem um “holocausto” no Nordeste, onde Dilma teve cerca de 70% dos votos. Essa página conta com cerca de 100 mil usuários que se dizem médicos. Para completar essas manifestações de ódio inexplicável ao Partido dos Trabalhadores e à sua candidata, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso parece estimular tal sentimento ao chamar os nordestinos de ignorantes. Com a língua mais solta, após a performance do seu candidato, ao analisar a expressiva votação de Dilma no Norte e Nordeste, o ex-presidente disse que “o PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres”. Ele acrescentou que o partido “está apoiado em setores da sociedade que são, sobretudo, menos informados”. É como se o voto do nordestino e do pobre não tivesse o mesmo valor do voto do rico e do sulista. Na verdade, para quem chamou os aposentados de “vagabundos” semelhante declaração não surpreende. Resta saber como é que os tucanos conseguirão conciliar esse sentimento anti-nordestino com a busca dos seus votos, sem os quais nenhum candidato a Presidente se elegerá. E como é que a acreana Marina Silva, de origem humilde, conseguirá justificar, diante desse panorama extremamente preconceituoso para com os brasileiros das regiões mais pobres, a sua posição de apoio a Aécio no segundo turno?

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