domingo, 5 de agosto de 2012

O Mensalão

O lúcido Papa João Paulo II disse, certa vez, que quem faz a importância do fato é a mídia. Estamos hoje vivenciando a comprovação da observação do Sumo Pontífice com a história do denominado “Mensalão”. A chamada “Grande Imprensa”, instalada no eixo Rio-São Paulo de onde dita os humores do país de acordo com os interesses políticos e econômicos da elite que a controla, dedica diariamente grandes espaços ao julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, da ação penal 470 que o ex-deputado Roberto Jefferson, beneficiário confesso da operação, apelidou de “Mensalão”. E não se limita a noticiar os fatos, mas opinando e fazendo pressão sobre a Corte Suprema, em especial sobre ministros que poderiam, na visão de determinado grupo, absolver os réus, frustrando objetivos políticos camuflados na suposta preocupação com a moralidade. Os alvos preferidos são os ministros Joaquim Barbosa e Dias Toffoli. Diante da oportunidade de aparecer em destaque na mídia, inocentes úteis, recrutados do seio do povão, são utilizados para dar suporte popular ao noticiário tendencioso, enquanto figuras de projeção também são usadas para oferecer um ar de seriedade e isenção à cobertura. Chega-se, inclusive, a estimular-se dissensões no próprio STF para afastar-se possíveis obstáculos aos projetos políticos em jogo. O ministro Marco Aurélio, por exemplo, criticou o seu colega Joaquim Barbosa pela discussão com o ministro Lewandowski. “Não gostei. Pela falta de urbanidade”, ele disse, segundo a “Folha de São Paulo”. E Barbosa respondeu: “É com extrema urbanidade que muitas vezes se praticam as mais sórdidas ações contra o interesse público”. Já se questiona, até, a próxima eleição de Barbosa para presidir a Corte. Depois da leitura do relatório do Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, que não economizou nas tintas para pedir a condenação dos réus, embora sem apresentar qualquer prova convincente, nesta segunda-feira será a vez dos advogados apresentarem a defesa. Diante da importância que a mídia deu ao julgamento hoje a palavra mais falada no país é “Mensalão”, denominação criada pelo ex-deputado Roberto Jefferson para apontar outros supostos beneficiários de propinas. Reconduzido à presidência nacional do PTB, Jefferson, um dos réus, acompanha do hospital, onde se recupera de uma cirurgia para retirada de um tumor do pâncreas, o desenrolar do julgamento, que deverá se prolongar até setembro. Apesar das pressões exercidas pela chamada “Grande Imprensa “ não se pode prever ainda o desfecho do julgamento, mas ninguém tem dúvidas de que por trás de toda essa onda estão as eleições, especialmente a de São Paulo, porque o alvo principal da campanha, embora não conste da ação penal 470, é o ex-presidente Lula. A chamada elite nacional não digeriu até hoje os oito anos de Lula presidente e teme que ele possa voltar em 2014. E para impedir que ele ganhe mais fôlego com a eleição de Fernando Haddad para a prefeitura paulista vale tudo, até dizer que o “STF definirá o futuro do Brasil”, um descarado exagero que não chega a afetar as convicções do povo brasileiro.

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