sábado, 8 de agosto de 2015
O grande espetáculo
O ex-ministro Joaquim Barbosa, de triste memória, fez escola. Ele aproveitou o julgamento do chamado mensalão, pelo Supremo Tribunal Federal, para ganhar notoriedade, transformado em celebridade pela grande mídia, que o usou como instrumento para atingir seus objetivos políticos. A revista “Veja”, que não perde oportunidade para investir contra o governo e petistas, especialmente contra Lula, fez uma reportagem de capa com ele sob o título de “O menino pobre que mudou o Brasil”. Até hoje ninguém sabe exatamente o que foi mesmo que ele mudou no Brasil, a não ser que a desacreditada revista pretendesse fazer referência ao preceito jurídico segundo o qual “todos são inocentes até prova em contrário”. Depois da sua passagem pelo STF todos passaram a ser culpados até provarem sua inocência.
O pessoal da Operação Lava-Jato, tal como Barbosa, também corre atrás da fama e está usando as investigações sobre corrupção na Petrobrás para ganhar o estrelato, contando para isso também com a cobertura da grande mídia. Até transformaram as prisões num grande espetáculo, com a presença de cinegrafistas e repórteres, avisados previamente do dia e hora das ações da Policia Federal. Parece filme policial americano, com os agentes usando óculos escuros e escoltando os presos. Em seguida, convocam a imprensa para uma entrevista coletiva em que todos – juiz, procuradores e delegados – dizem alguma coisa. Ninguém pode se queixar, porque todos tem oportunidade igual de aparecer diante das câmeras, embora alguns se estendam um pouco mais em suas considerações sobre as prisões.
O juiz Sergio Moro, que até já foi homenageado pela Globo com o título de “Personalidade do Ano”, é a grande estrela do espetáculo. Consciente do seu poder, não contestado nem pelo STF, ele prende quem bem entende – já prendeu um almirante e pelo andar da carruagem vai acabar prendendo um general – baseado apenas em suas interpretações pessoais, a partir de delações premiadas. Provas? Bem, isso é coisa da Justiça do passado. Hoje, depois da presença de Joaquim Barbosa no Supremo, basta a teoria do domínio do fato – ou seja, notícias publicadas pela mídia – para condenar alguém, de preferência petista ou ligado aos governos do Partido dos Trabalhadores.
É claro que todo brasileiro aprova o combate à corrupção, com a necessária punição dos corruptos, mas o que a parcela mais esclarecida da população condena é a politização das investigações, onde só as pessoas com algum vínculo com o PT ou o governo são presas, blindando-se escandalosamente tucanos e oposicionistas. Além disso, é visível a intenção de envolver o ex-presidente petista, conforme o desejo escancarado dos controladores da grande mídia, de modo a tornar inviável a sua possível candidatura nas próximas eleições presidenciais.
Depois da prisão do preso José Dirceu, em meio ao já conhecido espetáculo midiático, recrudesceram os rumores sobre a iminente prisão do ex-presidente Lula, o principal alvo de toda essa operação, pois os mentores do plano não conseguem esconder o temor de que ele volte ao Planalto em 2018. Já há rumores, também, de que ele seria nomeado ministro da Defesa do governo Dilma, o que lhe daria foro especial. Seria, sem dúvida, uma oportunidade para o juiz Sérgio Moro testar o seu poder: um juiz de primeira instância prendendo o comandante geral das Forças Armadas, sem nenhum gemido dos militares, certamente seria uma prova de fogo para a solidez das instituições democráticas no Brasil. Alguém vai pagar pra ver, justo no mês de agosto?
Enquanto isso, os tucanos conhecidos e os enrustidos intensificam a movimentação nos porões da República para derrubar a presidenta Dilma Roussef, contando com o decisivo apoio da grande mídia e de parte da acovardada base aliada. Os tucanos, que vivem falando em democracia, parecem convencidos de que o impeachment é um ato democrático, mesmo sem nada que justifique a sua aprovação. Eles tem uma visão vesga de democracia, conforme é fácil constatar pelas declarações do vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman, para quem a “apertada” diferença de alguns milhões de votos sobre o seu concorrente Aécio Neves retirou de Dilma a legitimidade do seu segundo mandato. O cinismo parece ser a marca registrada de muitos tucanos. Goldman sabe, aliás como todo mundo, que numa democracia até a diferença de um único voto legitima o mandato do vencedor.
O ex-presidente FHC, por sua vez, depois que alguém aventou a possibilidade de um diálogo dele com Lula, passou a se julgar o juiz do mandato de Dilma, cuja manutenção ou não estaria em suas mãos. E do alto da sua empáfia mandou dizer da Sardenha, onde se encontrava: “Por favor, não interrompam as minhas férias!” Férias de quê? Ninguém nem sabia que ele trabalhava... A verdade é que ele, assim como parte expressiva do seu partido, está pouco se lixando para os destinos do Brasil. O que eles querem mesmo, a qualquer custo, é o poder, mesmo através de um golpe. E parece ser exatamente isso, a julgar pelo clima criado pelo noticiário, que muitos esperam aconteça neste mês de agosto.
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