quinta-feira, 16 de junho de 2016
Valha-nos, quem???
Depois que o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão de figurões do PMDB, um silêncio ensurdecedor baixou sobre figurões de outros partidos, entre eles o sempre falante senador Aécio Neves e o seu eco Carlos Sampaio, os senadores Agripino Maia e Ronaldo Caiado e o deputado Pauderney Avelino, que tinham espaço cativo no noticiário da grande imprensa. Como em boca fechada não entra mosquito – e nem sai cobras e lagartos – eles preferiram se fingir de mortos, submergindo enquanto passa a onda levantada pela Operação Lava-Jato. Afinal, a blindagem que os protegia dos investigadores e das manchetes escandalosas dos jornais parece que está sendo retirada gradativamente, como se pode deduzir da recente posição de Janot, que insistiu na investigação de Aécio, provocando com isso uma briguinha com o ministro Gilmar Mendes, do STF, que o havia anistiado.
As notícias de que a cúpula peemedebista tramava para obstruir a Lava-Jato, segundo interpretação do diálogo gravado por Sergio Machado, ex-diretor da Transpetro, com os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá e o ex-presidente José Sarney, não alteraram a rotina da operação. Muito pelo contrário, os seus integrantes sentiram feridos os seus brios e decidiram intensificar seus trabalhos, aparentemente não poupando mais Temer e seus aliados, que antes desfrutavam da sua simpatia. Como consequência, é provável que nos próximos dias novos vazamentos seletivos de delações premiadas cheguem aos jornais, envolvendo inclusive ministros do governo interino, o que só não acontecerá se as chamadas “forças ocultas” concluírem que tal divulgação será prejudicial à permanência de Temer no Planalto. Recorde-se que recentemente o ministro Gilmar Mendes, que antes se mantinha indiferente aos vazamentos envolvendo petistas, classificou de “crime” a divulgação do pedido de prisão da cúpula do PMDB.
Não é de hoje que os tucanos, em especial o guru Fernando Henrique Cardoso e o seu pupilo Aécio Neves, contam com a blindagem de todos, da mídia, da Policia Federal, do Ministério Público e do Judiciário, o que sugeria aos menos avisados a idéia de que eles não tinham qualquer envolvimento com ilegalidades, sendo modelos de honestidade. Durante o governo de FHC foi sufocada toda tentativa de criação de CPI para apurar denúncias de corrupção. As notícias a respeito eram publicadas com muita habilidade para evitar comprometê-lo, inclusive sobre a compra de votos, denunciada pela CNBB, para a aprovação da emenda da reeleição. Somente depois que ele deixou o governo é que a denúncia foi confirmada por um dos deputados, que vendeu o seu voto por R$ 200 mil, conforme depoimento no livro “O Príncipe da Privataria”, do jornalista Palmério Dória. Além disso, o dono do extinto Bamerindus, Andrade Vieira, que foi ministro da Agricultura do Governo Itamar Franco, o acusou de ter ficado com R$ 130 milhões de sobra de campanha. Até hoje não abriram nenhum inquérito para apurar nada. A propósito, alguém sabe no que deu a denúncia da sua ex-amante sobre o pagamento de mesada através de paraísos fiscais?
Quanto a Aécio Neves os delatores já se cansaram de citá-lo, acusando-o inclusive de envolvimento no esquema de propinas em Furnas, sem que vingasse qualquer inquérito, quase sempre arquivado, merecendo apenas noticia escondida de canto de página. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o DCM revelou todo o esquema de Furnas, inclusive a famosa lista, onde Aécio aparece como o principal beneficiário e cujas provas foram entregues à Policia Federal e ao Ministério Público, sem que até hoje ele tivesse sido incomodado por isso. Um dos denunciantes revela que entregou pessoalmente ao presidente do PSDB e à sua irmã dinheiro em espécie. O mais surpreendente é que os denunciantes é que foram presos e perseguidos pela policia. Um deles chegou a perguntar: “Que força descomunal é essa que impede o avanço dos processos?” Parece que agora, no entanto, a coisa está mudando, conforme se pode observar pela atitude de Janot, e Aécio, para não seguir o mesmo caminho de Delcídio do Amaral, achou mais prudente se fingir de morto. Resta saber como está o comportamento hoje dos delegados da Policia Federal que, às vésperas das eleições de 2014, defendiam a sua candidatura a Presidente nas redes sociais onde, ao mesmo tempo, chamavam a presidenta Dilma Roussef e o ex-presidente Lula de “antas”. Por mera “coincidência” eles são os mesmos delegados que atuam na Operação Lava-Jato, o que, de certo modo, explicaria a caçada a petistas, em especial ao ex-presidente operário.
O fato é que a enxurrada de denuncias, que envolvem hoje figurões de vários outros partidos, inclusive do DEM, como o senador Agripino Maia, que se comportava como vestal apontando o dedo sujo para os outros, promete engrossar o caldo e lotar as cadeias com a perspectiva de cassação do mandato do deputado Eduardo Cunha, que já teria ameaçado entregar todo mundo, inclusive o presidente interino Michel Temer. Se ele cumprir a ameaça todo o organismo pôdre da política, do qual faz parte, se deteriora de vez, expondo os vermes que corroem o país. E não haverá blindagem que consiga segurar aqueles que até hoje tem vivido à sombra do guarda-chuva da mídia. Resta saber, no entanto, se as instituições encarregadas de fazer a depuração vão continuar agindo seletivamente, movidas por simpatias e antipatias, desviando-se do seu papel constitucional. Já bastante desacreditadas diante dos olhos da opinião pública, como consequência de atitudes que escapam a qualquer senso de justiça, se essas instituições mantiverem o mesmo comportamento não haverá mais em quem confiar e muito menos a quem recorrer. E depois que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, disse que não adianta recorrer nem a Deus ou ao
diabo, só nos resta gritar, a plenos pulmões:
- VALHA-NOS, QUEM???
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