terça-feira, 17 de maio de 2016
A banda podre
O governo interino de Temer começou muito mal sob qualquer ângulo que se pretenda vê-lo. Começou nomeando um ministério sem representantes das minorias, sem nomes expressivos das mais diversas atividades e em sua maioria envolvida com problemas na Justiça. Representam, na verdade, com raríssimas exceções, a banda podre do país, precisamente aquela que tramou e executou o golpe. Até a imprensa estrangeira percebeu que o impeachment da presidenta Dilma Roussef foi aprovado no Congresso por uma maioria obtida com os votos de parlamentares investigados pela Justiça, acusados de corrupção, cujos partidos indicaram os ministros. Diante disso, ninguém acredita que Temer, ao contrário do que afirmou no discurso de posse, fortalecerá a Operação Lava-Jato, pois isso significará suicídio, já que muitos dos seus ministros estão pendurados nas mãos do juiz Sergio Moro. E muitos se perguntam: que moral terá esse governo para combater a corrupção?
Além disso, o governo parece uma orquestra desafinada e sem maestro com batuta, em que cada componente, talvez empolgado com o cargo, resolveu dar o tom de acordo com a sua própria sensibilidade musical, sem consultar o chefe, que também parece perdido como cego em tiroteio. O primeiro deles foi o novo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que, além de revelar tendências ditatoriais pregando uma dura repressão aos movimentos populares, ainda resolveu sugerir mudanças no critério para escolha do chefe do Ministério Público, o Procurador Geral da República, provocando reação imediata dos procuradores e confirmando suspeitas quanto às intenções do governo interino. Por conta disso, nem bem sentou na cadeira de Ministro e já levou um puxão de orelhas do Presidente em exercício, que não o autorizou a falar em seu nome.
Em suas declarações à imprensa, todos disputando para ver quem ocupa mais espaço, os novos ministros, na verdade, estão confirmando as suspeitas quanto ao retrocesso que muitos alertaram sobre o governo decorrente do golpe. O novo ministro da Saúde, Ricardo Barros, por exemplo, já acenou com medidas destinadas a reduzir a cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS), fazendo uma afirmação no mínimo esdrúxula: “Nós não vamos conseguir sustentar o nível de direitos que a Constituição determina”. O ministro Osmar Terra, por sua vez, também sinaliza com um corte de no mínimo 10% no Bolsa Familia, desmentindo o que disse Temer na sua posse. E o ministro das Relações Exteriores, José Serra, que inaugurou a diplomacia do porrete, no dizer do jornalista Mello Franco, já fala em fechar embaixadas na África e no Caribe. O governo nem bem começou e já estão destruindo tudo o que Lula e Dilma construíram. Até agora nenhuma boa notícia, só cacetada.
Ao mesmo tempo em que Temer tratou, logo no primeiro dia do seu governo interino, de extinguir o Ministério da Cultura, a Controladoria Geral da União e os ministérios do Desenvolvimento Agrário, das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, conforme a Medida Provisória 726, de 12 de maio em curso, o ministro do Turismo, Henrique Alves, mantido na pasta que ocupava no governo Dilma, se sentiu encorajado a dizer que pretende legalizar os cassinos, os bingos e o jogo do bicho. Paralelamente, anuncia-se a escolha de Pedro Parente, ministro do governo FHC, para o comando da Petrobrás. Parente, junto com José Serra e Pedro Malan, todos ministros de FHC, responde a duas ações de reparação de danos por improbidade administrativa na 1ª. Turma do Supremo Tribunal Federal. Essas ações, que há oito anos haviam sido arquivadas por determinação do ministro Gilmar Mendes, foram recentemente desarquivadas por decisão do ministro Luis Barroso.
Esse é um pequeno retrato de apenas seis dias do governo interino de Temer, o que já permite aos brasileiros uma pálida idéia do que os espera caso a presidenta Dilma seja afastada em definitivo do Palácio do Planalto. O retrocesso já começou e, infelizmente, deverá acentuar-se no decorrer dos dias, confirmando todos os avisos dados antes mesmo do vergonhoso espetáculo da votação do impeachment pela Câmara dos Deputados. Esse pessoal não consegue enganar mais ninguém e a melhor prova disso foi o panelaço de domingo, durante a entrevista do Presidente interino ao “Fantástico”. Aparentemente as mesmas pessoas que batiam panelas quando Dilma falava, convencidas de que o afastamento dela era a melhor solução para o Brasil, já perceberam o seu êrro de avaliação e corrigiram a direção do panelaço. Até a “Folha de São Paulo”, que apoiou o golpe, já classificou o ministério de “medíocre”. E o governo Temer está só no começo.
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