segunda-feira, 6 de junho de 2016
Mesquinharias
Diante da possibilidade cada dia mais visível do impeachment da presidenta Dilma Roussef ser derrubado no Senado, considerando os sinais de mudança do voto de senadores decepcionados com às denúncias de Sergio Machado que já provocaram a queda de dois ministros do governo interino, bateu o desespero nos golpistas. Os Marinho, que estão empenhados agora em salvar o governo Temer, publicaram como manchete de primeira página do seu jornal “O Globo” notícia, veiculada pelo colunista Merval Pereira, dando conta de que a Presidenta pagou despesas pessoais, inclusive o seu cabelereiro, com dinheiro desviado da Petrobrás. Só um imbecil acreditaria que uma Presidenta da República precisaria roubar dinheiro público para pagar os serviços do seu cabeleireiro. Dilma, evidentemente, desmentiu a notícia e anunciou que vai processar judicialmente o jornal e o colunista, mas a atitude dos Marinho revela o desespero que começa a tomar conta dos golpistas ante o possível retorno dela ao Palácio do Planalto.
Por sua vez, o próprio presidente interino Michel Temer já não consegue esconder o nervosismo diante da expectativa de mudança no jogo, com o Senado sinalizando o fim da sua tumultuada lua-de-mel com o poder. E deixando cair a máscara de democrata, que afivelou no rosto com o objetivo de enganar os incautos, determinou ao general chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) o monitoramento da movimentação dos petistas, o que nos remete à ditadura militar. Ele teme manifestações populares, contrárias ao seu governo interino, em eventos que exigem a sua presença. E com o conhecimento antecipado do movimento dos integrantes do PT obviamente pretende montar esquemas de repressão capaz de sufocar qualquer tipo de manifestação, a exemplo do que se viu recentemente em São Paulo, onde até mulheres foram espancadas a cassetete. Temer, pelo visto, inaugura um novo modelo de democracia, provavelmente inspirado nos anos de chumbo, onde o cassetete e o gás substituiram a palavra e os argumentos.
Preocupados com a reviravolta no Senado, onde já se vislumbra possíveis defecções entre os que votaram a favor do impeachment de Dilma, os golpistas também resolveram encurtar os prazos para o desenvolvimento do processo na Câmara Alta, temendo que, com a demora do julgamento, possam surgir novos escândalos envolvendo integrantes do governo interino, contribuindo para enterrar de vez o sonho de Temer de permanecer mais dois anos no Planalto. O advogado da Presidenta, José Eduardo Cardozo, já recorreu ao Supremo Tribunal Federal para que os prazos constitucionais sejam mantidos, ao mesmo tempo em que o presidente da Casa, Renan Calheiros, se manifestava contra qualquer mudança no andamento do processo. O relator da comissão especial, Antonio Anastasia, que tem um ex-secretário preso por corrupção, por sua vez, rejeitou a inclusão dos áudios de Sergio Machado na defesa da Presidenta, aparentemente com receio de que a sua escuta possa produzir mais mudanças entre os senadores.
O fato é que o temor de que Dilma retorne ao Palácio do Planalto, que até pouco tempo era considerado praticamente impossível, tem levado o presidente interino a cometer atos mesquinhos contra ela. Depois de limitar o acesso ao Palácio da Alvorada, sitiando-a, e também proibir que ela utilize aviões da FAB em suas viagens pelo país, exceção feita apenas para os vôos a Porto Alegre, onde tem residência, Temer resolveu agora cortar as verbas para a alimentação dela e dos funcionários do Palácio da Alvorada, uma atitude que o apequena ainda mais diante do mundo e que provocou indignação dentro e fora do Brasil. É esse homem, que chegou ao poder de maneira traiçoeira após uma convivência de vários anos com a Presidenta, que hoje governa o país e faz agora a sua vingancinha por não ter se conformado com o papel de vice. Com gestos mesquinhos como esse torna mais evidente a sua falta de estatura para ocupar o mais alto cargo da Nação. E parece já ter esquecido que Dilma ainda é a Presidente da República, com seus direitos assegurados pela Constituição e pelo Senado.
Por falta de conselheiros equilibrados ou mesmo de discernimento, o presidente interino ainda não se deu conta de que cada vez que toma atitudes como essas decepciona os que chegaram a acreditar na sua capacidade de tirar o país da crise e, consequentemente, perde gradativamente o apoio dos que saíram às ruas para pedir o afastamento de Dilma. E, também, dos senadores que decidirão o futuro dela e dele. Além disso, até agora o seu governo, com menos de um mês, tem sido marcado pelas trapalhadas, com demissão de ministros e avanços e recuos, um vai-e-vém que o transformou num governo sanfona. Parte do povo, que parecia anestesiada pela campanha sistemática da mídia contra o governo Dilma, já acordou, manifestando com apupos a sua decepção e indignação por ter sido enganada, como aconteceu com o líder tucano Cunha Lima em sua terra, a Paraíba. Certamente por isso Temer ainda não teve coragem de sair às ruas.
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