segunda-feira, 6 de junho de 2016
Governo trapalhao
O governo trapalhão do presidente interino Michel Temer ainda nem completou um mês e já é um desastre. Além de um ministério medíocre e recheado de investigados na Lava-Jato, o governo anuncia medidas improvisadas, sem nenhum planejamento prévio, sendo obrigado a revogá-las em seguida diante da reação popular. Foi o caso, entre outros, da extinção do Ministério da Cultura. E os ministros, desafinados com o maestro, fazem declarações sem combinar com o chefe, sendo obrigados a desmentir-se após um puxão de orelhas. Foi o caso, por exemplo, do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que logo que assumiu a pasta defendeu mudanças nas regras para escolha do Procurador Geral da Republica e pregou a adoção de maior rigor na repressão às manifestações populares. Por sua vez, o ministro Mendoncinha, da Educação, recebeu em audiência o ator pornô Alexandre Frota, que lhe foi oferecer sugestões para “melhorar” o ensino no país.
Enquanto o ministro da Defesa, Raul Jungman, com pose de marechal do Império, enfrenta dificuldades para ser assimilado pelas Forças Armadas, o chanceler José Serra prossegue na sua tarefa de desmontar a diplomacia de expansão dos governos petistas, ao mesmo tempo em que reconduz o país de volta aos braços do Tio Sam. E o ex-diretor da Transpetro, Sergio Machado, com suas gravações de conversas “amigáveis”, vai nocauteando os novos ministros, prometendo derrubar toda a cúpula peemedebista. O presidente interino Michel Temer, que assumiu o governo com pose e gás de presidente eleito, parece agora perdido nesse mar de adversidades, talvez pelo despreparo para assumir o comando do país, já que sua experiência executiva era a de Secretário de Segurança de São Paulo, onde, segundo ele próprio declarou, aprendeu a lidar com bandidos. Afinal, chefiar uma nação não é a mesma coisa, mesmo tendo como eminência parda o deputado afastado Eduardo Cunha, uma reconhecida raposa.
Entre as surpresas do novo panorama politico do país estão o sempre falante Aécio Neves e o seu eco Carlos Sampaio, que emudeceram, apesar do guarda-chuva do ministro Gilmar Mendes. Também estão mais quietos, evitando os holofotes que adoram, outras figuras que tinham cadeira cativa no noticiário da Globo porque faziam oposição radical à presidenta Dilma Roussef, como o senador Agripino Maia, presidente do DEM, e o líder do seu partido na Câmara Federal, deputado Pauderney Avelino, sempre arrepiado como um franguinho assustado com o galo cego. O senador responde a inquérito no Supremo, acusado de receber propina, e Pauderney foi acusado por Sergio Machado como um dos mais corruptos do Legislativo. Reza um velho dito popular que “passarinho na muda não canta”. E todos eles, prudentemente, estão calados, na esperança de que sejam esquecidos pelos delatores da Lava-Jato.
O Supremo Tribunal Federal, que tem sido alvo de duras críticas por conta da sua indiferença sobre o impeachment, também parece mergulhado numa conveniente quietude. Só o ministro Gilmar Mendes se mantém em evidência. Recém empossado na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, onde tem nas mãos o pedido tucano de cassação do mandato da chapa Dilma-Temer, o ministro Gilmar se tornou o Coringa do Supremo Tribunal Federal, onde, entre outras coisas, preside a 2ª Turma e relata, com comovente isenção, todos os processos que envolvem tucanos e petistas. Por sua atuação, sempre motivo de destacadas notícias e comentários, ele se tornou uma figura emblemática da atual Justiça brasileira, o que mereceu da “Folha de São Paulo” um pedido para que, pelo menos, mantenha as aparências. Em compensação, o ministro Marco Aurélio Melo, cuja palavra lúcida e isenta era sempre ouvida pelos veículos de comunicação, desapareceu do noticiário depois que determinou à Câmara recebesse o pedido de impeachment do presidente interino Michel Temer.
Mesmo que o impeachment de Temer não tenha prosperado, porém, o clima de tensão e ansiedade no governo interino cresce à medida em que suas trapalhadas subtraem votos no Senado. Na verdade, como foi antecipado nesta coluna, desde o principio do novo governo evidenciou-se o temor de que a demora do julgamento do afastamento definitivo da presidenta Dilma Roussef pelo Senado pudesse dar ensejo ao surgimento de problemas que, entre outras coisas, provocasse mudança no voto dos senadores, o que se confirma agora. Ninguém mais tem a mesma certeza de antes de que ela seria definitivamente afastada do Planalto, o que deve estar abalando os nervos não apenas do Presidente interino e seus ministros como, também, de todos os que, de uma forma ou de outra, contribuíram para a aprovação do impeachment. Certamente por essa razão Temer tem dito a interlocutores que só fará algumas mudanças anunciadas se for efetivado no cargo, o que significa que ele já não está mais seguro, como antes, de que permaneceria no Palácio do Planalto pelo menos até 2018.
Na verdade, já está bastante visível a mudança dos ventos, que passaram a soprar em favor de Dilma, como é fácil perceber pelas últimas pesquisas. E, também, o povo que, em parte, saía às ruas para pedir o afastamento dela, agora parece unido contra o presidente interino, tanto aqui como no exterior, onde até FHC tem sido alvo de protesto. De onde se conclui que o Brasil, até pouco tempo dividido, está voltando a ter um povo unido, graças às trapalhadas do governo interino. Pelo menos esse mérito deve ser creditado ao presidente em exercício.
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