quinta-feira, 4 de setembro de 2014
Conformação
As comparações que a presidenta Dilma Roussef fez entre os governos do PSDB e do PT, durante o debate na Band, quando afirmou que o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso havia “quebrado” três vezes o Brasil, parece que doeram muito no candidato tucano Aécio Neves, no seu “ministro” Arminio Fraga e no próprio FHC. Respondendo na oportunidade à Presidenta, Aécio disse que ela governava olhando o passado pelo retrovisor, sem preocupação com o presente e sem projetos para o futuro. Sem dúvida uma frase de efeito, bem construída, mas sem conteúdo e nenhuma praticidade.
Justamente por não ter a malícia de raposas políticas como o senador tucano, com apurada retórica em seus discursos, Dilma, que se caracteriza por sua capacidade em tomar decisões e colocá-las em prática, não replicou no mesmo diapasão. Ela poderia ter lembrado a Aécio, por exemplo, que quem dirige sem olhar o retrovisor pode provocar acidentes. E mais: é corrigindo os erros do passado que se melhora o futuro. Ninguém, governante ou não, pode ignorar o passado, como, aliás, o próprio tucano, que costuma repetir à exaustão que se deve a estabilidade econômica do país ao governo de FHC, responsável, segundo ele, pela implantação do Plano Real.
A afirmação, na verdade, é uma grande mentira, pois o Plano Real e, consequentemente, a estabilidade econômica, são frutos do governo de Itamar Franco. Alguém pode argumentar: mas Fernando Henrique era o ministro da Fazenda. Certo, mas quem manda no governo é o presidente, a quem são creditadas todas as decisões. Por isso os planos econômicos sempre tiveram o nome dos presidentes: plano Collor, plano Sarney, etc. Ministro é auxiliar e pode fazer o melhor plano do mundo que, se não for aprovado pelo presidente, terá como destino o cesto de lixo. Além disso, por que só no governo FHC as ações foram creditadas a ele e não ao seu ministro da Fazenda? Ao que parece eles apostam na idéia de que o povo tem memória curta e, também, na máxima de Confúcio, segundo a qual “uma mentira dita mil vezes vira verdade”.
O próprio ex-presidente FHC, aliás, sem poder afirmar o que sabe não ser verdade, disse, em recente artigo intitulado “Dilma entende pouco de economia”, que “desde quando assumi o ministério da Fazenda, no governo Itamar, começamos a refazer a credibilidade do país”. E acrescentou: “Fizemos em 1994 o Plano Real, sem apoio do FMI, e erguemos a economia”. Não é difícil perceber a sua indisfarçável pretensão quando insinua que foi ele, quando “assumiu o Ministério da Fazenda”, que começou a mudar tudo. De onde se conclui que sem ele o governo Itamar seria um fiasco. Pelo menos não teve a cara-de-pau, como seus correligionários, de afirmar ter sido ele o autor do Plano Real.
O ex-presidente tucano inicia o seu artigo, em resposta às afirmações da Presidenta, dizendo: “Agora vejo o motivo pelo qual a presidente Dilma Roussef não conseguiu obter grau de pós-graduação na Unicamp: ela entende pouco de economia”. E o sociólogo por acaso entende? Foi ele quem elaborou o Plano Real ou foram os economistas que integravam a equipe de assessores do governo Itamar Franco?
Depois de tentar justificar as dificuldades financeiras enfrentadas durante o seu governo, em razão de crises externas, o ex-presidente admitiu que em 2002 a situação esteve muito difícil como conseqüência do que ele chamou de “efeito Lula”. O “ministro” de Aécio, Arminio Fraga, foi mais claro, também em artigo, ao dizer que “em 2002, o Brasil quase quebrou, sim, em função do medo do que faria o PT no poder”. Ele só esqueceu de dizer que quem criou esse clima de terror no país, sob o argumento de que a eleição de Lula provocaria o caos, foi o próprio PSDB ao veicular, na propaganda eleitoral do horário gratuito, um vídeo em que a atriz Regina Duarte, fazendo cara de pavor, dizia: “Tenho medo!”.
Mas agora isso não importa muito porque nos 12 anos do governo petista o Brasil cresceu e, entre outras coisas, pagou a dívida com o FMI, melhorou consideravelmente a vida do seu povo, tirou mais de 40 milhões de brasileiros da linha de pobreza e se tornou uma das maiores economias do mundo, respeitado ainda por sua posição de independência no concerto das nações. Os aspirantes oposicionistas ao Palácio do Planalto obviamente não podem dizer isso, mas ao invés da busca de votos com um discurso negativo certamente teriam mais êxito apresentando suas propostas para consertar o que consideram errado no país. Exatamente por conta desse discurso ultrapassado é que o candidato tucano Aécio Neves, ainda patinando no segundo lugar, viu Marina Silva passar por ele como um furacão na corrida sucessória. E hoje já parece conformado em assistir um segundo turno com duas mulheres, uma do PT e a outra oriunda do mesmo partido.
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Um comentário:
O sociólogo FHC, o mentiroso que cita Sorbonne sem nunca ter dado aulas por lá, me lembra muito o nome daquele filme "Somewhere in Time" (Em Algum Lugar do Passado).
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