quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Cabo eleitoral
Está explicado porque o juiz Sério Moro, da Operação Lava-Jato, programou, com direito a divulgação em tom de escândalo, os depoimentos de Paulo Roberto e Alberto Youssef para o segundo turno das eleições presidenciais: ele estaria esperançoso de ser recompensado pelo seu trabalho como cabo eleitoral, caso Aécio Neves seja eleito, com a sua nomeação para ministro do Supremo Tribunal Federal, na vaga aberta com a aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa.
Segundo o jornalista Paulo Moreira Leite o nome do magistrado consta de uma lista de candidatos ao STF, elaborada em agosto último pelo Ministério Público, que não teria recebido a esperada atenção da presidenta Dilma Roussef. Aliás, antes mesmo de se tomar conhecimento dessa lista o conhecido advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, já havia afirmado: “O doutor Sérgio Moro é candidato potencial a uma vaga de ministro do STF. E, do jeito que a coisa vai, pode ser indicado se o Aécio Neves virar presidente da República”.
Com esse comportamento suspeito, visivelmente favorável à eleição do candidato tucano – cujos efeitos estão sendo sentidos nas mais recentes pesquisas de intenção de votos – o juiz Sergio Moro já está sendo considerado o eleitor numero um de Aécio. O eleitor número dois é a grande imprensa oposicionista que, com acesso livre aos depoimentos, no que o jornalista Jânio de Freitas chamou de “sigilo com alto-falante”, vem fazendo um estardalhaço, mesmo sabendo que as acusações falecem de provas, para atingir o objetivo que vem perseguindo há tempos: tirar o PT do Palácio do Planalto.
Ao mesmo tempo, o PSB de Marina Silva, pela maioria dos seus membros, decide apoiar a candidatura tucana, “jogando no lixo – como disse o seu presidente Roberto Amaral – o legado dos seus fundadores e renegando compromissos programáticos e estatutários”. Em nota distribuída no final de semana, depois de dizer que “ao aliar-se à candidatura Aécio Neves o PSB traiu a luta de Eduardo Campos”, Amaral indagou: “Como honrar o legado do PSB optando pelo polo mais atrasado?” Na mesma nota ele manifestou seu apoio à reeleição da presidenta Dilma Roussef, afirmando que neste momento, ela é a “única alternativa para a esquerda socialista e democrática”.
Por sua vez, Marina decidiu descer do muro e manifestar seu apoio à candidatura de Aécio. Em extensa nota distribuída também no final de semana, a ex-senadora disse que votará no candidato tucano e o apoiará, votando nos compromissos assumidos por ele e “dando um crédito de confiança à sua sinceridade de propósitos”, mas deixando à sociedade brasileira “a tarefa de exigir que sejam cumpridos”. É ótimo: ela aprova e os outros que cobrem. Entre esses compromissos está o fim da reeleição para cargos executivos, mas só a partir de 2022, conforme o próprio Aécio. Ou seja, promessa de político em véspera de eleição.
Com essa atitude a fundadora da Rede deixou cair a máscara que manteve afivelada no rosto durante toda a sua carreira política no PT, renegando suas origens e até mesmo os postulados de Chico Mendes. Tendo mudado quatro vezes de partido, por interesses contrariados – e não por discordar dos rumos das legendas – ela deixou evidente que a tão alardeada “nova política” continua muito velha, inclusive com o ranço do neoliberalismo do governo FHC, que aprova agora. Na verdade, conforme já deu mostras, ela se movimenta de acordo com as circunstâncias, sem nenhuma ideologia, o que desmente o seu discurso.
Mas enquanto Marina, Eduardo Jorge e o pastor Everaldo declaram seu apoio a Aécio Neves, a candidata do PSOL, Luciana Genro, liberou seus correligionários mas não desceu do muro. Poderia, como fizeram parlamentares do seu partido, firmar posição política mais clara no cenário nacional, inclusive com vistas ao futuro, declarando apoio a um dos dois candidatos ao Planalto mas, ao contrário dos demais concorrentes, preferiu fazer como Pilatos e lavou as mãos. Está contribuindo, dessa forma, para a eleição do candidato do PSDB, que a classificou de “despreparada” para concorrer à Presidência da República.
Bem, o fato é que faltando apenas quinze dias para o pleito a disputa se mostra cada vez mais difícil para os dois candidatos, embora algumas pesquisas apontem maior vantagem para o tucano, que conta com as valiosas “coincidências” do calendário da Justiça e da escandalosa cobertura da grande mídia oposicionista. É evidente que a sistemática campanha da imprensa comprometida, que vem demonizando o PT e criminalizando o governo Dilma, tem causado grandes estragos ao projeto de reeleição da Presidenta, mas hoje o povo, graças a outros canais de informação como a Internet, já não se deixa influenciar tanto pelo noticiário tendencioso. E ao contrário do que disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os pobres não são ignorantes e sabem perfeitamente discernir o que é melhor para eles.
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