quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Começa a corrida
A grande imprensa oposicionista – e não a proposta de mudança – foi a principal responsável pela presença de Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais. A sua influência no sul e sudeste, onde tem maior penetração porque é lá que estão sediados os jornalões, ficou evidente com a votação do candidato tucano, que venceu com uma diferença expressiva a presidenta Dilma Roussef nos Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, cujos governadores foram eleitos no primeiro turno.
A sua influência mais importante naturalmente foi em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, cujo governador Geraldo Alkmin, que liderou todas as pesquisas de intenção de votos, foi reeleito com larga margem de votos sobre seus opositores, apesar dos grandes problemas do Estado, como a falta de água e a insegurança pública. Qual a explicação? Como o paulista certamente não é masoquista para manter o governador que o faz sofrer com esses problemas, a explicação está justamente no papel desempenhado pela mídia oposicionista, que salvaguardou Alkmin das críticas e minimizou os problemas, inclusive fazendo vista grossa para as denúncias de corrupção no metrô.
Em contrapartida fez estardalhaço na divulgação do julgamento do mensalão, com a valiosa ajuda do então ministro Joaquim Barbosa, e das denúncias de corrupção na Petrobrás. Com uma campanha sistemática de oposição ao governo federal, a mídia oposicionista conseguiu pregar no PT o rótulo de partido de corruptos, fazendo verdadeira acrobacia nos textos para de alguma forma envolver a presidenta Dilma, o que lhe tirou muitos votos no sul. O pleito deixou claro, por outro lado, que quem faz oposição ao governo são os ricos, a elite, da qual fazem parte os proprietários dos grandes veículos de comunicação de massa.
Essa imprensa também influenciou os eleitores que residem no exterior, onde Aécio teve a maioria dos votos. Isto porque os brasileiros que moram lá fora não vivem a realidade do seu país – o que lhes permitiria fazer melhor juízo da situação nacional e da atuação do governo – e recebem as informações através da imprensa dos países onde residem, a qual, por sua vez, forma sua opinião sobre o Brasil estribada justamente no noticiário da mídia oposicionista, que reúne os mais importantes veículos de comunicação do país. Prova disso é que veículos como o “Financial Times” e “The Economist”, por exemplo, praticamente transcrevem os textos dos jornalões nacionais.
A virada de Aécio, portanto, que conseguiu ultrapassar Marina Silva na reta final da campanha, não se deve nem aos seus projetos de mudança ou à sua facilidade de comunicação mas, fundamentalmente, à imprensa comprometida com o objetivo da elite de apear o PT do poder. Até porque Marina também tinha propostas de mudança, mas não teve o valioso apoio dessa mesma imprensa que, na verdade, tem no tucano o representante dos interesses políticos e econômicos dessa elite. E agora, dando sequência ao seu projeto de eleger o senador mineiro, já faz afagos na candidata do PSB, acusando o PT de responsável pela sua queda para o terceiro lugar e insinuando o seu apoio ao tucano no segundo turno.
Antes mesmo que o PSDB inicie as conversações com Marina, em busca do seu apoio para a segunda fase do pleito presidencial, a mídia oposicionista já trabalha nesse sentido, procurando induzir a ex-senadora acreana a aliar-se a Aécio. E a principal estratégia é bater na tecla de que o PT foi o responsável, com sua campanha agressiva, pelo emagrecimento da candidatura dela, embora o candidato tucano tenha adotado o mesmo tom. Já no “Bom Dia Brasil” da TV Globo, nesta segunda-feira, a economista Miriam Leitão entrou no ar para fazer apenas um rápido comentário, dizendo que o PT deixou seqüelas entre os partidários de Marina, o que, na opinião dela, deve orientar os seus votos para Aécio.
O colunista Ricardo Noblat, por sua vez, revelando-se também alinhado com a orientação do seu jornal, disse que “nenhum instituto de pesquisa foi capaz de antecipar o tamanho da ojeriza nacional ao PT. O partido, praticamente, acabou varrido do Sul do país onde perdeu as eleições para governador e senador”. Ora, o sul não é o país inteiro e, portanto, a “ojeriza ao PT” não pode ser nacional, até porque o partido de Dilma venceu no nordeste e, inclusive, no próprio Estado de Aécio, Minas Gerais. Noblat deixa claro, em sua coluna, sua torcida para que a candidata do PSB decida apoiar o tucano.
Por sua vez, um grupo de intelectuais que apoiou a candidatura de Marina já distribuiu nota manifestando seu apoio a Aécio Neves, o que, no entanto, não é surpresa nenhuma, bastando ver os nomes que assinaram a nota – Gustavo Franco, Edmar Bacha e Luiz Felipe Lampreia, entre outros – todos oriundos do governo de FHC. No final da nota eles dizem que apóiam Aécio “porque queremos que as pessoas realmente se emancipem da ineficiência e das distorções dos serviços públicos, da pobreza que amesquinha seus horizontes e da falta de acesso a direitos fundamentais em áreas prioritárias como educação, saúde e segurança pública”. Ora, todo mundo sabe que foi o governo do PT que tirou mais de 30 milhões de brasileiros da linha de pobreza, alargando os seus horizontes, e desenvolveu os maiores programas sociais já realizados no país.
De qualquer modo, a manifestação desse grupo não representa o pensamento de todo o eleitorado de Marina que, mesmo que decida apoiar um dos dois candidatos no segundo turno, obviamente não levará todos os seus votos para o lado que pender. Até o dia das eleições muitas negociações deverão se desenvolver em busca dos votos da candidata do PSB que, sem dúvida, serão praticamente decisivos para a vitória do beneficiário. E nessas conversações não entrarão apenas os aspectos emocionais mas, sobretudo, as questões de interesse nacional, ou seja, do povo brasileiro. A nova corrida, portanto, agora com apenas dois concorrentes, está apenas começando.
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