domingo, 31 de julho de 2016
Governo entreguista
O chanceler interino José Serra fez uma enorme acrobacia, em artigo publicado no último fim de semana, para justificar a sua tentativa de impedir o Uruguai de transmitir a presidência do Mercosul à Venezuela, descumprindo regras. Não adiantou levar a tiracolo, para reforçar a sua ação, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pois o presidente uruguaio rechaçou a pressão dos dois tucanos. Para quem participou do golpe que afastou a presidenta Dilma Roussef do Palácio do Planalto, os argumentos de Serra em seu artigo parecem piada. “Todos nós acompanhamos com preocupação os desdobramentos da crise política, econômica e humanitária na Venezuela”, ele disse, acrescentando que “o conflito entre Executivo e Congresso paralisa o país, e a ação do Judiciário é objeto de sério questionamento”. Se não citasse a Venezuela muita gente seria capaz de jurar que ele estava falando do golpe no Brasil.
Serra, na verdade, que integra o grupo de entreguistas liderado pelo ex-presidente FHC, em cujo governo o Brasil foi praticamente leiloado, está empenhado não apenas em levar o governo interino de Michel Temer a vender o resto do patrimônio nacional que sobrou da fúria privatizacionista do governo tucano como, também, a abrir caminho na América do Sul para a retomada do predomínio norte-americano em nosso continente. Funcionando como ponta-de-lança dos interesses dos Estados Unidos nos organismos sul-americanos o chanceler interino, como representante da maior nação do continente, quer usar o peso do Brasil para forçar os demais países – que seguindo o exemplo brasileiro no governo Lula se tornaram mais independentes da influência norte-americana – a se atrelarem à liderança do Tio Sam. Como a Argentina já capitulou no governo Macri – e por isso mereceu uma visita do presidente Barack Obama – Serra quer pressionar as outras nações sul-americanas a trilharem o mesmo caminho.
Embora com pouco mais de um mês no comando da nação, como presidente interino, Michel Temer já mobiliza todos os setores para recolocar o Brasil na condição de quintal dos Estados Unidos, de onde foi resgatado pelo então presidente Lula. E para isso conta com a valiosa e experiente colaboração dos tucanos, agora representados na empreitada pelo ministro interino das Relações Exteriores José Serra. Como se recorda, antes mesmo do golpe, Serra apresentou no Senado um projeto abrindo o pré-sal para o capital estrangeiro e retirando da Petrobrás a obrigatoriedade da sua participação na exploração. O projeto, já aprovado pelo Senado e atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados, será mais um passo para a privatização da mais importante estatal brasileira, um sonho entreguista que FHC tentou mas não conseguiu materializar no seu governo. Se os nacionalistas brasileiros não se mobilizarem para impedir esse verdadeiro crime de lesa-pátria – tal como a venda da Vale com as riquezas minerais do subsolo – o Brasil voltará a ser colônia da grande nação do norte.
Mas não é apenas a Petrobrás que os golpistas estão querendo entregar para o capital estrangeiro. Também estão relacionados o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste e o Banco da Amazonia; aeroportos, portos, rodovias, etc. O ministro interino dos Transportes, Mauricio Quintella, revelou que até o final deste mês de julho será anunciado o leilão dos aeroportos. Ele disse mais à Reuters que o governo interino vai reapresentar ao Congresso a proposta que derruba a restrição à participação do capital estrangeiro nas companhias aéreas brasileiras. Se tal proposta for aprovada, o que parece favas contadas considerando que a maioria dos congressistas é formada por entreguistas – os mesmos que votaram pelo impeachment da presidenta Dilma Roussef – as empresas aéreas nacionais poderão ter até 100% do capital estrangeiro, ou seja, deixarão de ser brasileiras.
Por sua vez, o presidente da Embratur, Vinicius Lummertz, anunciou que vai propor ao governo o fim da exigência do visto de entrada no Brasil para os norte-americanos. Será que os Estados Unidos também extinguiriam o visto para a entrada de brasileiros em seu território? O espírito de vira-lata, que tomou conta do governo de FHC, parece que baixou agora no governo interino de Temer. Estão todos querendo transformar o Brasil em casa de mãe Joana e entregar o que sobrou do patrimônio vendido por Fernando Henrique, autor de uma tese segundo a qual um país subdesenvolvido só se desenvolve atrelado a um desenvolvido, de preferência os Estados Unidos. Tem-se a impressão de que FHC e Serra, se tivessem poder para tanto, anexariam o nosso país ao vizinho do norte. Aliás, no século passado surgiu uma proposta para que o Brasil extinguisse suas Forças Armadas para deixar ao exército norte-americano a tarefa de defender o nosso território. Obviamente essa proposta jamais seria aprovada porque a sua aceitação felizmente não dependeria dos entreguistas, mas dos nossos militares, reconhecidamente nacionalistas. Mas não se deve perder de vista a movimentação dos entreguistas, pois eles não desistirão facilmente de entregar o nosso país ao capital estrangeiro.
Na verdade, a única maneira de evitar que o Brasil seja vendido é impedir que Temer seja mantido no governo. Diante dessa ameaça, aumenta a responsabilidade dos senadores que julgarão o mérito do impeachment da presidenta Dilma Roussef em agosto próximo. Se eles confirmarem o seu afastamento, mesmo conscientes do golpe pela absoluta inexistência de crime de responsabilidade, então serão co-responsáveis pelos males ao país daí advindos, especialmente pela entrega de nossas riquezas ao estrangeiro. E responderão por isso perante a História.
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