segunda-feira, 4 de julho de 2016

FHC preocupado

Se os responsáveis pela Operação Lava-Jato não deixarem de se preocupar tanto com Lula, procurando com lupa o que ele não fez, e não deixarem de cozinhar em banho-maria as investigações de tucanos e peemedebistas, que hoje estão no comando do país, a vaca vai pro brejo, ou seja, a operação terá mesmo de encerrar as suas atividades caso o Senado confirme o impeachment de Dilma e o vice Michel Temer seja efetivado na Presidência da República. Além do próprio Temer e do seu chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que já defenderam publicamente a extinção da Lava-Jato, agora também o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, guru do PSDB, quer o mesmo, conforme deixou evidente em artigo publicado neste final de semana. "Não é hora só para acusações, é hora também para a busca de convergências”, ele disse. Fazendo verdadeira acrobacia verbal para pedir mais explicitamente o fim da lava-jato sem, contudo, parecer que está defendendo corruptos, FHC faz antes um contorno muito grande pela África, Oriente Médio, Turquia, Iraque até chegar de volta ao Brasil. Depois de dizer que “está na moda, por motivos compreensíveis, colocar no pelourinho a política e os políticos”, o ex-presidente tucano afirma que “sem alguma forma de instituição política e sem políticos que a manejem, não será suficiente botar corruptos na cadeia para purgar erros de condução da economia e da política”. E acrescenta: ”Nem todos os políticos basearam sua trajetória na transgressão, e nem todos que financiaram a política, bem como os que receberam ajuda financeira, foram doadores ou receptores de “propinas”. FHC, que aprovou as investigações e prisões realizadas pela Lava-Jato enquanto os alvos eram petistas, agora quer o fim da operação porque os seus jatos estão chegando perto dele, do seu partido e dos peemedebistas do governo interino que ajudou a instalar. Como diz aquele velho ditado nordestino: “Fogo no fiofó dos outros é refresco”. O ex-presidente, na verdade, está defendendo a própria pele, pois Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobrás, em sua delação premiada, revelou que o governo FHC recebeu 100 milhões de dólares de propina na venda da Perez Compac argentina. O ex-senador Delcidio do Amaral, que foi diretor da Petrobrás no governo tucano, também fez acusações à gestão do tucano, as quais não chegaram a merecer a devida atenção dos investigadores da Lava-Jato. Os ventos, porém, tendem a mudar, porque está ficando difícil segurar a blindagem dos tucanos e assemelhados. Fernando Henrique, aliás, também não consegue mais sustentar os argumentos que esposava antes para justificar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Em entrevista ao programa Up Front, da rede de televisão Al Jazeera, comandado pelo jornalista britânico Mehdi Hasan, o ex-presidente se embaraçou e gaguejou para dizer que Dilma não cometeu nenhum crime no sentido penal, mas político, o que obviamente não estriba o seu afastamento, já que isso não está previsto na Constituição. Ele disse ainda que o impeachment foi reivindicação do povo, no que foi contestado pelo entrevistador, que lembrou pesquisa do DataFolha, segundo a qual a maioria dos brasileiros rejeita Temer. FHC, embaraçado ao ser pego na mentira, se limitou a dizer que não conhecia a pesquisa. E, finalmente, acusou o PMDB de espalhar nas redes sociais o seu caso com a jornalista Mirian Dutra, com quem teria tido um filho. O fato é que desde o princípio todos sabiam que não houve nenhuma pedalada fiscal e que Dilma não cometeu nenhum crime de responsabilidade, conforme comprovado agora pela perícia do Senado, mas assim mesmo deputados e senadores votaram pelo afastamento dela. Quanto aos deputados já se sabe que a maioria funciona como marionete, cujos cordéis são manipulados pelo deputado Eduardo Cunha que tem o controle deles, mas no que diz respeito aos senadores ainda há uma incógnita sobre quem está por detrás deles. Causou estranheza que até ex-ministros do governo Dilma, entre eles o senador Edson Lobão, tivessem votado pelo afastamento dela. Embora não admitam publicamente, os senadores certamente têm consciência da inocência da Presidenta afastada, não havendo, portanto, justificativa honesta e convincente para o voto pela sua saída definitiva. Diante disso, que tipo de explicação serão capazes de dar a seus eleitores para justificar o seu voto contrário a ela? Na realidade, se consumado o afastamento definitivo de Dilma será muito difícil aos senadores uma explicação convincente, para as sociedades interna e externa, sobre o voto deles. E uma das perguntas que mais circularão no mundo será esta: Por que tiram uma Presidenta honesta para colocar corruptos no governo? Assim como FHC gaguejou e se embaraçou todo para responder a um jornalista estrangeiro ninguém conseguirá fazê-lo. Afinal, apesar do enorme esforço da mídia comprometida para criminalizar a Presidenta Dilma e da Lava-Jato para criminalizar Lula, nem com lupa ninguém conseguiu até hoje encontrar algo que possa justificar o afastamento dela e qualquer penalidade ao ex-presidente operário. Tratar-se-á, se de fato consumado, de um golpe sem qualquer justificativa, a não ser a ambição pelo poder.

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