sábado, 30 de agosto de 2014
O debate
Dos sete presidenciáveis que participaram do debate promovido pela Band, na noite de terça-feira, Marina Silva foi quem mais se destacou. Embalada pela preferência de 29% do eleitorado, 10% à frente do tucano Aécio Neves, conforme a última pesquisa de intenção de votos divulgada pelo Ibope no mesmo dia, a ex-senadora acreana se mostrou tranqüila e respondeu com segurança a todas as perguntas, até mesmo àquelas que questionavam a sua ligação com empresários e banqueiros às voltas com problemas na Receita Federal. Deu a impressão, no entanto, que, se eleita, poderá governar com figuras carimbadas do neo-liberalismo do governo FHC.
O debate entre os candidatos, sempre uma excelente oportunidade para uma avaliação do eleitorado sobre os aspirantes ao Palácio do Planalto, poderia ter sido melhor e mais produtivo se não fosse prejudicado por dois aspectos: primeiro, a presença de candidatos sem nenhum preparo ou qualquer chance de ser eleito, como o pastor Everaldo, do PSC; Levy Fidelix , do PRTB; e Eduardo Jorge, do PV, que atrapalharam, por exemplo, Luciana Genro, do PSOL, cuja participação poderia oferecer maior contribuição para o debate; e, segundo, a montagem de um esquema que transformou a presidenta Dilma no alvo de todos.
Até os jornalistas do Grupo Bandeirantes, que deveriam comportar-se com isenção na condução das perguntas, foram passionais: eles faziam a pergunta a um candidato mas o seu endereço era a Presidenta. Na verdade, levantavam a bola para os adversários de Dilma, em especial Aécio e Marina, que só tinham o trabalho de cabeceá-la para o gol. E eles souberam muito bem aproveitar a deixa com inteligência. No final Boris Casoy reconheceu que Dilma foi a grande “vidraça”, contra quem todos lançaram pedras, inclusive ele e seus colegas. Ninguém perguntou, por exemplo, sobre o aeroporto familiar construído por Aécio com dinheiro público e nem sobre a situação irregular do jato que transportava os candidatos do PSB.
O candidato do PSDB, Aécio Neves, embora com bom desempenho e até certo ponto corajoso na medida em que assumiu a sua admiração pelo ex-presidente Fernando Henrique, cometeu dois erros graves que devem lhe custar a perda de muitos votos e sua permanência no terceiro lugar: primeiro, escolheu a adversária errada para bater, pois quem lhe tomou o segundo lugar na corrida sucessória foi Marina e não Dilma; e, segundo, em outra atitude ousada anunciou o nome de Arminio Fraga como o seu ministro da Fazenda, caso venha a ser eleito, hipótese cada dia mais remota. Isto porque Fraga, reconhecido por todos por suas estreitas e antigas ligações com o capital estrangeiro, integrou o governo de FHC com uma atuação muito criticada, tendo sido inclusive um dos incentivadores das privatizações.
Aliás, num dado momento dos debates, o candidato tucano deixou escapar a sua intenção de promover privatizações. Os nanicos pastor Everaldo e Fidelix também escancararam a disposição de privatizar tudo, mas eles não contam porque – ainda bem – não tem a mais remota chance de vencer o pleito. Ainda assim vale registrar o exagerado otimismo do pastor, que insistia em dizer “no meu governo” e chegou até a afirmar que a partir do dia primeiro de janeiro, quando assumiria a Presidência da República, tomaria determinadas providências, etc, etc. Muitos dos presentes tiveram que segurar o riso.
Ainda não se pode avaliar os efeitos positivos ou negativos do debate junto ao eleitorado, porque a audiência ficou aquém do esperado, mas se alguém conseguiu sensibilizar indecisos e atrair votos só existem dois candidatos que, pela sua performance, podem ter realizado esse feito: Marina Silva e Dilma Roussef. De qualquer modo, a esta altura ninguém mais tem dúvidas de que haverá segundo turno, com as duas mulheres disputando o cargo. Difícil agora, considerando o novo cenário eleitoral criado com a morte de Eduardo Campos e a entrada em cena de Marina Silva, é fazer um prognóstico sobre qual das duas será eleita, mesmo com o Ibope apontando uma vitória da ex-senadora acreana. Isto porque ainda temos mais de um mês de campanha, período em que muita água ainda vai correr por baixo da ponte. E ninguém pode prever a possibilidade de surpresas.
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
AABA despejada
Até o dia 30 de setembro próximo a Associação dos Aposentados do Banco da Amazonia (AABA) terá de deixar o prédio-sede da Caixa de Aposentadoria Complementar dos Funcionários do Basa (CAPAF), situado na avenida Generalíssimo Deodoro, em Belém. O despejo decorre de uma decisão judicial favorável a uma ação movida pela CAPAF, em represália à posição dos aposentados e pensionistas, por terem rejeitado um plano prejudicial aos seus interesses. A AABA vai se mudar para um prédio, situado na Travessa Presidente Pernambuco, adquirido na gestão de Francisco Erse e onde o atual presidente Agildo Monteiro pretende disponibilizar para os velhinhos, além de áreas de lazer, uma academia de ginástica, uma sala de massagens e um curso de informática. Para isso já está promovendo uma reforma no velho prédio. Diz um velho ditado: “Há males que vêm para o bem”.
Vindita
A propósito do despejo da AABA, o jornalista Francisco Sidou mandou-me o seguinte artigo:
"Lamentável ,sobretudo, é a falta de compreensão e diálogo de parte da direção do Banco da Amazônia em todas as questões relacionadas ao seu Fundo de Pensão, a CAPAF, seus aposentados e pensionistas. Lembro que essa questão foi levantada pelo ex-presidente Sales durante reunião do Conselho Deliberativo da CAPAF, do qual participava como membro eleito pelos assistidos (aposentados e pensionistas). Reconheci que a propriedade das instalações ocupadas pela AABA era da CAPAF, mas apelei para uma solução negociada, que evitasse essa medida extrema do despejo contra colegas que dedicaram toda uma vida laboral ao Basa, contribuindo com sua força de trabalho para o fortalecimento daquela instituição. Contra o meu voto, o Conselho, dominado em sua maioria pelos conselheiros "eleitos" pelo Patrocinador, decidiu que a questão era de caráter executivo, não deliberativo e que, portanto, deveria ser resolvida pela Diretoria Executiva da CAPAF. Era a senha para a execução sumária da sentença de morte contra a Associação dos Aposentados e Pensionistas. Sabem por que ? Pelo fato de que a AABA, já sob o comando dos ilustres colegas Agildo Monteiro, Sirotheau e Alpheu, havia ingressado em juízo na legítima defesa de seus associados contra a implantação goela abaixo dos novos Planos Saldados (salgados) da CAPAF, elaborados por uma Consultoria Internacional, com o principal escopo de subtrair direitos adquiridos pelos aposentados e pensionistas, vítimas de verdadeira campanha de achaques e assédio moral, justamente na fase outonal de suas vida. E também com o perverso propósito de jogar para debaixo do tapete da omissão o lixo gerado pelas responsabilidades de gestão e de omissão do patrocinador do Fundo de Pensão, o próprio Banco da Amazônia. Trata-se de uma espécie de vindita contra os "velhinhos" (que resistiram bravamente ) , pois a Ação da AABA contra a implantação dos novos Planos da CAPAF foi vitoriosa em todas as instâncias e deverá descer brevemente para execução. A vitória final virá como bençãos de Deus na vida já atribulada dos aposentados e pensionistas, às voltas com os achaques próprios da idade avançada e também pelas dificuldades de ordem financeira para se manter vivos e ainda prover suas famílias do sustento e de um mínimo de dignidade. Os senhores do destino do eixo Basa/Capaf e poderosos de plantão, com atos de gestão autoritária e demonstrações explícitas de intolerância e soberba, talvez nunca tenham lido a maldição do Profeta Isaías : "Ai daqueles que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo, a fim de despojarem os idosos, as viúvas e os órfãos !" (Isaías, 10.1.2.) . Sábias e proféticas palavras que continuam vivas e atuais, por serem fiéis e verdadeiras" .
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
Anjo ou demonio
A entrada de Marina Silva na corrida sucessória presidencial, como decorrência do trágico acidente que matou Eduardo Campos, representou de imediato a garantia do segundo turno, motivo porque sua escolha para substituir o ex-governador pernambucano como cabeça de chapa recebeu o incentivo e o incenso da chamada Grande Imprensa. Um colunista chegou a dizer que seria burrice do PSB a sua não homologação como candidata. Até o tucano Aécio Neves, que vinha patinando no segundo lugar, defendeu a candidatura da ex-senadora acreana, convencido de que ela era a única esperança para levar o pleito para o segundo turno. E se desencadeou então, de imediato, uma gigantesca pressão para ungi-la representante do partido socialista nas eleições presidenciais de outubro.
Com menos de uma semana após a unção de Marina como candidata, porém, a Grande Mídia – e mais particularmente a cúpula tucana – constatou o que analistas isentos já haviam antecipado: a presença da ex-seringueira no páreo, embora provocando o segundo turno, causaria mais prejuízos à candidatura do PSDB. E na primeira pesquisa de intenção de votos ela já ultrapassava Aécio no que foi classificado como “empate técnico”, acendendo o sinal amarelo de perigo no arraial tucano, cujas lideranças fizeram uma reunião de emergência para avaliar a inesperada situação e estudar uma nova estratégia capaz de impedir o senador mineiro de cair para o terceiro lugar. E o resultado dessa reunião já se fez sentir no final de semana: a Grande Imprensa começou a desqualificar Marina como candidata à Presidência da República.
De repente, quase como num passe de mágica, Marina passou de anjo a demônio, justamente por se transformar no maior obstáculo à pretensão tucana de conquistar o Palácio do Planalto. E momentaneamente a Grande Mídia esqueceu a presidenta Dilma Roussef para concentrar seu fogo na ex-senadora acreana, a adversária a ser batida agora para desobstruir o caminho de Aécio Neves. Resultado: todos os veículos que integram a Grande Imprensa dedicaram grandes espaços em suas edições do fim de semana para bombardear a substituta de Eduardo Campos, acenando inclusive com a ameaça de impugnar a sua candidatura por conta da nebulosa propriedade do jato que matou o ex-governador pernambucano.
Em reportagem de capa a revista “Veja”, depois de insinuar ser Marina uma miragem, destaca o que considera seus pontos fracos: oposição ao agronegócio e à construção das hidrelétricas do rio Madeira e Belo Monte, além de uma postura de dona da verdade. A matéria aborda ainda o racha no PSB, com a debandada de vários aliados de Eduardo Campos, afirmando que ela “tem a ineficiência como efeito colateral”. O redator-chefe da revista chegou a dizer que das condições para chegar ao poder ela só tem uma, o carisma, que não é suficiente para conquistar o Palácio do Planalto. A revista “Época”, por sua vez, investigou a situação do jato que a conduzia com o candidato do PSB em suas andanças pelo país e concluiu que a nova candidata do partido cometeu crime eleitoral ao usar um avião fantasma em sua campanha, sem nenhum registro junto à Justiça Eleitoral.
O “Estado de São Paulo”, em seu editorial, depois de acusar os “marineiros” de pretenderem se apropriar do PSB, afirma que Marina “está longe de representar o legado de Eduardo”. O jornalão paulista lembra o racha que ela já provocou nos arraiais pessebistas e acrescenta: “É provável que o personalismo de Marina - que a sua aureolada imagem pública esconde - dê origem a novos atritos, em prejuízo do engajamento dos antigos eduardistas”. Após destacar que
“procedem as dúvidas sobre como se haverá no poder uma pessoa que dá motivos para crer que se julga eleita por Deus”, o “Estadão” conclui afirmando que “Marina presidente é prenúncio de uma crise depois da outra”. Em outras palavras: ela serve para levar o pleito para o segundo turno mas não para governar o país.
Não é, porém, apenas a Grande Imprensa que se esforça agora para afastar a ex-seringueira do caminho do candidato tucano à Presidência da República. O próprio Aécio Neves, que logo após o acidente com o jato que matou Eduardo clamava pela escolha de Marina para substituí-lo na corrida sucessória, agora decidiu também voltar seus canhões contra ela. Em pronunciamento no Ceará, referindo-se à questão da situação do avião, disse que "todos os homens e mulheres públicos têm que estar preparados para responder sobre tudo, a qualquer tipo de indagação. Esse é um problema sobre o qual o PSB vai ter que responder". E Tasso Jereissati, candidato tucano ao Senado, que o acompanhava, acrescentou: "Se o caso do avião pegar em Eduardo, pega em Marina também".
Parece fácil concluir que a partir de agora vão todos concentrar o fogo no caso do avião, cuja situação está sendo investigada pela Policia Federal, pois imaginam que pode estar aí a solução para tirar Marina do páreo. O jornal “Folha de São Paulo” publicou reportagem sobre o tema e ouviu uma especialista em direito eleitoral, Kátia Kufa, presidente do Instituto Paulista de Direito Eleitoral, que disse, entre outras coisas, que “se os gastos com o avião não forem declarados, isso pode configurar omissão de despesas e o candidato pode responder a uma ação por abuso de poder econômico”, com a conseqüente cassação da candidatura da ex-senadora acreana. Marina, portanto, acabou se tornando agora o principal alvo da Grande Midia. Seu erro: intrometer-se no caminho do candidato tucano.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Preocupações
É voz corrente que o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, iniciado no dia 19, será de importância vital para a presidenta Dilma Roussef mostrar aos eleitores as realizações do seu governo e os seus projetos para um segundo mandato, já que não conta com a boa vontade da chamada Grande Imprensa, que há tempos está empenhada em destacar apenas os aspectos negativos da sua administração. Por isso mesmo, alguns analistas políticos entendem que esse espaço na TV e rádio contribuirá, decisivamente, para o seu crescimento nas próximas pesquisas de intenção de votos, consolidando sua posição de liderança na corrida sucessória.
Já preocupada com essa perspectiva, que contraría a sua cruzada antipetista e pode anular pelo menos parte da sua campanha sistemática contra o governo, a Grande Midia começou a se articular para desqualificar a lei que estabeleceu a propaganda gratuita, embora o seu desejo fosse mesmo extingui-la. Isso ficou bem claro no editorial da “Folha de São Paulo”, sob o título de “Propaganda Enganosa”, em que – pasmem! – se revela preocupada com os gastos dos partidos com a produção dos programas eleitorais, os quais considera inócuos no seu objetivo de oferecer aos candidatos a oportunidade de tornarem-se conhecidos e levar suas propostas ao eleitorado.
Depois de classificar de “famigerados” os blocos inseridos nos horários destinados à publicidade eleitoral, o jornalão paulista disse, em seu editorial, que “nesse modelo corre-se o risco nada desprezível de que, a depender apenas da propaganda eleitoral, os cidadãos pouco saibam a respeito dos programas de governo de cada um dos candidatos”. E acrescenta: “Os grandes blocos de propaganda poderiam ser mais curtos, já que sua produção é cara e sua eficiência menor que a das pequenas inserções”. No final deixa cair a máscara e revela claramente o seu objetivo: “Seria oportuno rever o caráter obrigatório da publicidade”. Ou seja, sem obrigatoriedade nenhuma emissora de TV abrirá espaço para a propaganda eleitoral gratúita.
O editorial da “Folha” deixa evidente o temor da Grande Imprensa diante da perspectiva favorável à presidenta Dilma Roussef, proporcionada pelo horário eleitoral gratuito, que dará a ela a oportunidade de levar ao povo a verdade sobre as realizações do seu governo e, com isso, lançar por terra todo o esforço desenvolvido pela máquina midiática oposicionista para desacreditá-la e derrotá-la nas eleições de outubro. É justamente a partir de agora, com a vigência do período da propaganda gratuita, que a mídia comprometida com a oposição intensificará sua ação, com a veiculação diária de notícias que possam subtrair votos da Presidenta. Basta acompanhar o noticiário, sobretudo da TV Globo em todos os seus noticiosos, para se constatar a intensidade do bombardeio, representado pelas reportagens sobre três temas sensíveis à população: saúde, segurança e educação.
A estratégia de combate é a seguinte: noticia-se diariamente, com imagens contundentes de hospitais e postos de emergência, os problemas, por exemplo, na saúde. E fala-se apenas em “hospitais públicos”, sem dizer que são estaduais ou municipais. O leitor ou telespectador faz automática associação com o governo federal, responsabilizando a presidenta Dilma pela situação. O mesmo acontece com a educação, com reportagens sobre escolas precárias no interior do país, também sem informar se são estaduais ou municipais, apenas citando que são “escolas públicas”. Sobre as escolas profissionalizantes, estas, sim, da alçada do governo federal, nenhuma linha ou imagem. Também escondem a melhoria da assistência médica com o programa “Mais Médicos”, que hoje atende mais de 50 milhões de brasileiros. E consolida-se, assim, a falsa idéia de que o Planalto não está fazendo nada.
O horário eleitoral gratuito, portanto, é hoje o único espaço de que dispõe a Presidenta para mostrar ao povo o que a Grande Midia esconde. Daí a preocupação, refletida no editorial da “Folha”, sobre a mudança que o programa pode causar na visão dos eleitores que até agora se deixaram influenciar pelo noticiário tendencioso. O horário eleitoral deverá, então, produzir reflexos já nas próximas pesquisas, que certamente oferecerão um novo retrato da realidade eleitoral no país.
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Inquérito??
Quem assistiu à entrevista da presidenta Dilma Roussef no “Jornal Nacional”, da TV Globo, nesta segunda-feira, ficou em dúvida se ela estava realmente sendo entrevistada ou acusada: os apresentadores William Bonner e Patrícia Poeta pareciam muito mais inquisidores do que entrevistadores. Será que eles imaginaram que com essa postura, até certo ponto insolente (Patrícia chegou a colocar o dedo em riste quase na cara da Presidenta), sugeririam isenção? Será que alguém é capaz de imaginar que a Globo é isenta?
A iniciativa de entrevistar os presidenciáveis, com o objetivo de oferecer mais uma oportunidade ao eleitor para conhecer melhor os candidatos, seria uma contribuição muito importante para a consolidação do processo democrático no país se essa fosse realmente a intenção da emissora dos Marinho: o que eles queriam, porém, era causar constrangimentos à Presidenta com perguntas que pareceram mais peças acusatórias. Aécio Neves e Eduardo Campos, os primeiros entrevistados, na verdade foram meros coadjuvantes num espetáculo montado justamente para constranger Dilma num cenário de suposta isenção.
Ninguém precisa ser muito inteligente para perceber a posição político-partidária da chamada Grande Imprensa, da qual a Globo faz parte, em radical oposição ao governo da presidenta Dilma Roussef. A propósito, em recente artigo o presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, lembra que “muitos se esqueceram, outros nem souberam, mas a realidade é que a “grande imprensa” formulou com clareza um projeto de intervenção na vida política nacional”. E acrescenta: “Não é teoria conspiratória. Quem disse que os “meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste País, já que a oposição está profundamente fragilizada”, foi a Associação Nacional de Jornais, por meio de sua presidenta, uma das principais executivas do Grupo Folha”.
Na verdade, além do noticiário passional, que esconde o lado positivo do governo e destaca os aspectos negativos, os grandes veículos utilizam todos os meios possíveis para impedir a reeleição de Dilma, inclusive colunistas pouco afeitos à democracia que se mostram saudosos da ditadura e pregam, semcerimoniosamente, um golpe, ainda assombrados pelo velho fantasma do comunismo fora de moda. É o caso, por exemplo, de Arnaldo Jabor, um misto de cineasta e colunista com cara de maluco-beleza, que pertenceu à copa e cozinha de FHC e hoje faz parte da operação destinada a apear o PT do poder. Em sua mais recente coluna ele admite que as eleições presidenciais deste ano são “uma batalha entre democratas e não democratas”. Não parece difícil identificar os “não democratas” entre os que pregam o golpe, até porque ele próprio se confessa, nesse texto, entre os “alienados, os neoliberais, os direitistas, os vendidos ao imperialismo”.
Massacrado pela Grande Midia – o manchetômetro criado pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Rio de Janeiro revela em números a ação deletéria dessa oposição desleal e desigual – o governo da presidenta Dilma Roussef só conta agora com o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, iniciado nesta terça-feira, para restabelecer a verdade e levá-la ao conhecimento do povão. Não será uma tarefa fácil, já que desde praticamente o segundo ano do atual governo a Grande Imprensa vem fazendo a cabeça do eleitorado contra a sua administração. Uma verdadeira lavagem cerebral. E, por conta disso, algumas pessoas afirmam que não votam nela mas não apresentam nenhuma razão. Simplesmente dizem: “Não gosto dela”.
Os controladores da Grande Midia tem consciência do estrago que já fizeram, influenciando parte do eleitorado, mas ainda assim temem uma recuperação da Presidenta, que vem revelando uma tendência de crescimento nas últimas pesquisas de intenção de votos. Daí porque quase chegaram a festejar o trágico acidente que matou Eduardo Campos e trouxe Marina Silva para a frente dos holofotes, agarrando-se com unhas e dentes à ex-senadora acreana como tábua de salvação, capaz de levar o pleito para o segundo turno e até derrotar a candidata à reeleição. Eles apostam agora no fator Marina para catapultar Dilma do Palácio do Planalto, mas esquecem do peso do fator Lula, que promete decisiva atuação no horário eleitoral gratuito com inevitáveis repercussões em favor da Presidenta. As próximas pesquisas, portanto, já deverão dar novas indicações sobre os rumos da sucessão presidencial. É só uma questão de tempo.
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Novo quadro
A morte de Eduardo Campos provocou, além de uma comoção nacional, uma profunda transformação na corrida eleitoral para a Presidência da República. A primeira grande mudança foi a presença da sua vice, Marina Silva, no páreo sucessório, já praticamente ungida como sua substituta. A decisão do PSB, no entanto, só será tomada na próxima quarta-feira, quando também será escolhido o nome que a substituirá na chapa como vice. A grande conseqüência dessa mudança foi a certeza, agora, de que haverá segundo turno, pois até antes do trágico acidente as pesquisas apontavam uma vitória da presidenta Dilma Roussef já no primeiro turno. A maior reviravolta no quadro sucessório, no entanto, foi a possibilidade de um segundo turno com Marina e Dilma. Segundo a pesquisa do Datafolha, realizada após a morte de Campos e divulgada nesta segunda-feira, mesmo não tendo sido ainda homologada como candidata do PSB no lugar de Campos a ex-senadora acreana já ultrapassou o tucano Aécio Neves. De acordo com a pesquisa, Dilma manteve os 36% da última consulta e Aécio também permaneceu com os 20%, enquanto Marina obteve 21% das intenções de voto. Ou seja, e as eleições fossem hoje Marina iria para o segundo turno com a Presidenta. E o candidato tucano, que torceu abertamente pela escolha da ex-senadora acreana convencido de que sua entrada na corrida o beneficiaria na medida em que levaria o pleito para o segundo turno, agora caiu para o terceiro lugar. De qualquer modo, não se pode ainda fazer, com segurança, um prognóstico sobre o vencedor, pois tem muita água para correr por baixo da ponte. Afinal, o horário eleitoral gratuito só começa nesta terça-feira e ainda tem muito chão para os candidatos fazerem a cabeça dos eleitores.
Funemício?
Os funerais de Eduardo Campos em Recife, neste domingo, acabaram transformados num ato político. A julgar pelas imagens transmitidas pela televisão, o único que parecia realmente sofrer com a morte do ex-governador pernambucano foi o ex-presidente Lula que, visivelmente emocionado, chorou. Enquanto isso, a nova candidata Marina Silva sorria. Houve música e até foguetes. Será que, além de mudanças no panorama sucessório, a morte de Campos também mudou a maneira de se fazer funerais?
terça-feira, 12 de agosto de 2014
Falacia
O senador Aécio Neves foi o primeiro candidato à Presidência da República entrevistado pelo “Jornal Nacional”, da TV Globo, nesta segunda-feira. Ao contrário do esperado, os jornalistas William Bonner e Patrícia Poeta não refrescaram com ele, apertando-o com perguntas duras que o deixaram, durante os 15 minutos do tempo destinado à entrevista, com um permanente sorriso amarelo afivelado na boca. Ele praticamente não respondeu diretamente nenhuma das perguntas que lhe foram feitas, especialmente as relacionadas com o aeroporto que construiu na fazenda do tio,em Claudio, com dinheiro público, e, também, com a presença do ex-deputado Azeredo, acusado no processo do chamado mensalão mineiro, em sua campanha eleitoral. “É ele (Azeredo) quem está me apoiando”, disse o candidato tucano, como se isso o isentasse de contaminação na parceria. Sobre o aeroporto disse que a fazenda do tio é um “sitio” e que a pista era necessária para o desenvolvimento do município. Na verdade, o senador mineiro conseguiu habilmente enrolar as respostas, sem realmente dar qualquer indicação sobre o que pretende fazer caso seja eleito, o que frustrou os telespectadores. Resumindo: ele foi muito habilidoso nas respostas mas não conseguiu convencer ninguém.
domingo, 10 de agosto de 2014
A farsa da farsa
Acuado pela denúncia da “Folha de São Paulo” de que, quando governador de Minas, construiu com dinheiro público um aeroporto na fazenda do tio, o candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves, ficou meio tonto, como se tivesse recebido um cruzado de direita e, sem autoridade moral para continuar apontando o dedo acusador para a presidenta Dilma Roussef, começou a gaguejar quando alguém lhe perguntava sobre o fato. O mais ferino dos concorrentes da Presidenta, o senador mineiro reduziu a agressividade dos discursos e até o seu escudeiro-mor, o deputado Carlos Sampaio, sem argumentos para contestar a denúncia, preferiu classificá-la de “factóide”, como se fazer obra particular com dinheiro público fosse um simples “factóide”. Cômico.
Mas recentemente a revista “Veja”, que não mais se preocupa em esconder a sua preferência pelo tucano, publicou reportagem de capa, em tom de escândalo, oferecendo ao seu candidato munição para reagir ao bombardeio petista por conta do “aeroporto”. Sob o título de “Fraude na CPI da Petrobrás”, a revista denuncía uma suposta armação para esvaziar a investigação da mais importante empresa estatal do país: as perguntas teriam sido previamente apresentadas aos investigados que, também, teriam sido treinados para dar as respostas. Apesar da tonalidade de escândalo emprestada à denúncia, na verdade tudo não passa também de uma armação, que desmorona a uma simples pergunta: a oposição também participou da fraude, igualmente dando conhecimento prévio das suas perguntas?
Sim, porque para que o trabalho da CPI se caracterizasse como uma farsa seria necessário que os oposicionistas que a integram também estivessem combinados com os governistas para o teatrinho. De outro modo, não existe farsa, porque a oposição pode perguntar o que bem entender fora de qualquer suposta lista de perguntas previamente elaboradas. Por outro lado, alguém pode argumentar: não havia oposicionistas na comissão. Pior ainda: se eles não pretendiam investigar a Petrobrás por que fizeram tanto barulho na mídia por causa da compra da refinaria de Pasadena? Por que não estavam nas reuniões da CPI? E por que fazem tanto barulho agora, depois de se recusarem a compor a comissão?
Segundo a revista existe 20 minutos de gravação de um suposto vídeo, gravado não se sabe por quem com a ajuda de uma caneta-espiã, onde uma conversa revelaria a fraude. Com tanto tempo gravado, pergunta-se: por que a revista só transcreveu as falas do José Barrocas, chefe do escritório da Petrobrás em Brasilia? O resto não interessava ou só as palavras de Barrocas se revelaram interessantes para os seus objetivos políticos? O vídeo, ao que parece, teria sido editado. Mas a irresponsabilidade da “Veja” na publicação de matérias como essa, sem nenhuma preocupação com os danos que podem causar à reputação alheia e onde é visível o esforço para incriminar a Presidenta, inclui a sua ilustração com fotos de pessoas supostamente citadas, as quais passam a ser vistas pelo leitor com desconfiança, mesmo sem ler o texto.
A “Veja”, que justamente por conta das suas matérias tendenciosas vem perdendo credibilidade e leitores, escreve na capa: “Uma gravação mostra que os investigados receberam perguntas dos senadores com antecedência e foram treinados para responder a elas”. Esse texto inclui todos os senadores que integram a CPI na suposta farsa e, também, contradiz o conteúdo da reportagem, segundo a qual apenas Nestor Cerveró teria sido “treinado” para responder as perguntas e não todos os investigados. Esse Cerveró, pelo visto, já pode ser convidado para trabalhar em novelas, pois consegue decorar fielmente o texto com as respostas que deveria dar. E os seus treinadores estariam aptos a abrir uma escola de teatro, tamanha a eficiência do seu trabalho com o ex-diretor da Petrobrás.
O mais pitoresco de tudo isso é o esforço dos tucanos para ampliarem o “escândalo” que, na opinião do candidato Aécio Neves, é “gravíssimo”, ao contrário do caso do aeroporto. O seu escudeiro –mor, Carlos Sampaio, que também comanda o departamento jurídico da campanha tucana e, sob qualquer pretexto, vive entulhando a Justiça de ações contra os adversários – como se o Poder Judiciário só estivesse à sua disposição – já providenciou representações de todo tipo contra os supostos envolvidos e até um pedido de cassação de mandato de dois senadores governistas. E ninguém se espante se o líder da bancada do PSDB na Câmara Federal, deputado Antonio Imbassahy, já não estiver recolhendo assinaturas para a criação de uma CPI da CPI.
Depois de uma leitura atenta da reportagem de “Veja” constata-se, sem muita dificuldade, que tudo não passou de uma grande farsa da revista, sem força de denúncia justamente pela sua banalidade, pela falta de elementos com esse poder e com objetivos bem definidos: minar a reeleição de Dilma. Prova disso é que os demais veículos de comunicação de massa, em especial as emissoras de televisão, não levaram a matéria a sério e não lhe deram importância. Conclui-se, daí, que a “Veja” está brincando de fazer jornalismo e o PSDB brincando de fazer política. Será que eles pensam que assim conquistarão a Presidência da República?
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Dino na frente
Se as eleições fossem hoje o comunista Flávio Dino, ex-presidente da Embratur, seria eleito governador do Maranhão com 50,6% dos votos, segundo pesquisa do instituto Econométrica. O candidato do PMDB, Edson Lobão Filho, apoiado pela governadora Roseana Sarney, teria apenas 31% dos votos. A pesquisa foi realizada em 57 municípios maranhenses entre os dias 26 e 31 de julho, quando foram ouvidos 1005 eleitores. Ainda de acordo com a pesquisa, o candidato tucano ao Senado, Roberto Rocha, lidera a corrida para o Senado com 24,4% , vindo em segundo lugar o ex-ministro do Turismo, Gastão Vieira, do PMDB, com 18,9%. O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, afirmou que “eleger Flávio Dino governador do Maranhão é uma prioridade do partido, dever nosso para com o País".
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Telhado de vidro
A tranqüilidade do candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves, que parecia voar em céu de brigadeiro, acima das turbulências que volta e meia a Grande Midia provoca sempre que algo envolve o governo, acabou desde que a “Folha”publicou reportagem sobre o aeroporto que ele construiu na fazenda do tio-avô, com recursos públicos, quando foi governador de Minas. Habituado apenas a bater, o senador mineiro ficou tonto com as pancadas que começou a receber por conta da escorregadela de R$ 14 milhões. E, também, ficou sem autoridade moral para criticar os outros, o que abalou a sua campanha. As suas explicações não convenceram e teve início uma investigação oficial para apurar o “descuido”.
Masoquismo?
Tem alguma coisa estranha nas pesquisas de intenção de votos para o governo de São Paulo, recentemente divulgadas. Segundo o Datafolha se as eleições fossem hoje o governador Geraldo Alkmin venceria com 54% dos votos, deixando os seus adversários na rabeira. Muito difícil acreditar nesses números, considerando o sofrimento do povo paulista com a falta de água, resultado da imprevidência dos governos tucanos. O paulista seria masoquista para estar feliz com essa situação, ao ponto de querer manter Alkmin no governo do Estado? Será que alguém realmente acredita nisso?
Casa de mãe Joana
Afora atitudes isoladas de desagrado, como a do vice-presidente Michel Temer, que cancelou sua presença num evento promovido pelo banco no Rio de Janeiro, até agora o governo brasileiro não adotou nenhuma sanção contra o Santander, o banco espanhol que tentou interferir nas eleições presidenciais deste ano no Brasil, advertindo os seus clientes endinheirados, através de carta, sobre o perigo que a possível reeleição da presidenta Dilma Roussef representará para a economia. “Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas – diz textualmente a carta do Santander – um cenário de reversão pode surgir, o câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice Bovespa cairia”. Ou seja, o caos econômico.
A presidenta Dilma Roussef limitou-se, durante uma entrevista, a classificar a carta do banco espanhol de “Inadmissível” e “inaceitável”, sem acenar com nenhuma sanção pela interferência indébita. Será que em nosso país não existe nenhuma legislação em que a atitude do banco estrangeiro possa ser enquadrada, de modo a respaldar uma sanção legal? Se não houver, o Palácio do Planalto precisa urgentemente providenciar, junto ao Congresso Nacional, a votação de uma lei capaz de conter ações político-partidárias de instituições estrangeiras, do contrário o Brasil se transformará numa casa de mãe Joana, onde todo mundo se sente no direito de meter o bedelho.
A propósito, não deixa de ser surpreendente a posição do candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves, que apoiou a atitude do Santander. Essa posição já é um prenúncio do que poderá acontecer num eventual governo tucano: os banqueiros, incluindo os estrangeiros, voltarão a mandar e desmandar em nosso país, como aconteceu no governo de FHC. Por sua vez, o colunista Merval Melo, que tem se revelado um oposicionista fanático, também aprovou a atitude do Santander. Na sua opinião, é o governo que não pode “interferir numa empresa privada, impedindo que ela expresse sua opinião sobre a situação econômica do país”. Ocorre que não foi uma opinião sobre a economia, mas sobre a eleição, com evidente oposição à Presidenta. Nem houve nenhuma interferência do governo no banco.
Agora, imaginem se um banco brasileiro, com agência em Madri, tivesse a ousadia de opinar sobre as eleições espanholas, revelando sua preferência por um dos candidatos? Duvido que os espanhóis, incluindo os jornalistas, aprovassem semelhante interferência nos assuntos internos do seu país. No Brasil, no entanto, já estamos nos habituando a ver maus brasileiros, como Merval, a atuar contra o próprio país, como aconteceu no período da Copa do Mundo de futebol, quando torciam pelo fracasso do evento. Acho até que festejaram a goleada alemã sobre a nossa seleção, soltando foguetes e comendo churrasquinho, enquanto os verdadeiros brasileiros sofriam com a humilhante derrota.
O presidente do Santander, Emilio Botin, diante da repercussão negativa da carta do seu banco aos brasileiros de alta renda, pediu desculpas ao governo, responsabilizando um analista pelo fato e prometendo demiti-lo. Quem acredita nisso? A ser verdade o que disse o seu presidente o banco revela falta de organização, pois permite a um funcionário sem graduação tomar uma atitude dessas, em nome da instituição e de tamanha repercussão dentro e fora do país, sem o conhecimento dos seus chefes. O estrago, no entanto, já foi feito, com prejuízos para o próprio banco: o prefeito de Osasco, São Paulo, suspendeu o convênio que credenciava o banco espanhol a recolher os tributos e taxas do município, no montante de R$ 1,9 bilhão anual.
De qualquer modo, olhando pelo lado positivo, a atitude do Santander serviu para desnudar a sua verdadeira cara em relação ao governo da presidenta Dilma Roussef (até então o presidente do banco espanhol posava de amigo em suas visitas ao Planalto) e, também, a posição do candidato tucano Aécio Neves em relação aos banqueiros. Parece não haver mais dúvidas de que, no caso de um eventual governo tucano, os banqueiros voltarão a ser a classe mais privilegiada deste país, onde somente a partir da gestão de Lula os pobres começaram a receber atenção. E graças a esse episódio do Santander não ficou difícil perceber que todos os recursos estão sendo utilizados pelos adversários da Presidenta para impedir a sua permanência no Planalto.
domingo, 3 de agosto de 2014
Senilidade
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso parece que está mesmo senil. Empolgado com o papel de cabo eleitoral do candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves, que o retirou das sombras e o colocou diante dos holofotes, o ex-presidente já enxerga até ameaça à democracia caso a presidenta Dilma Roussef seja reeleita. Em artigo publicado neste domingo no jornal “O Estado de São Paulo”, FHC, que depois que deixou o Palácio do Planalto tem solução para todos os problemas do Brasil, falou sobre elevação da inflação, contas públicas, tarifas públicas e “falta de sentimento democrático” do PT. Não há dúvida de que ele acredita que o povo tem memória curta e já esqueceu a inflação de dois dígitos do seu governo, a multiplicação da dívida externa, o aumento das tarifas públicas e as privatizações que, além de entregar ao capital estrangeiro setores estratégicos do país, provocou o desemprego em massa dos brasileiros. Ele mesmo se pergunta: “Vejo fantasmas?” Pior: além de vê-los está com medo deles, talvez porque no fundo intui que o seu candidato, pilhado na construção de um aeroporto familiar com dinheiro público, ainda não conseguiu nem levar a eleição para o segundo turno.
Tem razão
O deputado André Vargas, que responde a processo no Conselho de Ética da Câmara Federal por ter viajado no jatinho do doleiro Youssef e corre o risco de ter o mandato cassado, lembrou neste final de semana que o caso da construção de um aeroporto em terras da família do candidato tucano Aécio Neves, com dinheiro público, é muito mais grave e, no entanto, ninguém pediu a cassação do mandato do senador mineiro. “Viajar num avião de empresário é muito menos sério do que pegar dinheiro do povo e construir aeroporto na fazenda do tio", criticou o parlamentar. Ele disse ainda que “se Aécio fosse do PT a oposição já teria pedido a cassação do mandato dele”. Isso é verdade. E mais: toda a mídia estaria caindo de pau nele. Nesse ponto o parlamentar tem toda razão: ele foi obrigado pelo PT a deixar o partido justamente por causa da repercussão dada pela mídia à sua viagem no jatinho. No entanto, além da mídia não ter dado ao caso do aeroporto o mesmo tratamento, o PT não agiu com severidade, pedindo a cassação do ex-governador mineiro por falta de decoro. E ninguém fez qualquer alusão ao fato de que o senador Álvaro Dias, que volta e meia está apontando o dedo acusador para os outros, também viajou no jatinho do doleiro.
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