quinta-feira, 5 de maio de 2016
Depois de Dilma...
Podem esfregar na cara dos senadores as provas da inocência da presidenta Dilma Roussef que isso não produzirá nenhum efeito. Para os golpistas não importa que ela seja inocente, pois já decidiram arrancá-la da Presidência da República de qualquer maneira, não mais pelos crimes de responsabilidade constantes do pedido de impeachment mas pelo que denominaram de ”conjunto da obra”, ou seja, os problemas decorrentes das crises política e econômica que eles próprios geraram. Convencidos de que ela não cometeu nenhum crime, conforme didaticamente explicado pelos juristas na Comissão Especial do Senado, os defensores do golpe buscam, cinicamente, justificar o seu voto com um discurso de oposição, acusando-a pela inflação, pelo desemprego, etc, etc. E a Comissão se transformou no palco de uma farsa, onde se busca dar aparência legal a um processo viciado desde o princípio, com uma visível e escandalosa violação da Constituição Federal para atender a um projeto de poder, orquestrado de fora para dentro, que não passa pelas urnas. E que inclui o banimento do ex-presidente Lula da vida pública.
No decorrer da execução desse projeto, que começou a evidenciar-se no julgamento do chamado “mensalão” e ganhou força com a Operação Lava-Jato, contando com a decisiva participação da grande imprensa para criminalizar os petistas numa campanha sistemática de ódio e intolerância, as máscaras foram caindo gradativamente, revelando a verdadeira cara dos agentes executores e, sobretudo, dos conspiradores e beneficiários do golpe. O combate à corrupção, que teve o aval da Presidenta e a aprovação do povo porque todos acreditavam na seriedade da ação, acabou revelando-se pano de boca para encobrir dos olhos da população o seu verdadeiro objetivo: fragilizar o governo da própria Dilma, de modo a facilitar a sua derrubada, e afastar o ex-presidente Lula do cenário político. Isso ficou cristalino com a seletividade dos investigados e dos vazamentos dos depoimentos, num conluio entre o Ministério Público, a Policia Federal, o Judiciário e a grande mídia. E as delações sem provas, arrancadas ao sabor dos interesses dos que ambicionam o poder, se tornaram a base para as prisões e condenações.
Diante do iminente afastamento da presidenta Dilma Roussef, com a consequente posse do vice-presidente Michel Temer, muitas das peças da engrenagem golpista que ainda atuavam disfarçadamente começaram a mostrar-se, agindo agora sem a menor cerimonia na execução da sua tarefa. É o caso, por exemplo, do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, que praticamente às vésperas da votação do impeachment de Dilma pela Comissão Especial do Senado decidiu denunciar o ex-presidente Lula ao Supremo Tribunal Federal, sob a acusação de “TENTAR comprar o silêncio” do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró. Depois de acusá-lo sem sucesso de “ocultação de patrimônio”, porque não conseguiram provar que ele era o dono do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia, essa suposta TENTATIVA de silenciar Cerveró é o mais novo crime de Lula. Um verdadeiro escárnio à inteligência do povo brasileiro.
Janot, que se manteve discreto até ser reconduzido por Dilma para a Procuradoria Geral da República, deu com essa denúncia o primeiro passo para a nova etapa da vergonhosa perseguição ao ex-presidente operário que, na visão vesga dos seus adversários, estará mais vulnerável depois da queda de Dilma, mesmo com a sua popularidade em alta, conforme atestam as pesquisas. Eles não se preocupam mais em dissimular a intenção de banir Lula da vida pública, na verdade o objetivo de toda essa operação que vem se arrastando há alguns anos, porque enquanto o “sapo barbudo” estiver bulindo ninguém mais conseguirá conquistar o poder pela via democrática, ou seja, pelo voto popular. E enquanto caçam o ex-torneiro mecânico por um suposto crime subjetivo, o deputado Eduardo Cunha, com um monte de inquéritos e provas de atividades ilícitas, afronta o próprio Procurador Geral da República, a Operação Lava-Jato e o Supremo Tribunal Federal, desafiando-os a afastá-lo do comando da Câmara Federal. “Daqui só saio em janeiro de 2017”, ele disse. E, pelo visto, ainda vai assumir o governo nos impedimentos eventuais de Temer, sob os olhares atônitos do mundo inteiro.
O país, na verdade, está perplexo diante do comportamento leniente do Supremo, que vem há vários meses procrastinando o julgamento do afastamento de Cunha da presidência da Câmara, onde ele usa e abusa do cargo com manobras para impedir que o Conselho de Ética casse o seu mandato. E tudo isso com a conivência dos zelosos moralistas do PSDB e do PMDB, que não movem um dedo para defenestrá-lo da presidência da Casa, obviamente porque a permanência dele no cargo atende a seus interesses. Do mesmo modo já comentam a boca pequena, nos corredores do Legislativo, que também o STF faz vista grossa para as suas diatribes porque ele deverá conduzir a votação e aprovação da proposta de aumento de vencimentos do Judiciário. Ou seja, fica evidente que todos os discursos moralistas permanecem mesmo apenas como discursos, porque ninguém parece disposto a abrir mão dos seus interesses em favor dos interesses maiores da Nação.
O fato é que a novela do impeachment da presidenta Dilma Roussef está chegando ao seu desfecho, o que, no entanto, não significa o fim dos problemas do país. A agitação nas ruas vai crescer de intensidade e os novos detentores do poder vão provar do mesmo remédio que ministraram a Dilma desde o início do seu segundo mandato. Na verdade, depois do afastamento dela da Presidência da República ninguém mais terá segurança neste país, principalmente os governantes de qualquer nível – municipal, estadual ou federal – porque a Constituição, vilipendiada, perdeu a sua autoridade. E ninguém precisará de prova para derrubar prefeitos, governadores e até o presidente, bastando para isso ter apenas a maioria nos legislativos. O mau exemplo, aliás, já está sendo seguido por algumas Câmaras de Vereadores no interior do país, onde os seus respectivos Cunhas estão convencidos da inutilidade da Carta Magna, o que, infelizmente, representa a falência das instituições. Enquanto se observa uma visível deterioração das instituições, por conta justamente de comportamentos desrespeitosos à Constituição, só uma se mantém incólume, forte e respeitada, ao largo das tricas e futricas que desaguaram no golpe parlamentar: as Forças Armadas. Até agora elas tem se mantido quietas e discretas, quase esquecidas, o que, no entanto, não significa que estão alheias aos acontecimentos.
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