sexta-feira, 10 de junho de 2016

Plano B do golpe

O plano B dos golpistas, para ser executado caso o impeachment da presidenta Dilma Roussef seja derrubado no Senado, já começa a ser alvo de discretas discussões nos círculos políticos e jurídicos, conforme os sinais emitidos pelo ministro Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Ele tem repetido com regular insistência, como se preparasse o terreno para evitar surpresas, que é possível separar Temer de Dilma na ação movida pelo PSDB, que pede a cassação do mandato da chapa Dilma-Temer por abuso de poder econômico nas eleições de 2014. Em recente declaração ele foi mais específico, ao afirmar que já existe jurisprudência a respeito, firmado no caso do ex-governador Ottomar Pinto, de Roraima, que morreu durante o processo de cassação por crime eleitoral e cujo vice, que assumiu o governo, foi inocentado. Gilmar, que tem marcado a sua atuação no Supremo Tribunal Federal por uma gritante “imparcialidade”, com essas declarações escancara a sua disposição de cassar apenas Dilma, preservando Temer que, se perder no Senado e tiver de devolver a cadeira de Presidente da República para ela, voltaria novamente para o Palácio do Planalto, dessa vez de maneira definitiva. Além dessas sintomáticas declarações, outra pista sobre as intenções de Gilmar foi a sua decisão de, mesmo ocupando a presidência da corte eleitoral, permanecer como relator do processo, para cuja tarefa foi mais uma vez “sorteado” pela roleta eletrônica do TSE, que parece ter o mesmo vício de idêntico aparelho do Supremo onde, coincidentemente, ele também é sempre escolhido para relatar os processos que envolvem interesses políticos de petistas e tucanos. Se esses “sorteios” significassem mais dinheiro na conta dele, Gilmar sem dúvida seria o mais sortudo dos ministros do STF. Aparentemente, as perspectivas quanto à queda do impeachment no Senado, que começa a ser vislumbrada com as manifestações de desagrado de senadores com o governo interino de Michel Temer, já preocupam os conspiradores e executores do golpe, inclusive a advogada Janaina Paschoal, uma as signatárias do pedido de afastamento da presidenta Dilma Rousseff. Ela declarou em Recife não ter mais certeza quanto a aprovação do impeachment, porque receia que a proposta de novas eleições possa atrair a simpatia do povo. “Confesso estar preocupada com esta história de novas eleições, que é como um canto da sereia, capaz de agradar a gregos e troianos”, ela disse. Na sua opinião, as pessoas já começam a hesitar em relação ao afastamento da Presidenta. Desapontada, porque o que ela queria mesmo era eliminar Dilma definitivamente da vida pública, Janaína se recusa a admitir que o povo já se conscientizou que o impeachment não passou de um golpe para atender interesses que não são exatamente os do país. Como disse Leonardo Boff:”A população já se deu conta das tramoias golpistas”. Mas ao mesmo tempo em que os responsáveis pelo golpe, diante da possibilidade de uma derrota no Senado, buscam uma nova alternativa para se manter no poder, cresce nas ruas a pressão por eleições diretas ainda este ano, o que, na opinião de observadores, seria a única solução para a crise em que o país se debate. Um grupo de 30 senadores, à frente Roberto Requião, do PMDB do Paraná, já abraçou essa tese, cujos reflexos certamente serão sentidos na votação do impeachment, com a sua derrubada. Quem também já defende eleições gerais em outubro, obviamente por interesses pessoais, é a ex-senadora Marina Silva, que certamente acredita na sua vitória. As mais recentes pesquisas de intenção de votos a apontam em segundo lugar na corrida sucessória presidencial, atrás apenas de Lula, que lidera em todos os cenários. O ex-presidente, aliás, já disse que se for para garantir as conquistas sociais será candidato, declaração que deve ter dado um tremendo susto naqueles que há tempos tramam a sua eliminação da vida política do país. O mais pitoresco, nesse clima de tensão e incerteza, foi a declaração do ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, que, depois de afirmar que "esta hipótese de a presidente Dilma reverter votos, mudar posição dos senadores, é zero”, classificou de golpismo a convocação de novas eleições ainda este ano. A sua visão de democracia, pelo visto, foi obliterada pela conquista de um cargo de ministro no governo interino de Temer, porque golpismo é precisamente a ausência do povo na escolha de seus governantes. Foi exatamente o que aconteceu com a assunção de Michel Temer à Presidência da República, desrespeitando a vontade de 54 milhões de brasileiros. Geddel, ao que parece, sabe que numa eleição Temer não terá a menor chance de ocupar o Palácio do Planalto e, por isso, para os usurpadores não convém eleições, este ano ou em 2018. Ele só esqueceu um pequeno detalhe: o governo ao qual serve não tem condições de sustentar-se, justamente pela falta de respaldo popular.

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