sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A lição de Ana Luiza

Nem tudo está perdido. A estudante de medicina Ana Luiza Lima, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, é o mais novo exemplo de que nem todos estão com a mente entorpecida pela campanha de ódio que fez a cabeça de muitos. Por ter afirmado, em discurso durante cerimonia que marcou o segundo aniversário do Mais Médicos, que realizou o sonho de estudar medicina graças aos programas do governo Dilma Roussef, ela foi agredida brutal e covardemente nas redes sociais por médicos e futuros médicos, que a chamaram, entre outras coisas, de “vadia” e “medica vagabunda pobre”. O episódio revela o tamanho do ódio disseminado pela mídia e oposicionistas, que transformou pessoas em animais. Até antes das eleições presidenciais do ano passado, cujo resultado fez o candidato derrotado Aécio Neves desencadear uma campanha sistemática odienta contra a Presidenta, ninguém seria capaz de imaginar que chegasse a esse nível a virulência das agressões dos opositores. Eles não aceitam que alguém pense diferente deles e atacam, de modo animalizado, todos os que não rezam por sua cartilha, até mesmo uma jovem estudante pobre cujo único pecado foi agradecer ao governo a oportunidade de estudar. É inconcebível que médicos, cuja profissão é salvar vidas, atentem justo contra a vida de uma de suas colegas por demonstrar publicamente a sua gratidão. A jovem e intimorata Ana Luiza, no entanto, mostrou que está bem acima dessa malta que, felizmente, é minoria entre os profissionais de saúde. Depois de informar que recebeu várias ameaças, inclusive de levar uma surra e de ser impedida de conseguir emprego depois de formada, a estudante disse que desde cedo aprendeu a não responder ódio com violência (um tapa de luvas de pelica na cara dos imbecis que a agrediram) e que suas palavras não foram dirigidas “para essa classe covarde de profissionais” mas para “os profissionais de saúde que dão o sangue todo dia, mesmo em condições péssimas de trabalho, salários atrasados, saúde abandonada e caótica, verdadeiros heróis, que acreditam e lutam por um mundo transformado a partir da educação e do amor”. Seria salutar que os incendiários tucanos, liderados pelo senador Aécio Neves, atentassem para o conteúdo da mensagem dessa jovem potiguar e parassem de destilar ódio, que só serve para agravar os problemas do país e provocar reações desagradáveis e perigosas. Aécio, aliás, esperto como é, aproveitou o desabafo indignado do presidente da CUT, Vagner Freitas, para manifestar-se perplexo. Freitas disse que o povo deveria ir às ruas entrincheirados e de armas na mão para defender o mandato da presidenta Dilma Roussef, caso insistissem em derrubá-la. O tucano, porém, não mostrou a mesma perplexidade quando seu colega Aloysio Nunes disse que eles “deveriam sangrar a Presidenta”. E muito menos baixou o tom da convocação para a manifestação contra o governo neste domingo, quando os batedores de panelas (ou será paneleiros?) pretendem ir às ruas para pedir o impeachment da Presidenta. Tomara que tudo transcorra em paz, pois, ao contrário do que fazem crer o noticiário e as pesquisas, nem todos a querem fora do Planalto. Na verdade, depois das manifestações favoráveis a Dilma realizadas por diversos segmentos da sociedade, entre eles entidades de classe, movimentos sociais e juristas, parece difícil acreditar na lisura das pesquisas que a apresentam com apenas 8% de aprovação popular. Apesar da campanha sistemática contra ela desenvolvida pela mídia, que obviamente exerce forte influência entre as pessoas de mente fraca e certamente se refletiria nas pesquisas, observa-se nas redes sociais que nem todos embarcaram nessa onda. Conclui-se que se é possível manipular-se o noticiário, no qual destaca-se apenas os aspectos negativos e apresenta-se o país como em situação falimentar, por que não se manipularia as pesquisas, como parte do plano de desgaste do governo? Até porque o instituto que faz pesquisas periódicas pertence a um dos grupos de comunicação mais radicais contra o governo. De qualquer modo, seria prudente evitar-se radicalismos nas manifestações dos dois lados neste domingo. Manifestações públicas contra ou a favor de qualquer governo são legítimas em regimes democráticos, mas é preciso que haja respeito pela posição do outro. Afinal, somos todos brasileiros e todos, independente de raça, credo ou posição social, desejamos o melhor para o nosso país.

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