quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Quo vadis?
A hipocrisia continua dominando a política nacional, em especial a campanha eleitoral, com a decisiva contribuição da chamada Grande Imprensa. Percebe-se, sem muita dificuldade, que a preocupação maior não é com o país, mas com o poder. E para conquistá-lo vale tudo. Destruir reputações e enfraquecer instituições é apenas parte do processo, que tem como meta principal a retirada do PT do Palácio do Planalto, não importando os custos da empreitada para o país. O desejo desesperado de defenestrar o Partido dos Trabalhadores do poder obliterou a visão inclusive de pessoas até então consideradas equilibradas, que não mais se importam com os destinos do país, desde que a presidenta Dilma seja derrotada.
A matéria de capa da “Veja” deste final de semana é mais um capítulo dessa novela de final imprevisível. Sob o pretexto de delação premiada, o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa relacionou um magote de pessoas, a maioria parlamentares conhecidos - e quase todos ligados ao governo – como beneficiários de um suposto esquema de propinas que teria como epicentro o doleiro Alberto Yousseff. Nem o ex-governador Eduardo Campos, morto no acidente do jatinho em Santos, escapou, o que também salpica lama na candidata do PSB, Marina Silva, que o substituiu na corrida sucessória presidencial. Cabe, então, uma perguntinha inocente: essa delação está premiando quem?
A julgar por tudo o que se divulga sobre Yousseff, preso na operação lava-jato da Policia Federal, esse doleiro parece mais um enorme polvo, cujos tentáculos alcançam quase todo mundo em todos os recantos do país, menos, estranhamente, a seara do PSDB e seus aliados, os quais, considerando-se a omissão do noticiário da Grande Midia, estariam imunes a tudo isso que vem sendo denunciado, apesar do aécioporto, do cartel do metrô de São Paulo, do mensalão tucano, etc. A mídia comprometida prefere, por motivos óbvios, não dar atenção a essas “bobagens”, porque para ela só vale como notícia o que pode tirar votos de Dilma e beneficiar Aécio. Então, não parece difícil descobrir quem a delação está premiando.
Alguns analistas acreditam que a reportagem da revista recolocará o candidato tucano na disputa – na verdade esse foi o seu objetivo – mas no lugar onde ele se encontra, a não ser que haja um milagre, dificilmente a sua candidatura conseguirá sobreviver até o final da campanha, mesmo que até lá se fabriquem outros “escândalos”. Antes mesmo de Marina entrar no páreo ele já não conseguia sair do lugar e depois dela a situação dele ficou muito mais difícil. Talvez o maior adversário de Aécio seja ele mesmo, na medida em que se apresenta como a única solução para os problemas do país mas não consegue transmitir confiança ao eleitor, já que nos seus discursos ferinos se limita a criticar, até de maneira grosseira, a presidenta Dilma, sem apresentar nenhuma proposta que sensibilize o povo. Tem-se a impressão de que ele está enganando.
A reportagem da “Veja”, sempre em tom de escândalo quando envolve alguém ligado ao governo, tem, obviamente, o nítido objetivo de influenciar as eleições, contando com a reação dos que sequer lêem o texto e já condenam os nomes citados sem raciocinar, só com base nas manchetes e nas fotos. Até porque neste caso não foi apresentada nenhuma prova contra ninguém e, portanto, por enquanto é apenas a palavra de Roberto Costa contra a das pessoas citadas por ele, inclusive deputados, senadores, governadores e até um morto, Eduardo Campos. A investigação que, segundo o ministro da Justiça, corre em segredo de justiça – segredo?? – sequer foi concluída, não se sabendo como o depoimento vazou para a revista. Para a mídia oposicionista, porém, isso não importa, desde que os seus objetivos sejam alcançados, ou seja, contribuir para catapultar Dilma do Planalto e melhorar a vida do seu candidato tucano.
A estratégia usada agora é a velha conhecida de sempre: a revista publica o “escândalo” e os outros veículos que integram a Grande Imprensa oposicionista repercutem, dando uma dimensão gigantesca a qualquer fato ou factóide que possa atingir o governo. Os parlamentares oposicionistas fazem a sua parte, com discursos indignados classificando a notícia de “gravíssima”e pedindo a criação de CPI. Tudo jogo de cena para impressionar o eleitor e impedir que ele vote na candidata do PT, de modo a apeá-la do poder. E em nome da “liberdade de expressão” a Grande Midia, com a sua vergonhosa passionalidade, vai continuar alimentando o assunto diariamente, sem apresentar nenhum fato realmente comprometedor, destacando apenas declarações acusatórias à Presidenta. Até onde isso vai levar o país, ninguém sabe.
E enquanto o seu candidato Aécio Neves, com sua língua afiada, vai se afogando no mar eleitoral esperando que “escândalos” fabricados como esse se transformem em sua tábua de salvação, a candidata Marina Silva passa por ele surfando na crista da onda, já causando preocupações também ao PT, cuja candidata à reeleição está enfrentando dificuldades para acompanhá-la. Com um discurso prolixo e ambíguo que ninguém entende – e talvez por isso mesmo agrade a muitos – a ex-seringueira vai avançando rumo ao Planalto, segundo as últimas pesquisas, com chance de vitória no segundo turno. Permanece, porém, uma incógnita quanto ao rumo que dará ao país, caso seja eleita. Quo vadis, Marina?
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